“O tema mais importante em cima da mesa é a questão dos cereais ucranianos”, afirmou Orbán, para alertar que “o dumping ucraniano está lentamente a destruir os agricultores europeus e húngaros”.
“A posição húngara é clara: temos de proteger os nossos agricultores”, avisou o primeiro-ministro.
Num posicionamento claro nas matérias que envolvem Rússia e Ucrânia, foram ainda deixados sinais de que a Hungria poderá estar disponível para acertar a utilização dos juros gerados pelos bens russos congelados desde que sejam reservados para fins de paz e não para apoio à máquina de guerra ucraniana.
Uma proposta formal apresentada ontem pela Comissão Europeia sobre os 190 mil milhões de euros de ativos russos detidos na UE sugere que o dinheiro fosse canalizado para o Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, um orçamento que reembolsa os Estados-membros pelas contribuições para a Ucrânia mas que financia também corpos militares de paz em todo o mundo.
Uma fonte húngara afirmou, segundo o jornal The Guardian, que Budapeste seria contra “se [esses montantes] fossem para fins militares”, mas não se oporiam se parte dos fundos gerados a partir dos bens congelados fosse para missões não ucranianas, como as forças de manutenção da paz em África.
Trata-se desde logo de um travão a fundo aos pedidos do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que se dirigiu aos parceiros em modo de videoconferência no sentido de sensibilizar o conselho para canalizar esses recursos financeiros russos congelados para uma Ucrânia destruída pelos ataques de Moscovo.
“É necessário ir mais longe na utilização justa de bens russos congelados. O agressor tem de pagar o preço mais alto pela guerra. Este ano, precisamos de usar os bens russos para proteger e restaurar a vida que o agressor está a destruir na Ucrânia”, pediu Zelensky, argumentando que se trata de uma causa “justa”.
“Esta guerra é feita pela Rússia não só contra a Ucrânia mas contra todos nós, contra os vossos países também, contra toda a nossa Europa e o modo de vida europeu”, declarou o presidente Zelensky, pedindo ajuda para a defesa aérea ucraniana e mais entrega de munições, assim como um esforço para a integração da Ucrânia na União Europeia.
“Toda a defesa aérea fornecida à Ucrânia, em particular pelos países europeus, mantém vivas as nossas cidades e aldeias. Mas os sistemas de defesa aérea existentes não são suficientes para proteger todo o nosso território do terror russo. E não é uma questão de centenas de sistemas, mas de um número alcançável para proteger todo o território da Ucrânia. Todos sabem que medidas têm de ser tomadas”, argumentou o líder ucraniano, mostrando-se desde logo grato “pela criação do Fundo de Assistência à Ucrânia, no valor de cinco mil milhões de euros, e pelo apoio à iniciativa da Chéquia de comprar projéteis para os nossos soldados”.
Zelensky advogou ainda que progressos reais no sentido de encetar negociações para a integração na União são fundamentais para os que os ucranianos vejam que estão mais próximos dos 27 e uma motivação extra na luta dos ucranianos contra a Rússia.
A Hungria será o pior dos auditórios para estes apelos. Viktor Orbán enviou esta mesma tarde os parabéns a Vladimir Putin pela sua vitória de domingo e recondução para mais um mandato como Presidente da Rússia.
“Confirmados os resultados oficiais das eleições, o primeiro-ministro Viktor Orbán felicitou Vladimir Putin pela sua reeleição, observando que a cooperação entre a Hungria e a Rússia, baseada no respeito mútuo, permite discussões importantes, mesmo em contextos geopolíticos desafiadores”, escreveu nas redes sociais Zoltan Kovacs, um porta-voz húngaro.
"Orbán afirmou o compromisso da Hungria com a paz e a disponibilidade para intensificar a cooperação em setores não restringidos pelo direito internacional, sublinhando a importância do diálogo na promoção de relações pacíficas", acrescentou.
Trata-se de um posicionamento que vai desde logo contra a posição oficial da União Europeia, cujo alto representante para a política externa, Josep Borrell, emitiu uma declaração em nome do bloco sublinhando que as eleições russas “decorreram num ambiente altamente restrito” e que a UE “reitera que não reconhece nem nunca reconhecerá quer a realização destas chamadas ‘eleições’ nos territórios da Ucrânia quer os seus resultados”.
O drama na Faixa de Gaza
Sobre o drama vivido pela população palestiniana na Faixa de Gaza sob cerco de Israel, e numa altura em que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, regressou ao Médio Oriente para tentar novamente um cessar-fogo, o primeiro-ministro dos Países Baixos manifestou preocupação sobre o alastrar do conflito.
“Temos de garantir que o conflito não se alastra”, alertou Mark Rutte quando anunciou que os líderes iriam “abordar a situação desesperada em Gaza, que está a degradar-se de dia para dia”.
“É por isso que pedimos urgentemente uma pausa imediata nos combates – para fazer chegar rapidamente mais ajuda a Gaza e garantir que seja entregue em segurança às pessoas que dela necessitam, bem como garantir a libertação dos reféns”.
O governante deixou desde logo um pedido a Israel “para que desista de lançar uma ofensiva terrestre em larga escala em Rafah, onde muitas pessoas estão acantonadas e sem lugar para ir”.
“Acima de tudo, temos de garantir que o conflito não se alastra a toda a região”, propugnou Mark Rutte.
A questão tem dividido os líderes europeus e novamente com a Hungria, acérrima apoiante de Israel, a posicionar-se fora da moldura. Uma fonte próxima de Viktor Orbán apontou contudo para a possibilidade de o país vir a inclinar-se pela solução do cessar-fogo: “Acho que há um potencial crescente de encontrar um acordo a nível europeu sobre o cessar-fogo”.
Trata-se de uma meia solução para um problema que assume já contornos de catástrofe humanitária, com os relatos de falta de medicamentos e de morte pela fome extrema, que Josep Borrell classificava à chegada à cimeira de “fracasso da humanidade”.
“O que está a acontecer hoje em Gaza é o fracasso da humanidade, não é uma crise humanitária, é o fracasso da humanidade, não é um terramoto, não é uma inundação, é um bombardeamento. E a única maneira de parar a crise humanitária, a crise humana, é Israel respeitar mais os civis e permitir mais apoio em Gaza”, pediu Borrell, alertando que é vital agir de imediato.
“Mesmo agora que conseguimos enviar alimentos para Gaza, as pessoas continuam a morrer de fome, especialmente as crianças. Precisam de medicamentos para poderem comer porque estão a morrer de fome. Espero que o Conselho envie uma mensagem forte a Israel”, defendeu o responsável máximo da política externa da União Europeia.