Bastonário da Ordem dos Médicos. "Está à vista de todos que o SNS se degradou de forma exponencial"

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Em entrevista ao 360 da RTP3, na terça-feira, dia em que centenas de médicos e antigos responsáveis do sector da saúde subscreveram uma carta aberta em defesa do SNS e contra a atual proposta de revisão do Estatuto da Ordem dos Médicos, o bastonário disse esperar que os atuais padrões da formação da classe sejam preservados, assim como a salvaguardada da independência da Ordem.

A Assembleia da República vai analisar o decreto-lei que foi vetado pelo presidente da República, sendo que Marcelo Rebelo de Sousa "expressou as mesmas preocupações" referidas pela Ordem dos Médicos, fez notar Carlos Cortes.

"A atual revisão está a pôr em causa a Ordem dos Médicos", acentuou o bastonário.

"Está à vista de todos que o Serviço Nacional de Saúde se degradou de forma exponencial nestes últimos anos, em todas as suas vertentes", fez notar Carlos Cortes, para apontar uma "falta de visão que tem existido nos sucessivos governos" face ao sistema público. Trata-se, nas palavras do bastonário da Ordem dos Médicos, de "uma visão retrógrada".

"Eu quero é que se concretizem as mudanças e que os problemas que Serviço Nacional de Saúde está neste momento atravessar sejam atenuados ou desapareçam e a Ordem dos Médicos estará sempre disponível para colaborar, para salvar, para melhorar o Serviço Nacional de Saúde, a medicina de qualidade, a formação médica dentro do Serviço Nacional de Saúde", insistiu.As dificuldades em diferentes serviços de urgência mantêm-se neste início do ano. No Hospital Amadora-Sintra, alguns doentes urgentes só foram atendidos, na terça-feira, passadas 18 horas. Em Penafiel, o número de ambulâncias em espera atingiu as duas dezenas. E os bombeiros afirmam mesmo que, em alguns casos, o quadro é de "catástrofe".

"Tem que haver aqui um esforço de coragem para introduzir mudanças profundas".

Questionado sobre o cenário de urgências lotadas nos hospitais, o bastonário disse-se "bastante surpreendido e preocupado com a incapacidade de previsão do Ministério da Saúde".

"Todos nós sabíamos que o inverno ia acontecer no final do ano. Com o inverno vem o frio e, com o frio, vem necessariamente o aumento das infeções hospitalares, de doentes com patologias crónicas que descompensam sempre nesta altura e portante uma muito maior pressão sobre os serviços de urgência".

"Tendo em conta este conhecimento, tendo em conta que nós sabíamos, desde setembro, que vários médicos, muitos médicos, iam colocar a recusa a fazer centenas de horas extraordinárias e também esta pressão permanente e a falta de organização da rede de serviços de urgência, era absolutamente essencial existir um plano de resposta a este inverno. O plano que foi proposto é insuficiente", concluiu.

"Recuso-me a entrar nesta leitura de normalidade da situação, isto é, é normal acontecer. Eu não acho que seja normal acontecer. Eu acho que temos de estar preparados, temos de estar prevenidos, para que quando chega este período do inverno possa haver uma resposta adequada para as pessoas que, por um lado, necessitam efetivamente de um serviço de urgência possam ser atendidas atempadamente. Por outro lado, os doentes - e nós sabemos que são à volta de 50 por cento - que não necessitam de um serviço de urgência possam ser atendidos ou através da linha SNS24, nas soluções mais simples, ou noutras situações possam ser atendidos nos centros de saúde", sublinhou o bastonário.

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