Bancos preveem “ligeira diminuição na procura de crédito por parte dos particulares” até março

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Bancos estão a antecipar uma nova queda na procura de crédito da parte das famílias no primeiro trimestre de 2024. Os dados são do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito do Banco de Portugal.

O Banco de Portugal publicou o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito de janeiro 2024. A avaliação da oferta e da procura de crédito refere-se ao quarto trimestre de 2023 por comparação com o trimestre anterior, enquanto as expetativas dizem respeito ao primeiro trimestre de 2024.

Do lado da oferta de crédito, o inquérito revela que não houve alterações nos critérios de concessão de crédito a empresas e no crédito a particulares para aquisição de habitação mas foram ligeiramente mais restritivos no crédito ao consumo e outros fins.

Tudo devido à situação e perspetivas económicas gerais e, em menor grau, à qualidade creditícia dos consumidores e à tolerância a riscos que contribuíram ligeiramente para tornar os critérios de concessão no crédito ao consumo e outros fins mais restritivos.

Verificou-se ainda uma ligeira diminuição do spread nos empréstimos de risco médio concedidos a PME e nos empréstimos para aquisição de habitação, sobretudo nos de risco médio. No crédito ao consumo e outros fins, ligeiro aumento da restritividade associada ao montante do empréstimo.

O BdP aponta, no crédito a empresas e, sobretudo, no crédito a particulares para aquisição de habitação, a concorrência de outras instituições bancárias como fator que contribuiu para reduzir os spreads.

Houve também um ligeiro aumento na proporção de empréstimos a PME e nos empréstimos a particulares para consumo e outros fins com pedidos de empréstimo rejeitados.

Para o primeiro trimestre deste ano, as expetativas dos bancos, no que toca aos critérios de concessão, é que se mantenham praticamente inalterados no crédito a empresas e no crédito a particulares para aquisição de habitação e sejam ligeiramente mais restritivos no crédito ao consumo e outros fins.

Depois foi analisada a procura de crédito bancário. O inquérito revela que a procura de empréstimos por parte de empresas teve uma ligeira diminuição, nomeadamente por parte das PME e das grandes empresas, e sobretudo por empréstimos de longo prazo.

A contribuir para a diminuição da procura de empréstimos por empresas está o nível geral das taxas de juro e a redução das necessidades de financiamento do investimento. No caso das PME, o recurso à geração interna de fundos como fonte de financiamento alternativa
contribuiu ligeiramente para essa evolução, que foi compensada pelo aumento das necessidades de refinanciamento e renegociação da dívida, segundo o BdP.

Já no lado da procura de empréstimos por parte de particulares verifica-se uma avaliação heterogénea por parte dos bancos da qual resultou uma ligeira diminuição da procura de empréstimos para aquisição de habitação e uma ligeira diminuição da procura no segmento do consumo.

Também aqui o nível geral das taxas de juro e, em menor grau, a confiança dos consumidores e as perspetivas para o mercado da habitação contribuíram para reduzir a procura no segmento da habitação, que foi ligeiramente atenuada pelo aumento das necessidades de refinanciamento e renegociação da dívida.

Isto é, a evolução da procura por crédito para a compra de casa no ano passado foi ajudada pelas renegociações dos empréstimos por parte das famílias, como forma de mitigar a subida das taxas de juro.

No segmento do consumo, o nível geral das taxas de juro, a confiança dos consumidores e, em menor grau, o recurso a poupanças contribuíram para a diminuição da procura, segundo o inquérito.

Para o primeiro trimestre do ano, a expectativa dos bancos é que não haja alterações na procura de crédito pelas empresas, em resultado de avaliações contraditórias por parte dos bancos no segmento das PME e nos empréstimos de longo prazo. Mas os bancos preveem uma ligeira diminuição na procura de crédito por parte dos particulares.

O inquérito passou ainda por outros temas “ad hoc” de natureza não permanente.

Assim, sobre o financiamento a retalho e por grosso, nos últimos três meses houve uma ligeira melhoria do acesso dos bancos a financiamento através de depósitos de curto prazo, títulos de dívida de médio a longo prazo negociados por grosso, titularização de empréstimos a empresas e para aquisição de habitação e da capacidade de transferência do risco de crédito para fora do balanço.

Para os três meses de 2024, a perspectiva é de ligeira melhoria do acesso a financiamento através de depósitos de curto prazo e acesso a restantes fontes de financiamento a retalho e por grosso praticamente sem alterações.

Já sobre o impacto dos novos requisitos regulamentares ou prudenciais relativos a fundos próprios, alavancagem, liquidez ou constituição de provisões no total de ativos, dos ativos ponderados pelo risco e dos fundos próprios,  a banca diz que nos últimos doze meses “houve uma ligeira diminuição do total de ativos dos bancos e dos ativos ponderados pelo risco, nomeadamente de empréstimos de risco médio e de maior risco; ligeiro aumento de fundos próprios por via de lucros não distribuídos”.

No que toca ao impacto dos novos requisitos regulamentares ou prudenciais nas condições de financiamento, nos últimos doze meses, a banca diz que fez com se tornassem ligeiramente mais restritivas.

Por outro lado, não houve o impacto dos novos requisitos regulamentares ou prudenciais nos critérios de concessão de crédito nos últimos doze meses. Mas nos spreads aplicados pelos bancos provocou um ligeiro aumento nos empréstimos a PME e uma ligeira diminuição nos empréstimos a particulares para aquisição de habitação.

Para os próximos doze meses, o inquérito diz que da “avaliação heterogénea por parte dos bancos da qual resulta um ligeiro aumento do total de ativos, em particular dos ativos líquidos, e uma ligeira diminuição dos empréstimos de maior risco; condições de financiamento dos bancos ligeiramente mais restritivas; mas sem impacto nos critérios de concessão de crédito a empresas e a particulares e ainda um ligeiro
aumento dos spreads nos empréstimos a PME e a particulares para habitação e consumo.

A banca avaliou ainda o impacto dos rácios de créditos não produtivos (malparado) e de outros indicadores da qualidade do crédito. Assim, nos últimos seis meses houve um ligeiro contributo para tornar os critérios de concessão no crédito ao consumo e outros fins mais restritivos, relacionado com a perceção de riscos. Em sentido contrário, houve um ligeiro contributo para tornar os termos e condições no crédito à habitação menos restritivos, decorrente de menores pressões associadas a requisitos regulamentares ou prudenciais.

Para os seis meses seguintes, os impactos esperados são semelhantes aos reportados nos seis meses anteriores, “aos quais acresce um ligeiro contributo para tornar os critérios de concessão e os termos e condições no crédito a empresas mais restritivos, relacionado com a perceção e a tolerância a riscos”.

Sobre os critérios de concessão de crédito, os termos e condições aplicados a novos empréstimos e a procura de empréstimos para os principais setores de atividade económica a banca diz que nos últimos seis meses, os critérios de concessão de crédito foram ligeiramente mais restritivos para empresas das indústrias intensivas em energia e sem alterações nos restantes setores de atividade. Por outro lado reportaram que não houve alterações nos termos e condições e na procura de empréstimos para os principais setores de atividade económica.

Para os seis meses de 2024, são esperados critérios de concessão de crédito ligeiramente mais restritivos para as empresas do setor da construção de edifícios e atividades imobiliárias, em particular associadas ao ramo comercial;  e uma ligeira diminuição da procura de empréstimos por empresas das indústrias transformadoras, designadamente indústrias intensivas em energia, e do setor da construção de edifícios e atividades imobiliárias, tanto comercial como residencial.

Por fim, questionados sobre o impacto de alterações no excesso de liquidez dos bancos junto do Eurosistema, os bancos disseram que nos últimos seis meses não houve impacto nos critérios de concessão de crédito e nos termos e condições, assim como no volume de crédito concedido pelos bancos, e para os seis meses de 2024 a expetativa e que continue a não ter impacto.

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