Candidatos, surpresas e jovens craques: eis o Brasileirão 2024!

O Brasileirão 2024 arranca este sábado com o duelo entre os recém-promovidos Criciúma e Juventude. Com vários fatores de interesse num dos principais campeonatos da América do Sul, fomos à procura de perceber em que situação parte a corrida ao título, a missão dos treinadores portugueses ou os talentos que todos os anos despontam na elite do futebol canarinho.

Para tal, conversamos com Eduardo Massa e Rodrigo de Brum, jornalistas do irmão brasileiro do zerozero, O Gol, que nos elucidaram sobre as perspetivas mais relevantes deste começo de prova.

Candidatos ao título: favoritos e underdogs

Eduardo Massa: «O Brasileirão tem sempre algumas surpresas, mas tem dois clubes que têm dominado nos últimos anos: Flamengo e Palmeiras. O Flamengo com o Tite eleva muito o patamar. Era uma coisa que faltava ao Rubro Negro, estabilidade, poder defensivo. Fez uma campanha recorde no Campeonato Carioca, que normalmente não significa muita coisa, mas o desempenho defensivo era algo que sempre foi um problema para esse Flamengo de estrelas. O Palmeiras com a Abel Ferreira tem sido uma equipa muito constante e não deixa dúvidas que vai ficar nessa luta.

Surpresas? O Atlético Mineiro tem sido sempre uma força interessante nesses últimos anos, capaz de se manter competitivo lá em cima. O Fluminense é o atual campeão da Libertadores, obviamente, não pode ser descartado, mas vive uma temporada de transição com jogadores envelhecidos e outros destaques que provavelmente vão deixar o clube a meio da temporada. Não deixaria de ser uma surpresa se o Fernando Diniz conseguisse reinventar esse Fluminense a ponto de disputar o título.»

Rodrigo de Brum: «A cada 100 pessoas que forem questionadas, 99 vão dizer que são o Flamengo e o Palmeiras [os grandes candidatos]. Não vai fugir (à regra), mas, no Brasil, muito do ano é baseado até onde as equipas chegam na Libertadores, na Copa do Brasil e também de algumas vendas. Essas coisas podem ditar muito do ritmo do Brasileirão. Se uma equipa se vai focar até ao fim, ou se vai largar a meio do campeonato. Por plantéis, acho que só duas equipas conseguem conciliar mais que uma competição: Flamengo e Palmeiras. Isso para mim é indiscutível.

Coloco o Atlético Mineiro na briga, como terceira equipa. Têm o Hulk, foram buscar o Scarpa, que no campeonato brasileiro sempre funcionou muito bem e fez anos incríveis no Palmeiras e livraram-se do Felipão, um treinador que já está ultrapassado desde há anos. Acho que o Grêmio tem alguma chance, mas também muito pela Libertadores, se chegarem longe, Renato Gaúcho é um treinador que abandona muito o Brasileirão. O underdog pode ser o Internacional, porque não disputa a Libertadores, têm um bom trabalho do Coudet e podem surpreender. Ainda assim, mesmo que Palmeiras e Flamengo disputem várias competições, estão à frente. Têm os dois melhores treinadores em atividade, os outros têm de correr muito atrás para conseguir chegar a esse nível»

A missão dos treinadores portugueses

Eduardo Massa: «Abel Ferreira é aquilo que já falamos. É hoje o técnico de maior sucesso no Brasil em atividade, obviamente, com o Tite de volta, tem rival à altura e que não tinha. A expetativa é que continue a lutar por tudo que disputar enquanto estiver no Palmeiras, porque é um bom técnico, tem um bom plantel e um clube com tradição e dinheiro.

«O Pedro Caixinha foi um técnico que cheguei a desconfiar. Em alguns momentos perdeu a mão do Bragantino, mas sempre com uma proposta ousada. Conseguiu dar a volta por cima e manter o Bragantino uma equipa competitiva com o apoio do Red Bull, ou seja, esse Bragantino apesar de ser um clube teoricamente mais modesto, tem um projeto maior por trás, que também eleva esse patamar. Do Bragantino espero que fique nos oito primeiros lugares, ou, pelo menos, dez primeiros.»

«Quanto ao António Oliveira é um técnico que soube crescer vindo da base. soube fazer bons trabalhos, soube esperar e quando teve oportunidade agarrou-a. É a oportunidade da carreira dele. Está a treinar o segundo clube mais popular do Brasil e o clube mais popular de São Paulo e, para um técnico habituado ao Cuiabá, é uma nova vida. O Corinthians começou o ano com Mano Menezes, maus resultados, um grupo confuso e com conflitos internos, uma mudança de direção e também com uma crise financeira. Vai ter que lidar com essa pressão.»

«Artur Jorge é praticamente um desconhecido no Brasil. Ao contrário de Bruno Lage e Luís Castro que treinaram clubes que no Brasil se acompanham de perto, o Artur Jorge não tem esse passado e há um pouco de desconfiança, por conta também do fracasso de Bruno Lage. Ao mesmo tempo, foi com Luís Castro que chegaram lá [ao primeiro lugar]. Há dois modelos de expetativa para o público alvinegro. E que Botafogo vai encontrar Artur Jorge? É um Botafogo que desde a saída de Bruno Lage não se encontrou. Hoje não se pode pôr a culpa nele. Já passaram outros técnicos e ninguém fica lá, a situação começa a ser caótica.

Rodrigo de Brum: «É importante pensar que, em algum momento, o Abel é um homem que vai sair do Palmeiras, acho! No Sporting, fala-se que o Amorim vai sair... mas, vamos contar que o Abel vai ficar até ao final: pelo menos mais um título o Palmeiras ganha.»

«Na época passada o Caixinha atingiu um nível que, para mim, é o teto do Bragantino. Até a cinco jornadas do fim do campeonato, ainda tinham chances de ser campeões. O Botafogo teve aquela queda bizarra, algo jamais visto. Este ano, fiz aqui as minhas previsões e o Bragantino pode conseguir uma vaga na Libertadores, se for ali a sétima ou oitava vaga, mas dentro dos cinco primeiros, não vejo o Bragantino com essa chance.»

«O Corinthians é a maior incógnita. O António Oliveira tem o maior desafio da carreira, mas, ao mesmo tempo, é o pior Corinthians da última década. Em termos de plantel, é o mais fraco. É um clube com muitas dificuldades financeiras, tem alguns jogadores experientes, mas que já não entregam muito. O Paulinho vai e volta sempre com lesões, tem alguns jogadores jovens bons, trouxe alguns reforços pontuais. Um defesa equatoriano, um lateral colombiano... no ataque tem o Yuri Alberto, perdeu o Roger Guedes na reta final do ano passado. Não parece ter plantel para nada além da Sul-americana.»

«O Botafogo tenta repetir com o Artur Jorge o que conseguiu com Luís Castro. Perdeu em casa com o Junior Barranquilla, [joga agora com o LDU Quito] e começa já no olho do furacão... E o que acho curioso? Disseram-me que uma das dificuldades dele é o setor defensiva. O Braga jogava muito bem para a frente, mas defensivamente era uma equipa que não se apresentava bem. Qual era a queixa dos adeptos do Botafogo? Justamente a defesa. São 20 jogos na época e 19 golos sofridos. Mais que mudar de clube e país, vai ter de adaptar um sistema defensivo.» 

Potenciais surpresas 

Eduardo Massa: «O Internacional investiu muito alto nesta temporada e parecia ter montado uma equipa forte e competitiva, mas até agora não deu certo. Se conseguirem um grupo que funcione, pode voltar a lutar pelas primeiras posições. Fora isso, o Grêmio, com o Renato Gaúcho, foi campeão estadual e está sempre lá em cima. Só vai conseguir fazer algum sucesso no Brasileirão se tiver um bom início e se Renato Gaúcho não abrir mão da força máxima no campeonato. O Athletico Paranaense é um clube que pode fazer ser um concorrente ali entre os seis primeiros... Grêmio, Inter e Athletico Paranaense são equipas gigantes, mas num patamar de  investimento e organização desportiva abaixo dos candidatos»

Rodrigo de Brum: «O Internacional pode ser uma surpresa positiva na luta pelo troféu. O Atlético Paranaense acho que pode ser uma surpresa positiva na luta pela Libertadores. O título acho muito difícil, mas podem chegar ao top-4, top-5. Lá para baixo... são tudo equipas com orçamentos parecidos, sem grandes contratações, mas o Vitória, clube que foi campeão da Serie B, tem um treinado, o Léo Condé, que fez um trabalho incrível. Era um clube que esteve mais perto de descer para a terceira divisão do que permanecer na segunda. Fez um bom trabalho, acho que o Vitória pode ser uma surpresa positiva e talvez, quem sabe, escapar à descida»

Luta pela permanência

Eduardo Massa: «A sobrevivência, este ano, vai ser um pouco mais fácil para os clubes tradicionais. O ano passado foi muito atípico. Esta época, já temos clubes com menor investimento, menos torcida, menos tradição e que vão sofrer mais. O Botafogo, o Corinthians e o Vasco só vão brigar contra a descida se não tiverem estabilidade ao logo do Brasileirão. O Cruzeiro tem de ter muito cuidado. Desde que voltou para a Série A, não tem sido a força que era antes, é uma equipa ainda à procura daquela constância da elite. Os principais candidatos a serem rebaixados são o Vitória, Juventude, Cuiabá, Criciúma e Atlético Goianiense.»

Rodrigo de Brum: «Na luta contra a descida coloco o Atlético Goianiense, o Criciúma e o Cruzeiro, que acabou de demitir o treinador. O Ronaldo [Fenómeno] "não tira o escorpião do bolso", não investe e a torcida do Cruzeiro fica preocupada. O Cuiabá, sem o António Oliveira, corre riscos bem grandes de cair para a Serie B. O outro clube é o Juventude, que está de volta, mas é um clube que está sempre entre a primeira e a segunda, em iô-iô.»

Talentos a ter em conta

Eduardo Massa: «É sempre difícil dizer antes deles surgirem, mas acho que vale a pena destacar o trabalho desenvolvido na academia do Palmeiras. Têm revelado jogadores de ponta - o Endrick já foi uma realidade no ano passado -, mas para destacar um nome tem de ser o Estêvão... O Santos está na segunda divisão, portanto não veremos meninos da Vila. O Fluminense tem alguns jovens que já o ano passado causaram impacto e têm um garoto novo chamado Kauã Elias, que está a gerar muita expetativa. O Flamengo também tem tradição na academia, mas com tantas estrelas é mais difícil vê-los em ação. Ainda assim, não será surpresa se surgir um nome como João Gomes, agora no Wolverhampton. Temos nomes que não estão no nosso radar e que vão surgir durante o Brasileirão. É inegável.»

Rodrigo de Brum: «O Estêvão, do Palmeiras foi incrível no Mundial Sub-17. É um extremo que joga pelo lado direito do campo, tem muito drible, tem bolas paradas, é um jogador muito acima da média, tem ganho mais oportunidades com o Abel, mas Palmeiras como tem um plantel muito qualificado tem de chegar e mostrar muito, que foi o que aconteceu com o Endrick. O ano passado muita gente criticou o Abel, porque o Endrick demorou muito a ser titular e a afirmar-se... só talvez em agosto ou setembro é que começou a jogar com maior frequência. Além do Estêvão, há ainda o Luís Guilherme, outro garoto da formação muito bom. O Grêmio tem um trinco... Ronald, o Vasco tem um jogador chamado Rayan, também é um atacante que parece ser bom, tanto joga no centro como nas extremidades e é por aí...