Casa Branca mais perto para Trump

8 meses atrás 23

Foi dado o tiro de partida na corrida à nomeação republicana. Com Donald Trump em destacada vantagem, estas primárias não deverão trazer surpresas. A dúvida, no caucus do Iowa, não era se Trump ganharia, mas por quanto. A grande incógnita? O segundo lugar. Um lugar que, mesmo a grande distância do primeiro, podia ser importante para medir a temperatura de uma corrida em que o favorito nas urnas pode ser bloqueado pelos tribunais.

First in the nation 

Como sempre, foi no Iowa, First in the nation, que se reuniram mais de 1600 caucus. Os caucus são assembleias, no caso de eleitores republicanos, onde se debatem candidaturas. Do Iowa, onde os republicanos priorizam restrições ao aborto, segurança nas fronteiras e a produção de etanol, saem apenas 40 dos 1215 delegados necessários para ganhar a nomeação, que será oficialmente anunciada na Convenção Republicana de julho. Mas a energia do arranque pode ser decisiva, desde logo levando a desistências e novas alianças.

Para Ron DeSantis, Governador da Florida, o Iowa era uma questão de vida ou morte. Desde logo porque tinha assegurado uma série de apoios de peso, incluindo o da governadora Kim Reynolds, estrela em ascensão no Partido Republicano; depois porque tinha apostado fortemente no Estado, com o Super PAC Never Back Down. E estava bem posicionado para atrair o voto dos evangélicos, segmento eleitoral-chave para os candidatos republicanos.

E depois havia Nikki Haley. Haley é, para o bem e para o mal, o que resta do velho establishment republicano. Depois da desistência de Chris Christie, é apenas sobre Haley, que foi representante dos Estados Unidos junto da ONU entre 2017 e 2018, que recaem as esperanças dos ‘never Trumpers’. Mas a candidata jogava em terreno desfavorável, num estado onde as bases republicanas tendem a ser mais populares. 

Uma questão de momentum  

Donald Trump, que tem consumido tempo e recursos financeiros nos tribunais, queria uma “vitória estrondosa” no arranque desta corrida. E conseguiu. Obteve mais de 50 por cento dos votos; ficou a 30 pontos percentuais do segundo lugar; venceu todos os condados; saiu-se bem junto do eleitorado feminino e terminou a noite com o apoio de Vivek Ramaswamy, o que lhe deverá facilitar a vitória no New Hampshire. 

Vivek, o mais jovem e disruptivo dos candidatos, ficou em quarto lugar e anunciou, no X, que desistia a favor de Trump: “Não atingimos o nosso objetivo e precisamos de um patriota America-First na Casa Branca. As pessoas disseram alto e bom som quem queriam. Esta noite termino a minha campanha para apoiar Donald Trump, e farei tudo o que puder para que ele seja o próximo Presidente dos Estados Unidos”.

Para DeSantis, o segundo lugar – que garantiu por uma margem estreita – representa a possibilidade de continuar. Um terceiro lugar teria ditado o fim de uma candidatura que parece não ter estado à altura das expectativas criadas sobre a possibilidade de um “Trumpismo sem Trump”. 

Ficando em terceiro lugar, Nikki Haley tem esperança de conseguir ganhar algum fôlego no New Hampshire, onde as sondagens lhe são mais favoráveis, e depois a jogar em casa na Carolina do Sul, onde foi governadora. Mas na noite de segunda-feira ficou claro que a candidata não gera grandes entusiasmos. 

Uma campanha (pouco) alegre 

Na semana que antecedeu o caucus, enquanto os seus adversários faziam campanha, Donald Trump – que enfrenta 91 acusações em quatro casos diferentes – apresentava-se a tribunal em Nova Iorque e em Washington. Numa carta aos seus apoiantes, o ex-Presidente afirmava: “Por duas vezes nesta última semana, fui forçado a abandonar a campanha para estar nos tribunais por causa de uma falsa caça às Bruxas”.

Sendo certo que Trump passará muito tempo da campanha em tribunais, é possível que isso não o prejudique. De todos os processos, o mais relevante é o que levará o Supremo Tribunal Americano a pronunciar-se, pela primeira vez, sobre a secção 3 da 14.ª Emenda, criada após a Guerra Civil para impedir que membros da Confederação, envolvidos em insurreição ou rebelião, assumissem cargos não eletivos no Governo federal ou estadual. Trump nunca foi acusado de insurreição ou rebelião, mas sim de ‘incitamento à rebelião’, e candidata-se à Presidência, i.e., a um cargo eletivo. Depois dos Tribunais do Maine e do Colorado terem decidido retirar o nome de Trump dos boletins, considerando-o ‘inelegível’ com base na secção 3 da 14.ª Emenda, o ex-Presidente apresentou um recurso junto do Supremo Tribunal Federal, que foi aceite. O caso será decidido em fevereiro, e a decisão aplicada em todo o país. Caso seja favorável a Trump, é possível que as tentativas de bloqueio da sua candidatura abrandem. 

Entretanto multiplicam-se as acusações e contra-acusações, muitas vezes indissociáveis de posições políticas. Os apoiantes de Trump consideram-no vítima de um processo de instrumentalização da justiça pelo Partido Democrata, que tentaria assim evitar uma possível vitória sobre um Joe Biden visivelmente desgastado, inclusivamente entre os eleitores democratas. Mas é possível que, para o atual Presidente, neutralizar Trump não seja suficiente. Segundo uma sondagem YouGov publicada pela CBS, Nikki Haley e Ron DeSantis venceriam Biden nas urnas, por margens superiores ao do ex-Presidente e agora candidato. 

Próxima paragem 

A próxima etapa da corrida é já no dia 23, com as primárias no New Hampshire, que Nikki Haley descreveu como “a última chance de evitar um rematch entre Trump e Biden, que ninguém quer”. E tem razão. Se Trump voltar a vencer de forma esmagadora, irá desmobilizar os doadores e as candidaturas dos seus adversários. DeSantis, que tem poucas divergências ideológicas em relação a Trump e mantém ambições políticas, deverá apoiar o ex-Presidente.

Bernie Sanders, em entrevista ao The Guardian, vaticinou que se Biden não responder aos anseios da classe trabalhadora, perderá para Trump.  E é bem possível que assim seja. Os bloqueios na justiça não parecem travar Trump, que beneficia agora da dinâmica de umas primárias que, embora tudo indique se decidirão em breve, mostraram candidatos fortes que, agora, se deverão juntar ao imperativo de “tornar a América grande outra vez”.  Do lado democrata, por agora, não há sinais de entusiasmo.

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