Bugalho, futuro líder do PSD? "Vamos ver, primeiro tem de apresentar resultados", diz candidato a líder da JSD

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Entrevista a João Pedro Louro

21 jun, 2024 - 06:29 • Manuela Pires

João Pedro Louro, candidato único à liderança da Juventude Social Democrata, garante que estar fora do Parlamento não vai prejudicar a sua ação política e promete convencer o Governo a adotar a semana de quatro dias de trabalho.

Entrevista a João Pedro Louro
Ouça aqui a entrevista a João Pedro Louro. Foto: Diogo Rocha

Sebastião Bugalho pode chegar um dia a líder do PSD? Fez uma boa campanha para as eleições europeias, mas "vamos ver, primeiro tem de apresentar resultados", diz o candidato único à liderança da Juventude Social Democrata (JSD), João Pedro Louro, em entrevista à Renascença.

João Pedro Louro é o atual secretário-geral do líder da JSD. A poucos meses de fazer 30 anos, candidata-se a presidente da Juventude Social Democrata onde é militante desde os 16 anos.

Garante que estar fora do Parlamento não vai prejudicar a ação política e promete convencer o Governo a adotar a semana de quatro dias de trabalho. No início do ano, e em divergência com Luís Montenegro, saiu das listas à Assembleia da República por considerar que os jovens deviam estar mais representados na vida política.

O Congresso da JSD começa esta sexta-feira e termina domingo, em Lisboa, para escolher o seu novo líder, que substituirá Alexandre Poço.

João Pedro Louro tem 29 anos, é militante da JSD desde os 16 e é secretário-geral da Juventude Social Democrata. Esta é uma candidatura de continuidade?

Nessa perspetiva, sim, porque de facto, sou secretário-geral do Alexandre Poço há quatro anos, com muito orgulho, mas é também uma candidatura muito própria e com uma grande renovação na sua equipa, nomeadamente no que diz respeito às prioridades, porque é um projeto que conta com o país inteiro, um projeto de uma geração inteira.

Mas é candidato único e isso não pode ser visto como uma falta de renovação e vitalidade da JSD?

Rejeito essa perspetiva de que não existem quadros com qualidade para assumir funções de relevância na JSD. Vejo esta candidatura pelo meu empenho e o meu percurso político na JSD.

Por outro lado, este não é um projeto unipessoal, mas um projeto em que todos são bem-vindos, militantes e não militantes e dirigentes de concelhia da JSD, dirigentes distritais e deputados da JSD. É um projeto verdadeiramente agregador, porque eu entendo que só desta forma agregadora é que podemos efetivamente representar a juventude portuguesa e esse é o nosso objetivo.

"O presidente do PSD, quando iniciou funções, também não estava no Parlamento e hoje é primeiro-ministro"

Nas últimas eleições legislativas saiu das listas porque estava em um lugar não elegível. Era o número cinco em Setúbal e escreveu no Facebook: “Com maior ou menor compreensão, respeitarei sempre as decisões da direção nacional do meu partido. Mas na política, como na vida, há coisas mais importantes do que meros lugares". Se não era uma questão de lugares era o quê em concreto?

Eu discordei da estratégia seguida pela direção nacional, porque não era a minha estratégia. O meu objetivo era aumentar a representação da juventude portuguesa nos centros de decisão, porque hoje as novas gerações estão sub-representadas em todos os centros de decisão.

Não é só na Assembleia da República, mas é também no Governo, no Conselho de Estado, no Conselho Económico e Social. E por isso eu parti para essas eleições com esse objetivo, com essa visão clara de aumentar a representação. Essa visão não foi partilhada pela direção nacional, que eu respeito, e a direção nacional tem toda a legitimidade para fazer as escolhas que fez.

Está ultrapassada essa divergência?

Devemos olhar com naturalidade para a existência de certas divergências, porque só num partido que não é democrático é que não existe ninguém a divergir. Da minha parte, é um assunto encerrado.

JSD vai escolher novo líder em Congresso no final de junho

Mas não acha que era importante o líder da JSD estar no Parlamento?

Felizmente, a JSD tem um grupo parlamentar de quatro deputados com quem eu conto muito para dar voz aos anseios e preocupações das novas gerações. Da minha parte, não creio que isso belisca em nada o trabalho que pretendo fazer à frente da JSD, porque o trabalho e o papel da JSD para a juventude portuguesa não se esgotam na Assembleia da República.

Eu creio até que há males que vêm por bem, o facto de estar fora do Parlamento dá-me a oportunidade de estar no terreno e eu quero uma JSD próxima da juventude portuguesa por todo o país. O presidente do PSD, quando iniciou funções à frente do partido, também não estava no Parlamento e hoje é primeiro-ministro e, por isso, pode ser um bom presságio.

Já defendeu a necessidade de haver mais jovens em cargos políticos. O cabeça de lista da AD às europeias foi um jovem que acabou por perder as eleições. Foi errada a aposta de Luís Montenegro neste jovem independente?

Eu discordo profundamente. A AD teve uma derrota nas europeias, e não podemos esconder, mas há um dado muito positivo que sai destas eleições europeias, é que a Aliança Democrática cresceu em número de votos e cresceu muito ao contrário, ao contrário do Partido Socialista.

Relativamente ao Sebastião Bugalho, fez uma grande campanha nas eleições europeias, mostrou ser um grande ativo político. Não creio que tenha grande responsabilidade no resultado eleitoral e por isso eu já lancei o desafio ao Sebastião de que é bem-vindo a JSD, porque de facto, o único defeito que lhe posso apontar hoje é ainda não ser militante da JSD.

"É fundamental acelerar a implementação da semana de quatro dias"

E líder do PSD? Não acha que assistimos nesta campanha aos primeiros passos da construção de um novo líder do PSD?

Eu acho que é prematuro estarmos com esse tipo de especulações. Sebastião Bugalho foi um bom cabeça de lista, fez uma boa campanha eleitoral, agora foi eleito deputado ao Parlamento Europeu e, como qualquer pessoa que inicia funções no novo cargo político, tem de apresentar resultados. E por isso o futuro do Sebastião Bugalho pertence a ele. E vamos ver.

Na moção que leva ao Congresso defende a semana de quatro dias de trabalho. O Governo devia dar continuidade ao trabalho que o anterior executivo fez nesta matéria?

Eu creio que é fundamental acelerar a implementação da semana de quatro dias para conseguirmos atingir uma melhor e maior integração entre a vida pessoal e profissional. De facto, o projeto-piloto, que tem sido avaliado, tem tido bons resultados e, para mim, é certo que a minha geração não quer viver para trabalhar, quer trabalhar para viver.

É fundamental darmos mais qualidade de vida, até porque somos dos países que mais horas trabalha, mas não é por causa disso que somos um dos países mais produtivos e, portanto, não há uma relação direta entre a produtividade do país com o número de horas de trabalho.

Para nós, a implementação da semana de quatro dias de trabalho é sem dúvida alguma, uma prioridade …

Os deputados da JSD vão defender a semana de quatro dias no Parlamento?

É evidente que vai haver uma grande articulação com os deputados da JSD. Avaliaremos também junto do Governo, porque nos próximos dois anos vamos ser a voz da juventude junto do Governo e não o contrário. Não seremos uma caixa de ressonância do Governo nem do PSD, porque não é esse o histórico da JSD e, portanto, procuraremos, junto do Governo, justificar, influenciar e sensibilizar para a importância da semana de quatro dias de trabalho.

"Dia de reflexão pode por ser mais um dia de eleição e tentarmos assim combater a abstenção"

Outra das ideias que defende é o fim do dia de reflexão e introduzir a limitação de três mandatos consecutivos para os deputados, porquê?

Há um consenso generalizado na população portuguesa de que o dia da reflexão não tem uma única finalidade, ninguém precisa do dia de reflexão para decidir o seu voto e por isso entendemos que não faz sentido. Por outro lado, esse dia pode passar, por exemplo, por ser mais um dia de eleição e tentarmos assim combater a abstenção.

E a limitação dos mandatos?

A questão da limitação de mandatos é fundamental para assegurar a renovação necessária ao exercício de cargos públicos e para dar oportunidade às novas gerações de terem a voz e a representação que merecem.

Também nas autarquias defende mudanças?

Sim, houve uma alteração à lei para limitar os mandatos dos presidentes das autarquias. Mas o que acontece é que um presidente de uma autarquia só pode fazer três mandatos, mas um vice-presidente de câmara ou um vereador podem fazer os mandatos que quiser e isso não assegura a renovação.

A ideia é abranger todo o executivo …

Exatamente.

Por falar em dar lugar a outros protagonistas. Na Madeira, a maioria dos militantes da JSD não apoiou, nas últimas diretas, Miguel Albuquerque. O PSD venceu as últimas regionais, mas não consegue aprovar o programa. Miguel Albuquerque devia sair para permitir ao partido encontrar uma solução?

Em primeiro lugar, a JSD e o PSD são profundamente respeitadores da autonomia regional da Madeira e também dos Açores e por isso existe aqui um grande respeito pela autonomia.

A verdade é que Miguel Albuquerque foi a eleições internas e venceu e depois venceu as regionais. E eu acho que não há maior respeito que devemos ter do que o respeito pelo povo.

Mas não conseguiu maioria no parlamento para aprovar o programa de governo. O que pergunto é se nesta altura Miguel Albuquerque é um problema para o PSD?

Eu creio que Miguel Albuquerque não é um problema para o PSD porque ele e o PSD Madeira venceram as eleições regionais e, por isso, cabe aos vários partidos terem uma grande responsabilidade, aceitarem o resultado que saiu do ato eleitoral e procurarem, pela via do diálogo, chegar a um entendimento para haver estabilidade na Madeira.

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