Bach, Wagner e Goethe entram num bar...: Leipzig, bela e cruel

3 meses atrás 81

Leipzig, a bela. Maltratada décadas a fio, rejuvenescida e maquilhada no século XXI, uma cidade urgente para os que gostam de viajar e aprender. 

Portugal arrancou nesta pérola do leste alemão a caminhada no Euro24. O zerozero acompanhou a presença da seleção durante quatro dias, ocasião perfeita para falar de música e cultura a partir da perspetiva do próprio futebol. 

E mais ficou por revelar. Da Marktplatz, praça central, coração do Zentrum, estamos a dois passos de tudo. Do 'Ministério do Medo', casa dos horrores da Stasi, a extinta polícia política da defunta RDA, mas também do café mais frequentado por Goethe, o mais influente escritor alemão. Era no distinto Auberbachs Keller que o pensador marcava encontro com a inspiração.

A placa alusiva à fundação da federação alemã no 10 da Brunnenstrasse @zerozero

Os cafés desempenham uma função social determinante em Leipzig. As paredes de estilo severo escondem uma delicadeza que o olhar mais atento identifica. Há charme, há luxo, há bom gosto. O museu alusivo a Bach, outro dos filhos da terra, alberga um espaço exíguo, mas reconfortante. O melhor espresso da cidade, garantem-nos, é tomado ali. 

Apetece imaginar, de resto, Goethe e Bach numa mesa destes cafés, acompanhados por Richard Wagner, outro dos génios imortais criados por Leipzig.

Os 15 mil portugueses presentes no jogo contra a Chéquia passearam-se pela zona histórica, pelas fan zones, fizeram o percurso de três quilómetros até ao Zentralstadion (erigido em 1955 e fortemente reformulado para o Mundial de 2006), agora apelidado de Red Bull Arena, e terão provado as iguarias locais: a gose beer (cerveja da cidade), a rostbratwurst (salsicha típica) e o eisbein (joelho de porco).

Mas Leipzig é também futebol, ou não tivesse sido aqui que a DFB, a federação alemã, nasceu. Em 1900, no número 10 da Brunnenstrasse, os pais fundadores sentaram-se no restaurante Mariengarten e estabeleceram a primeira carta de intenções para instituir a entidade responsável pelo futebol germânico. 

124 anos depois, o sucesso é mais do que evidente. 

Leipzig exibe um luxo quase envergonhado @zerozero

O colosso Lokomotiv e as histórias checas

Três anos após esse ato fundador, Leipzig teve o privilégio de inscrever o nome do primeiro campeão nacional da Alemanha: o VFB Leipzig. A cronologia é complexa, mas entre fusões e refundações, o sucessor do VFB é o Lokomotiv e foi na casa dos amarelos e azuis que o zerozero passou umas horas na segunda-feira de manhã. 

Atualmente a competirem no quarto escalão, os homens da Locomotiva já eliminaram o Benfica da Taça das Cidades com Feira e foram finalistas da Taça das Taças em 1987. 

A herança do VFB Leipzig está no estádio do Lokomotiv @zerozero - Pedro Cunha

Esta visita a Leipzig teve, naturalmente, uma enorme influência checa. O primeiro oponente de Portugal tem a fronteira de casa a pouco mais de 100 quilómetros e preencheu uma boa parte do estádio. O confronto serviu de ignição para entrevistas a checos famosos do nosso futebol. 

Lubomir Vlk recordou os dias no FC Porto e uma história divertida com Pinto da Costa, Pavel Horváth revisitou o balneário campeão do Sporting em 2002 e Tomás Skuhravy foi localizado numa praia italiana onde faz de tudo um pouco: arruma espreguiçadeiras, trata do bar e salva pessoas no mar quando assim é preciso. 

O falecido Pavel Srnicek, um dos mais conceituados futebolistas na história do Beira-Mar, foi recordado por antigos colegas e a base de dados do zerozero ofereceu-nos ainda mais duas histórias: Plánicka, o herói checo do Mundial de 1934, e Daucik, o primeiro futebolista desse país a jogar no nosso país. 

As próximas paragens de Portugal são Dortmund e Gelsenkirchen. O zerozero lá estará para fazer o que melhor sabe: contar histórias, exibir vídeos, puxar pela memória e por números. Jornalismo. 

Ler artigo completo