Caso das Gémeas e imigração: as armas de Ventura nesta campanha

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Análise

05 jun, 2024 - 01:04 • Tomás Anjinho Chagas

Chega tem insistido no caso das gémeas (que envolve PS e PSD) e na bandeira da imigração. Ventura abraça temas que implicam os dois partidos e posiciona-se como a alternativa fora do sistema. Mesmo que tenha nascido com ele.

Repetem-se as arruadas, os discursos, as declarações aos jornalistas, as intervenções e as interações com eleitores e há sempre dois denominadores comuns na campanha do Chega às eleições europeias: a comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas e o tema da imigração.

André Ventura não os larga e faz questão de os referir sempre. Para o Chega, os dois temas têm uma virtude: assacam responsabilidades ao PS e ao PSD.

O líder do partido tem a estratégia de colocar os dois partidos do ‘centrão’ no mesmo saco e estas duas temáticas são a forma perfeita para o fazer. Afirmando que os dois maiores partidos “são iguais”, Ventura vai-se apresentando como terceira via, que rompe com o sistema, apesar de ter nascido dele.

Gémeas: Marcelo e governo do PS envolvidos

Com uma comissão parlamentar de inquérito forçada precisamente pelo Chega, que com 50 deputados conseguiu instaurar este escrutínio, o caso das gémeas luso-brasileiras que foram tratadas no Hospital Santa Maria é o terreno para André Ventura colar PS e PSD na forma como lidam com instituições públicas e casos pessoais.

Ao envolver o filho do Presidente da República, o tratamento milionário às gémeas arrasta o Palácio de Belém para a polémica e o PSD gere tudo com pinças. A marcação da consulta e o conhecimento (ou não) do Ministério da Saúde de que tudo estava a acontecer coloca o PS também no centro.

 Ventura é popstar entre os mais novos

A CPI decorre em plena campanha eleitoral, e António Lacerda Sales, ex-secretário de Estado da Saúde, até esteve para ser ouvido esta semana, só que alegou “motivos profissionais” para adiar a audição no Parlamento para 18 de junho. André Ventura fala em “pressão do PS” para que se evite falar do caso na véspera das eleições europeias.

Além disso, o líder do Chega menciona várias vezes o envolvimento de Marta Temido, ex-ministra da Saúde, para infetar a campanha da agora cabeça de lista do PS às europeias. André Ventura já disse que quer chamá-la à Assembleia da República, mas fora do período eleitoral. Ainda assim, não perde uma oportunidade para a implicar.

Há ainda o trunfo da chamada de Marcelo Rebelo de Sousa ao Parlamento. Depois de o Chega só ter conseguido o apoio do Bloco de Esquerda e Iniciativa Liberal para ouvir o Presidente da República, Ventura afirmou que PS e PSD “têm medo” de fazer frente ao chefe de Estado. Mais uma vez coloca-se fora do sistema.

“O que eu espero é que o Presidente da República não se refugie”, pica André Ventura, que tem mencionado Marcelo Rebelo de Sousa em quase todos os discursos.

Imigração: PS não fez, PSD não fará suficiente

Mais ideológico, e a surfar a onda dos problemas graves no funcionamento da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA ), o Chega não larga a questão da imigração neste período eleitoral.

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Também neste campo André Ventura vê a oportunidade de matar dois coelhos com uma só cajadada: atira ao PS pelo que não fez até agora e pela extinção do SEF, e ao PSD pelo “plano frouxo” que apresenta para este tema.

Com o tema a impor-se também por culpa do Governo, que apresentou um pacote de medidas para controlar a imigração em plena campanha eleitoral, o Chega aproveita para lamentar a falta de ambição do executivo de Montenegro nesta área.

Pelo meio, André Ventura cavalgou o anúncio da vinda da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, à campanha da AD no dia 6 de junho, para colar o PSD à corrupção, aproveitando as suspeitas que recaem sobre a antiga ministra da Defesa alemã relacionadas com a compra de vacinas contra a Covid-19, arma que deve voltar a usar no dia em que a protagonista europeia estiver em Portugal.

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