Caos na Copa América: quando a terra das oportunidades virou um pesadelo

2 meses atrás 73

Copa América 2024, sinónimo de caos, confusão e polémica. A prova viveu e deu palco a tudo aquilo que o desporto rei não deve ser ou representar. O futebol sul-americano jogou-se no norte da América - casa do próximo Mundial - e o resultado ficou à vista de todos.

Com o decorrer simultâneo do EURO 2024, é normal que o foco luso tenha incidido, sobretudo, na competição que diz respeito à seleção nacional. Contudo, como nada escapa ao zerozero, mergulhámos na realidade que o outro continente, também ele apaixonado por futebol, vivenciou este verão. Os factos, os episódios e as preocupações, tudo explanado nesta peça.

A gota de água

Here we go again.

The #CopaAmerica final pitch is hard, and seams are visible.

Hard Rock Stadium has a regular natural grass surface, but it was removed for a concert on July 6 and only reinstalled four days prior to today’s #ARGCOL match.

We’ll see how it holds up. pic.twitter.com/aaSuGE10GN

— Kyle Bonn (@the_bonnfire) July 14, 2024

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— Kyle Bonn (@the_bonnfire) July 14, 2024

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Here we go again.

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Hard Rock Stadium has a regular natural grass surface, but it was removed for a concert on July 6 and only reinstalled four days prior to today’s #ARGCOL match.

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— Kyle Bonn (@the_bonnfire) July 14, 2024

Antes de irmos a essa catástrofe pré-apito inicial - impensável, humilhante e marcante -, importa perceber o que correu menos bem antes disso - aquilo que, anteriormente e só por si, motivou críticas por parte dos protagonistas. Maus relvados e falta de segurança: os primeiros pontos no Livro de Reclamações.

Marcelo Bielsa foi o principal porta-voz do desagrado sentido pela generalidade dos intervenientes.

«Fizeram uma conferência de imprensa para mentir descaradamente. A responsável pelos campos [Maristel Kuhn] - sei quem é, conheço-a, conheço perfeitamente o que faz e o mal que faz - disse que era "uma questão visual"; que o Vini Jr. não vê, que o Scaloni não tem de falar e que os campos de treino estão todos perfeitos... Tenho uma coleção de fotos onde se vê que o relvado não está unido! Está todo remendado! Os responsáveis deviam ter ido aos campos dizer: "Desculpem, isto é inadmissível, não dá para treinar nestas condições". Mas claro, como isso afeta o organizador, não se pode dizer nem uma palavra...»

Para exemplificar, este foi o estado do relvado - não horrível, mas longe de estar perfeito - que acolheu o jogo mais importante da competição - imagine-se o estado dos campos de treino e dos restantes jogos. Foi reinstalado quatro dias antes da grande final, graças a um concerto que aconteceu no passado dia 6 de julho.

As críticas de Bielsa, que tirou tudo o que estava atravessado na garganta na conferência acima referida, continuaram e, de seguida, incidiram nos confrontos entre colombianos e uruguaios, vividos após a partida da meia-final da competição. 

O momento, por razões tudo menos felizes, ficou viral nas redes sociais. Sobretudo, o vídeo que envolveu Darwin Núñez, ex-jogador do Benfica, que subiu à bancada para proteger a família e, para isso, confrontou os adeptos da Colômbia.

«Nos EUA, entras na casa de outra pessoa e o "direito da proteção" existe, certo? Proporcionalmente, os dirigentes uruguaios tentam impedir que os adeptos cheguem perto deles [adeptos uruguaios] e o resultado é terem de voltar para o Uruguai antes que sejam presos. Onde é que já se viu isto? (...) Os futebolistas foram obrigados a fazer isto! A sanção não pode ser para os futebolistas; tem de ser para aqueles que os obrigaram a agir daquela forma! Deixaram-nos sem opção», rematou Bielsa, visivelmente enfurecido.

Desacatos nas meias, caos na final

Sabe, certamente, a que nos referimos, caro leitor. Em Miami, a partida decisiva, a mais importante de todo e qualquer torneio, agendada em primeira instância para as 01h00 da manhã - horas portuguesas -, tardou em começar. Na verdade, demorou pouco mais que uma hora e vinte minutos para soar o apito inicial.

Nas horas que antecederam à partida, centenas de adeptos tentaram entrar no estádio sem possuírem o bilhete para o jogo: uma situação nem vista no terceiro mundo. Entre a imoral ilegalidade e o desejo de ver história ao vivo, os adeptos tornaram visíveis as dificuldades organizativas de um país que, reforçamos, vai receber o Campeonato do Mundo de 2026.

Duas crianças em lágrimas antes do jogo @Getty /

Caos e detenções; um pânico a roçar a tragédia e, por fim, o inevitável adiamento. Longe de ser bonito, longe de ser espetáculo, longe de ser futebol.

Uma organização que menosprezou o fanatismo dos adeptos sul-americanos? Que não tem arcaboiço para acolher uma grande prova? Ou que se desprende de culpas face a estes atos ilegais? As conclusões não são exatas e dependem da interpretação de cada um.

Na reação imediata ao sucedido, a organização da prova - CONMEBOL - recorreu às redes sociais para «informar que os adeptos sem bilhete não podiam entrar no estádio». Uma informação pouco necessária e que, certamente, não terá acalmado as águas, qual poção milagrosa.

Mais tarde que o suposto, o jogo - que passou para segundo plano - realizou-se. Muito provavelmente, com mais pessoas no interior do estádio que o suposto. Outro chocante vídeo também se espalhou rapidamente pelas redes sociais. Dezenas de adeptos colombianos a tentarem entrar... pela ventilação do estádio. Uma forma pouco comum, ortodoxa e, logicamente, bastante perigosa.

O The New York Times esteve no local e falou com Mora Bendesky, adepta argentina que vive no México. Bendesky explicou que chegou ao estádio cerca de 90 minutos antes do esperado apito inicial e que por lá encontrou os portões fechados e dezenas de polícias armados; a adepta admitiu que sentiu medo quando deu por si e viu uma infindável quantidade de cabeças à sua volta. Ainda atirou a seguinte - e curiosa - frase: «A organização conseguiu 27 minutos de Shakira [cantora atuou no intervalo - maior do esperado, como pode verificar], mas não conseguiu scanear o meu bilhete.»

Mais registos da sufocante confusão @Getty /

Daniella Levine, a mayor - prefeita - do Condado de Miami-Dade, reagiu no dia seguinte à partida e mostrou-se indignada. Além disso, salientou que foram destacadas 550 polícias para o local, mais 300 do que para o Super Bowl de 2020.

Também um dia após a final, a polícia de Miami emitiu um comunicado sobre os desacatos pré-jogo e anunciou a detenção de 27 adeptos, incluindo o filho e o presidente da federação colombiana - atacaram, alegadamente, alguns seguranças no acesso aos elevadores. Além disso, retirou também 55 adeptos do interior do recinto e, por fim, prometeu mais segurança e preparação para o Mundial 2026.

É com este olhar para o futuro que findamos esta peça. 2026 - e o respetivo Mundial - está aí à porta. Estarão os Estados Unidos à altura do suposto, exigido e esperado, ou a terra das oportunidades, com cidades que nunca dormem, será um gritante caso de potencial desperdiçado?

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