Cientistas criam placas de circuitos recicláveis que se transformam em ‘gelatina’

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Só em 2022 foram produzidas 62 milhões de toneladas de lixo eletrónico, indicam dados de um recente relatório publicado por um instituto da ONU. Apenas 22,3% foi devidamente recolhido e reciclado. As placas de circuitos, presentes numa vasta quantidade de equipamentos eletrónicos, são muito difíceis de reciclar. Mas uma nova investigação pode ter uma solução para o problema. 

Os cientistas, que publicaram as suas conclusões num artigo na revista científica Nature Sustainability, afirmam que este novo tipo de placa pode ser reciclado várias vezes. Segundo o estudo, as perdas resultantes deste processo são mínimas e as placas têm um desempenho semelhante àquelas que foram desenvolvidas com materiais mais ‘tradicionais’. 

Como explica Vikram Iyer, investigador na Universidade de Washington citado em comunicado, as placas de circuitos são construídas para serem à prova de fogo e resistentes a químicos. Essas características tornam-nas mais robustas, mas também quase impossíveis de reciclar.

“Criámos uma nova formulação material que tem propriedades elétricas comparáveis às placas de circuitos convencionais, assim como um processo para reciclá-las repetidamente”, indica o investigador. 

O novo tipo de placa conta com uma espécie de polímero conhecida como vitrímero. Quando exposta a determinadas condições, as suas moléculas conseguem reorganizar-se para formar novas ligações. 

Para reciclar as placas, os cientistas recorreram a um diluente orgânico, que transforma o vitímero numa substância gelatinosa que é reciclável. Os componentes eletrónicos e outros elementos não são danificados, podendo ser extraídos e, mais tarde, reciclados. 

Cientistas criam placas de circuitos recicláveis que se transformam em ‘gelatina’Agni K. Biswal, investigador na Universidade de Washington, demonstra o processo de produção de uma placa de circuitos (Foto: Mark Stone/ Universidade de Washington)

De acordo com a equipa, 98% do vitrímero utilizado no estudo foi recuperado. O mesmo se aplica a 100% da fibra de vidro presente nas placas e a 91% do solvente utilizado no processo de reciclagem. 

Uma análise ao impacto ambiental das placas revela que podem resultar numa redução de 48% no potencial de aquecimento global. Estima-se também que possam representar uma redução de 81% nas emissões de partículas cancerígenas.

Embora acreditem no potencial da solução, os cientistas admitem que existem algumas barreiras no que respeita à implementação. Aqui incluem-se, por exemplo, a criação de sistemas e incentivos para a recolha de lixo eletrónico. É por esse motivo que defendem que deve existir uma maior regulamentação governamental nesta área. 

Os investigadores estão já a usar inteligência artificial para explorar novas formulações para vitrímeros que tenham diferentes usos. No futuro, a equipa quer adotar uma abordagem que dá ainda mais prioridade à sustentabilidade, tanto no design como na otimização de materiais. 

Recorde-se que, ainda no ano passado, a startup Jiva Materials já tinha apresentado uma solução semelhante, chamada Soluboard. A empresa usou um material à base de plantas para criar placas de circuitos que podem ser dissolvidas em água. A solução foi adotada pela fabricante alemã Infineon Technologies.

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