Ataques no Mar Vermelho. Mudança de rota provoca receio de aumento de preço do petróleo

9 meses atrás 122

Houthi Military Media via Reuters

A intensificação dos ataques a navios comerciais no Mar Vermelho por parte dos rebeldes Houthis, a partir do Iémen, é suscetível de perturbar o comércio internacional marítimo. Nos últimos dias, várias companhias marítimas começaram a evitar um dos principais corredores comerciais, o que poderá fazer subir o preço do petróleo e de outros bens, alertam os especialistas.

O desvio de uma das rotas de fornecimento mais importantes do mundo tanto para o transporte de matérias-primas, nomeadamente de petróleo e gás natural liquefeito, como de bens de consumo é suscetível de provocar atrasos no fornecimento e de aumentar os custos, uma vez que redirecionar os navios para outras rotas comerciais representa um aumento de tempo, custos de combustível e de seguro para o transporte marítimo.

Na sequência dos ataques dos rebeldes Houthis a vários navios ao largo da costa do Iémen nos últimos dias, grandes transportadoras marítimas como a MSC (Itália/Suíça), Maersk (Dinamarca) ou a Hapag-Lloyd (Alemanha) anunciaram a suspensão temporária da navegação através do Mar Vermelho, delimitado a norte pelo Canal do Suez e a sul pelo estratégico Estreito de Bab al-Mandeb, que separa a Península Ibérica do continente africano. Também a gigante petrolífera britânica BP anunciou a suspensão de todo o trânsito no Mar Vermelho na segunda-feira. 

Desde o início da guerra entre o Hamas e Israel que os Houthis, movimento apoiado pelo Irão, declararam o seu apoio ao Hamas e têm como alvo dos seus ataques os navios que viajam para Israel. Nas últimas semanas os ataques têm-se intensificado através do lançamento de várias rajadas de mísseis e drones contra o sul de Israel, assim como contra navios com bandeira israelita ou propriedade de empresas de Israel. "A recente escalada de ataques imprudentes dos Houthis com origem no Iémen ameaça o livre fluxo do comércio, põe em perigo marinheiros inocentes e viola o Direito Internacional", afirmou segunda-feira o secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin.

A rota alternativa do Cabo da Boa Esperança
A rota do Mar Vermelho é considerada uma “autoestrada do mar” que liga o Mediterrâneo ao Oceano Índico e, consequentemente, a Europa à Ásia, e é responsável por 12 por cento do comércio mundial, segundo a Câmara Internacional do Transporte Marítimo (ICS, na sigla em inglês), sediada em Londres.

Todos os anos cerca de 20 mil navios passam pelo Canal do Suez, o ponto de entrada e saída a norte dos navios que atravessam o Mar Vermelho. 

"Atualmente, as mercadorias podem ser sujeitas ao custo adicional de uma rota mais longa", defendeu Paul Tourret, diretor do observatório da Indústria Marítima (ISEMAR), conta a agência France Presse (AFP).

Como alternativa a esta rota fundamental, os navios deverão passar à volta do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul de África, o que significa um aumento de “seis dias à viagem de um navio médio da Ásia para a Europa e poderia acrescentar entre 300 a 400 mil dólares ao custo do combustível”, salientou Andreas Krieg, professor no King’s College of London.

Uma das maiores companhias marítimas do mundo, a Maersk, anunciou na terça-feira que vai redirecionar alguns dos seus navios para esta rota, depois de na segunda-feira também a petrolífera BP ter optado por esta solução na segunda-feira.

“O que vai ser muito interessante é se os petroleiros continuarem a redirecionar-se e, obviamente, ontem vimos a BP começar a redirecionar alguns dos seus navios em torno do Cabo da Boa Esperança também”

, disse à BBC Radio 4 Richard Meade, editor-chefe do jornal de navegação Llyod’s List.

Apesar de até ao momento as alterações no preço do petróleo terem sido mínimas, tendo o preço subido um por cento na segunda-feira, e mantendo-se estável na terça-feira, com o crude de referência Brent a negociar a cerca de 78 dólares (71 euros) por barril, o desvio dos navios ameaça afetar mais do que o aumento do preço do petróleo. "É um mercado muito mais equilibrado que pode ter sérias implicações para a cadeia de abastecimento global", acrescentou Richard Meade.

De acordo com Paul Tourret, as mercadorias mais afetadas seriam “tudo o que se consome na primavera ou no início do verão”. No entanto, o atraso em toda a cadeia de abastecimento da indústria poderá causar outras dificuldades, nomeadamente os custos de combustível e de seguro para o transporte marítimo, como explicou à BBC Marco Forgiona, diretor-geral do Instituto de Exportação e Comércio Internacional: “Depois temos o problema de os navios estarem no lugar errado, os contentores estarem no lugar errado e temos o potencial de congestionamento nos portos e mais atrasos”.

A perturbação no comércio internacional marítimo levou os Estados Unidos a lançarem uma operação naval, apoiada por Reino Unido, Canadá, França, Itália, Bahrein, Noruega, Países Baixos, Seychelles e Espanha, para proteger os navios na rota do Mar Vermelho. "É por isso que hoje (segunda-feira) estou a anunciar a criação da Operação Prosperity Guardian", declarou o secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin.

Apesar do anúncio da criação de uma nova aliança de proteção marítima feita pelos Estados Unidos, os rebeldes Houthis do Iémen afirmaram esta terça-feira que não vão parar os seus ataques contra os navios comerciais no Mar Vermelho.

Ataques dos Houthis "não vão parar"

"Mesmo que os Estados Unidos mobilizem o mundo inteiro, as nossas operações militares não vão parar (...) independentemente dos sacrifícios que isso nos custe", declarou Mohammed al-Bukhaiti, um alto responsável Houthi, na rede social X. Al-Bukhaiti explicou que os ataques só cessarão "se Israel parar com os seus crimes e se os alimentos, os medicamentos e o combustível chegarem à população sitiada" na Faixa de Gaza.

O principal porta-voz dos Houthis, Mohammed Abdelsalam, concordou, afirmando também no antigo Twitter que os rebeldes iemenitas estavam a agir em "solidariedade com o povo palestiniano e contra o bloqueio da Faixa de Gaza".

"Não se trata de uma demonstração de força nem de um desafio a ninguém", afirmou, acrescentando que "a aliança formada tem por objetivo proteger Israel". O porta-voz dos Houthis considerou que "os povos da região têm o direito de apoiar o povo palestiniano (...) tal como a América, que se arrogou o direito de apoiar Israel".

c/ agências

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