Benfica com reforço policial e a aguardar reuniões com Governo e município

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Na noite de sábado para domingo 11 veículos ligeiros e três motociclos foram incendiados na freguesia, tendo ainda sido vandalizados dois edifícios, uma loja, mobiliário urbano e caixotes de lixo.

Os incidentes sucederam várias noites de tumultos registados na Área Metropolitana de Lisboa na semana passada, na sequência da morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP na Amadora.

Em declarações à Lusa, o presidente da autarquia de Benfica, Ricardo Marques, disse hoje que esteve no domingo reunido com os moradores afetados e com o comandante da 3.ª Divisão Distrital da PSP para se inteirar dos prejuízos e dar conta das providências que estão a ser levadas a cabo, explicando haver três linhas de orientação.

A primeira, de acordo com o responsável, tem a ver com o reforço da segurança na zona, através do policiamento de visibilidade e proximidade por parte da PSP e da Polícia Municipal, com dois agentes em permanência "para haver mais presença nas ruas".

"Os indicadores que temos até hoje, e também por parte da polícia, é que isto foi um fenómeno 'one shot', um fenómeno que aconteceu uma única vez e que dificilmente se repetirá pelo menos naquelas zonas", reconheceu.

Ricardo Marques explicou também que, considerando a conversa com a PSP e já estando a Polícia Judiciária a investigar o que aconteceu, "há alguns fatores que podem até indicar que nada tenha a ver diretamente com a contestação" pela morte de Odair Moniz.

Segundo o autarca, para incendiar as viaturas foram usadas muitas garrafas pequenas de dióxido de carbono (CO2). Isso, acrescentou, demonstra "um investimento avultado de quem fez o ato", pelo que não está afastado "que tenha sido alguém com questões pirómanas ou até motivações políticas para lançar mais alarme social".

Além das reuniões com moradores e com uma comissão social de freguesia com entidades que trabalham nos bairros sociais, Ricardo Marques pediu uma reunião com caráter de urgência com a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, com quem já falou no domingo.

"Existe uma petição em Benfica, desde há já mais de um ano, para colocação do sistema de videovigilância, salvo erro, em 26 pontos da freguesia. Falei ontem com o presidente de Câmara, pedindo-lhe que me receba com a maior urgência para também falarmos sobre este assunto e também o auscultei se havia a hipótese de o município de Lisboa criar uma linha de apoio, estas pessoas que foram lesadas", disse.

Apesar de reconhecer que é ao Governo que cabe a competência da instalação do sistema de videoproteção, Ricardo Marques considera que o município poderá "acelerar o processo".

Para o responsável, é fundamental dar um sinal de que os bairros residenciais como Benfica, onde moram 36.000 lisboetas, "não estão esquecidos e que não se coloca só a vigilância para turistas", pelo que irá aproveitar para, "com estes infelizes episódios, forçar a instalação da videoproteção".

"Aquilo que aconteceu foi um ataque sem explicação em espaço público. Infelizmente, nos últimos dias parece que todas as comunidades têm estes problemas ou têm pessoas com este tipo de comportamento. Não se pode generalizar. As comunidades que temos em Benfica estão bem estabelecidas, integradas, as pessoas trabalham, são sérias, não podem ficar conotadas", comentou.

Durante esta semana o autarca irá ter reuniões com freguesias próximas do município da Amadora -- Alfragide, Venda Nova, Falagueira e Águas Livres - "para delinear estratégias e valorizar estas comunidades" em conjunto.

"Aqui não há duas Lisboa e não há duas Amadoras, não há bairros bons e bairros maus, portanto, temos claramente de debater esta situação porque não é admissível existir esta clivagem e divisão", frisou.

Em Benfica ainda não há um valor total dos estragos, mas 11 veículos ficaram completamente carbonizados, outros dois com danos, e três motos foram também incendiadas, uma das quais no valor de 25 mil euros.

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado na madrugada de 21 de outubro, no Bairro Cova da Moura, também na Amadora, no distrito de Lisboa.

Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.

A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos, e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

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