O economista e professor universitário considera que o país define frequentemente o objetivo certo, “mas através da via errada”, pedindo uma alteração do paradigma para um foco no valor acrescentado.
Portugal necessita de exportar mais, mas com mais qualidade e valor acrescentado, sob pena de estimular as exportações brutas, mas sem criar riqueza para o país. O alerta é de Augusto Mateus, cujo estudo para a CCP – Confederação de Comércio e Serviços de Portugal advoga mais investimento público e privado canalizados com base numa análise focada no valor acrescentado, por oposição ao atual paradigma.
O professor universitário e economista considera que o país define frequentemente o objetivo certo, “mas através da via errada”, o que resulta numa abordagem pouco eficiente e eficaz. Como tal, importa focar no valor acrescentado que Portugal cria, abrindo mais a economia pela via das exportações e investindo em sectores estratégicos onde o sector empresarial tem um impacto líquido maior.
Pegando no exemplo do sector têxtil e vestuário, Augusto Mateus compara, em termos de valor acrescentado, com sectores vistos como mais importantes como a química ou eletrónica. O resultado é surpreendente: ao passo que estes últimos ramos têm um valor bruto consideravelmente superior, o valor acrescentado em função das exportações é menor. Mais: nos casos da química, eletrónica ou material de transporte, o peso dos fluxos brutos nas exportações é mesmo superior ao peso do valor acrescentado.
Isto significa que estes segmentos exportam bastante material importado, explica Augusto Mateus, o que dificilmente se traduz numa criação real de riqueza.
“É preciso construir uma nova maneira das empresas portuguesas ganharem dinheiro. O nosso problema não é esforço, trabalhamos mais e mais tempo; é uma questão de eficácia”, resumiu, falando numa história económica nacional em que a produção tende a “acabar demasiado cedo e a começar demasiado tarde”.
Para tal, a economia nacional tem de se abrir mais. Desde 1995, o grau de abertura subiu, reconhece o autor, passando de 21,2% de orientação externa em 1995 para 29,2% em 2018. Ainda assim, é preciso mais, com Augusto Mateus a pedir “que o país no seu conjunto perceba que tem de se ligar mais e melhor à economia mundial”.