Cidade com 2.500 anos no Equador. Arqueólogos encontram seis mil plataformas retangulares

8 meses atrás 90

Desde 2015, que a equipa do arqueólogo Stéphen Rostain desenvolveu um levantamento aéreo com a tecnologia de deteção remota LiDAR no vale Upano, no Equador.

Foram então identificadas seis mil plataformas retangulares, contruídas pela população de há 2500 anos, constituindo um complexo assentamento escondido sob a floresta do vale.

O varrimento a laser permitiu criar um mapa 3D detalhado da área, que mostram que as construções eram muito mais extensas do que se imaginava.

“Os assentamentos são muito maiores do que outros na Amazónia”, diz Stéphen Rostain, do Centro Nacional Francês de Investigação Científica, em Paris. 

São comparáveis em escala aos sítios maias”, sublinhou o arqueólogo descrevendo o complexo urbano localizado no sopé arborizado dos Andes, junto a um vulção, e que preencheu o vale durante 1.000 anos.

 

A ferramenta LiDAR usa uma leitura óptica que mede propriedades da luz refletida de uma superfície, mesmo abaixo da vegetação, revelando anomalias no solo, que geralmente não são visíveis - Stéphen Rostain via X

Vale Upano modificado por mão humana

A investigação arqueológica revelou mais de seis mil plataformas artificiais elevadas planificadas e construídas pela mão das comunidades residentes.

As construções de terra foram construídas a partir de colinas cortadas e terraplanadas, criando uma plataforma de terra no topo. 

Distribuem-se por uma área de 300 quilómetros quadrados e sustentariam edifícios de madeira. A prova está em escavações que revelaram “existência de buracos para postes e lareiras, nestas estruturas”.

A maioria das plataformas tem cerca de 10 por 20 metros e 2 metros de altura e são interpretadas pelos arqueólogos como tendo sido antigas casas.

A maior dessas casas encontradas até ao momento apresenta 40 por 140 metros de área e 5 metros de altura e situa-se em Kilamope. Esta plataforma artificial elevada teria sido pensada para suportar edifícios monumentais, provavelmente, utilizados para cerimónias.

As plataformas eram contornadas por muitos campos drenados através de pequenos canais escavados ao redor. 

O vale foi quase completamente modificado”, atesta Rostain. "Era um vale perdido de cidades", remata.

A rede de estradas ortogonais

As análises aos vestígios de sementes queimadas nas paredes de recipientes cerâmicos encontrados no sítio sugere que a população cultivava milho, feijão, mandioca e batata doce.

Os agricultores e hábeis engenheiros e arquitetos de então construíram pelo menos cinco assentamentos principais encontrados na área investigada. Estes aglomerados residenciais poderiam ser descritas como “cidades-jardim”, face à "densidade de edifícios”, diz Rostain.

Estes complexos urbanos, com 2500 anos, eram ligados por “uma rede de estradas retas criadas pela escavação do solo e o empilhamento nas laterais”. A mais longa estende-se por pelo menos 25 quilómetros, mas poderá continuar para lá da área prospetada.

Rostain acentua o esforço feito pelo povo Upano para “tornar as estradas retilíneas”. O arqueólogo explica que, em alguns locais, os construtores cavaram cinco metros em vez de seguir as curvas de nível. “Portanto, as estradas provavelmente tinham um significado simbólico, já que não havia razão prática para endireitá-las”, argumenta.

Foram também encontrados sinais de estruturas defensivas, como valas ou fossos, sugerindo algum conflito entre grupos. Sabe-se que, no resto da Amazónia, muitos assentamentos foram abandonados após a chegada dos europeus, provavelmente devido à propagação de doenças e à violência desencadeada pelos invasores, que mataram grande parte da população indígena.

Porém, neste caso, todos os artefatos de Upano datados pela equipe de Rostain apontam para cronologias anteriores a 1.500 anos. A ausência de evidências posteriores a essa data sugere que esses assentamentos foram abandonados antes da era colonial.

O motivo do abandono não está claro, mas a equipa encontrou camadas de cinzas vulcânicas, por isso a tese de as pessoas terem deixado o vale para fugirem a erupções poderá ser considerada.

Escavação arqueológica numa das plataformas de terra - Stéphen Rostain via X

O mais antigo complexo urbano na Amazónia equatoriana

De acordo com os investigadores, os assentamentos foram ocupados pelo povo Upano entre cerca de 500 a.C. e 300 a 600 d.C.

 
Será difícil estimar as populações, mas o estudo aponta para, pelo menos, 10 mil habitantes – e mesmo 15 mil ou 30 mil no seu auge, observa o arqueólogo Antoine Dorison, coautor da investigação no mesmo instituto francês.

"Este é mais antigo do que qualquer outro local que conhecemos na Amazónia. Temos uma visão eurocêntrica da civilização, mas isto mostra que temos de mudar a nossa ideia sobre o que é cultura e civilização", reitera Stephen Rostain.


Um grande complexo de plataformas de terra em Nijiamanch, um dos assentamentos urbanos do Vale Upano - Stéphen Rostain via X

Para Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida, esta descoberta “mostra um grau de complexidade e densidade de assentamento sem precedentes neste período inicial”.

Charles Clement, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia, em Manaus, no Brasil, defende que o vale de Upano "é o maior complexo com grandes assentamentos encontrado até agora na Amazónia”.

A descoberta muda o que se sabe sobre a história dos povos que viveram na Amazónia porque se acreditava que poucas ou nenhuma comunidade antiga teria vivido na densa floresta à data e por isso Rostain relembra : "Estamos sempre a aprender mais sobre estas culturas”.

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