Cancro da próstata: "Existe um tabu e até há piadas. As pessoas vão-se refugiando e fugindo"

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Saúde

04 out, 2024 - 16:32 • Luís Aresta

Uma corrida que serve para combater o cancro da próstata no Jamor, no dia 12, justifica a conversa com o urologista José Dias, diretor clínico do Instituto da Próstata.

Em Portugal, todos os anos há 6.000 novos casos de cancro da próstata. Apesar de estarem em linha com a média da União Europeia, os números são muito elevados e justificam o alerta dos homens para uma doença que pode acarretar complicações graves, se detetada tardiamente.

O urologista José Dias, diretor clínico do Instituto da Próstata, adverte para a importância de manter a população masculina informada sobre um tumor que tem no silêncio um dos maiores perigos.

“O cancro da próstata é o mais frequente entre os homens dos países ocidentais. Em Portugal há cerca de 6.000 novos diagnósticos por ano. Felizmente não é dos cancros mais mortais, mas, ainda assim, morrem anualmente em Portugal 1.800 a 2.000 homens devido a esta doença. Por isso, é muito importante as pessoas conhecerem a doença, saberem que ela não causa sintomas desde a fase inicial até fases avançadas, e que é tratável quando diagnosticada em fases precoces”, explica José Dias, numa entrevista à Renascença.

Com passagens por clínicas e hospitais de todo o mundo, autor de diversos livros e publicações de referência a nível nacional e internacional, o urologista não tem dúvidas em apontar o tabu como um grande aliado do cancro da próstata.

“Existe sem dúvida, até porque há piadas, fala-se do tema. Por um lado, as pessoas têm muito receio pelo tipo de diagnóstico que pensam que é necessário e feito de forma muito invasiva, o que não é verdade. Por outro lado, pelas consequências da doença e de alguns dos seus tratamentos, nomeadamente por afetarem a parte sexual. Portanto, as pessoas vão-se refugiando, vão fugindo, vão assumindo esse tabu e, umas vezes por vergonha, outras por medo, não procuram o seu médico assistente ou o urologista", reconhece.

José Dias sublinha que “a chave é o diagnóstico precoce. Se diagnosticada em fases precoces, as complicações não são tão evidentes, não havendo esse risco de problemas, nomeadamente do foro sexual, incontinência, etc., que existem nalguns casos em que a doença é diagnosticada em fases mais avançadas”.

Incidência elevada, com resposta “razoável” do SNS

Os números do cancro da próstata em Portugal acompanham a média europeia, mas José Dias aponta um factor diferenciador, face a países em que a terceira idade tem menor expressão.

“O que acontece é que temos uma população envelhecida e este tipo de tumor é mais frequente em idades mais avançadas. Se temos homens mais velhos, vamos ter necessariamente uma incidência elevada. No entanto, estamos dentro da média da União Europeia, ou seja, com números muito elevados”, refere

Face aos números da doença em Portugal – cerca de 2.000 mortos e 6.000 novos casos a cada ano que passa –, José Dias considera que o Serviço Nacional de Saúde “está a dar uma resposta razoável”.

O diretor do Instituto da Próstata explica que “houve uma altura em que não se falava tanto da doença, havia algum receio e dúvidas relativamente ao diagnóstico e consequências do tratamento ao ponto de se sugerir que não se fizesse rastreio”, observa.

E continua: “Hoje é assumido, até pela Comissão Europeia, que se deve fazer o rastreio do cancro da próstata, com análises anuais do PSA – uma análise muito simples ao sangue – para tentar diagnosticar a doença o mais cedo possível. O Serviço Nacional de Saúde e os médicos de família estão cada vez mais alerta para este problema”.

Dia 12, às 10H00, no Estádio Nacional: correr, caminhar, conviver.

O combate ao cancro da próstata passa pelo Parque Desportivo do Jamor, no Estádio Nacional, dia 12, às 10H00, com a 2.ª edição da Corrida da Próstata, para a qual o Instituto da Próstata conta com o envolvimento da Associação de Atletismo de Lisboa.

“É uma corrida solidária que, à semelhança da corrida da mulher para o cancro da mama, pretende ajudar a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata. As pessoas podem participar, correr ou caminhar. Vamos ter famílias, avós, netos”, explica José Dias.

O urologista revela que “a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata tem poucos recursos, por dificuldade de acesso a meios de financiamento e a fundos que possam ajudar a dinamizar a sua atividade. Todas as ações que possamos realizar para ajudar esta associação são bem-vindas”.

O valor das inscrições para a corrida de dia 12, no Parque Desportivo do Jamor, reverte 100% para a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata. As inscrições são feitas em corridadapróstata.pt.

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