Cessar-fogo em Gaza. Abstenção dos EUA no Conselho de Segurança irrita Israel

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O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, questionou a aprovação do apelo a um cessar-fogo em Gaza pelo Conselho de Segurança Andrew Kelly - Reuters

Pela primeira vez em cinco meses, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução a exigir um cessar-fogo imediato em Gaza. A abstenção dos EUA foi crucial para o texto passar e é vista como como traição por Israel.

Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, cancelou de imediato o envio de uma delegação a Washington, anunciou o seu gabinete.

"Tendo em vista a mudança da posição americana, o primeiro-ministro decidiu que a delegação não iria partir", referiu o comunicado. 

Para Netanyahu, a recusa do veto norte-americano esta segunda-feira marca um "recuo claro" da sua posição anterior e irá prejudicar os esforços de guerra contra o Hamas em Gaza, assim como os esforços para libertar mais de 130 reféns, retidos no enclave palestiniano desde 7 de outubro.


A delegação ao mais alto-nível iria a Washington debater as operações israelita em Rafah, no sul de Gaza.

Questionado sobre a decisão israelita, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, referiu não ter sido informado de quaisquer mudanças de planos quando à visita, referindo que altos responsáveis da Administração mantinham as suas reuniões separadas com o ministro da Defesa Yoav Gallant, sobre os reféns, a ajuda humanitária e a proteção de civis em Rafah.

Kirby sublinhou ainda que a política norte-americana não tinha sofrido alterações, apesar da abstenção no Conselho de Segurança e de na semana passada a Administração Biden ter exigido um "cessar-fogo duradouro" em Gaza.
Aprovação quase unânime
O texto da resolução proposta pelos 10 Estados-membros eleitos, exige um cessar-fogo imediato em Gaza durante o Ramadão. Foi aprovado por 14 votos, com a abstenção dos Estados Unidos da América.

Se os EUA tivessem usado o seu poder de veto, a resolução teria sido chumbada.

Esta foi a primeira vez em que houve acordo no Conselho de Segurança para exigir a Israel um cessar-fogo, em cinco meses de guerra entre o Estado judaico e o grupo islamita que tem governado Gaza desde 2007.

Várias outras propostas para a cessação das hostilidades foram vetadas, incluindo umas dos Estados Unidos na semana passada.

Esse texto foi chumbado pela Rússia e pelos Estados Unidos, que se opuseram à linguagem utilizada no texto, nomeadamente por não "exigir" essa cessação das hostilidades e por vincular o cessar-fogo à libertação dos reféns detidos pelo Hamas. O texto proposto por Washington "determinava um cessar-fogo imediato e sustentado" em Gaza.

A resolução agora aprovada "exige um cessar-fogo imediato para o mês do Ramadão, respeitado por todas as partes, levando a um cessar-fogo duradouro e sustentável".

O texto prevê ainda a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, assim como a garantia de acesso humanitário para atender às suas necessidades médicas e outras necessidades humanitárias, e exige ainda que as partes em conflito cumpram as suas obrigações ao abrigo do direito internacional "em relação a todas as pessoas que detêm".

Hamas aplaude
O mês sagrado dos muçulmanos iniciou-se dia 10 de março e deverá durar até 9 de abril, pelo que a exigência de cessar-fogo abrange apenas duas semanas, apesar de abrir caminho ao seu prolongamento.

O Hamas aplaudiu a votação do Conselho de Segurança, afirmando em comunicado que "afirma a prontidão de iniciar numa troca imediata de prisioneiros dos dois lados". 

Já o embaixador palestiniano nas Nações Unidas apelou a que o voto "deva ser um ponto de viragem" na questão israelo-palestiniana.


A resolução foi apresentada pelos 10 Estados-membros eleitos do Conselho de Segurança: Argélia, Equador, Guiana, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovénia e Suíça.

Desde o início da guerra, o Conselho apenas conseguiu aprovar duas resoluções e nenhuma delas dizia respeito a um cessar-fogo, mas sim à questão humanitária.

com Lusa

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