Crianças ainda estão muito expostas a publicidade a alimentos pouco saudáveis. Estudo defende mais restrições

2 meses atrás 123

As crianças portuguesas ainda estão muito expostas a publicidade a alimentos pouco saudáveis, alerta um estudo oficial divulgado esta sexta-feira.

De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), apesar de as restrições previstas na lei serem, na generalidade, cumpridas, nota-se um investimento em áreas não reguladas ou menos fiscalizadas, como é o caso do ambiente digital.

Aliás, foi no seguimento online que se detetaram 80% das infrações à lei de 2019, que impõe restrições aos conteúdos publicitários a alimentos e bebidas com elevado valor energético, teor de sal, açúcar, e ácidos gordos dirigida a menores de 16 anos.

O estudo da DGS, Direção do Consumidor, Direção-Geral da Educação e Direção-Geral de Alimentação e Veterinária mostra que a maior parte das infrações corresponde a bolos e produtos de pastelaria, aperitivos/snacks, sumos, gelados, chocolates e refeições prontas a consumir.

Maria João Gregório, uma das autoras deste estudo, mostra-se especialmente preocupada, porque o “contexto digital tem o potencial de aumentar a exposição a anúncios publicitários e permite que sejam utilizadas estratégias de marketing que são mais persuasivas e mais criativas e que, por isso mesmo, têm uma maior capacidade de influenciar comportamentos”.

Má alimentação está a matar mais do que o tabaco

Em declarações à Renascença, a responsável pelo Programa de Promoção de Alimentação Saudável da DGS sublinha que em “96% dos conteúdos analisados a lei é cumprida”. Mas a verdade é que “as crianças portuguesas continuam amplamente expostas a conteúdo publicitário que é apelativo e atrativo”.

A prova é que “cerca de 20% dos anúncios a alimentos e bebidas na televisão e nos websites têm conteúdo apelativo a crianças e que mais de 65% dos anúncios/conteúdos analisados promove, essencialmente, alimentos que não são saudáveis”. A conclusão é que "existe um conjunto de estratégias de marketing que não estão abrangidas pelas restrições previstas na lei”, explica Maria João Gregório.

Restrições levaram ao aumento dos alimentos saudáveis

Pela positiva, o estudo agora divulgado mostra que as restrições à publicidade para menores de 16 anos levaram a um aumento de produtos que cumprem os critérios de perfil nutricional definidos pela DGS.

De acordo com Maria João Gregório, são “o caso dos iogurtes, cereais de pequeno-almoço e leites aromatizados".

"De 2019 para 2022 passou a haver maior percentagem de produtos dentro destas categorias que foram reformulados para terem menos teor de sal, de açúcar e de gordura, e, portanto, significa que temos neste momento produtos com um melhor perfil nutricional do que tínhamos em 2019”, assinala.

Guia de boas práticas para “influencers”

Para reduzir a exposição ao marketing de alimentos não saudáveis a que as crianças estão sujeitas, o que influencia as suas preferências, escolhas e consumo, a Direção-Geral da Saúde propõe várias medidas, uma delas dirigida aos criadores de conteúdos digitais, os chamados "influencers".

Maria João Gregório diz que “é uma área menos regulada, que tem crescido muito e, por isso, justificaria uma abordagem mais transversal”.

No que se refere a alimentos, este estudo “identificou muitos conteúdos que promovem o consumo de determinado tipo de produtos incluindo por crianças”. A sugestão é - explica a especialista - “ criar em colaboração com a Direção-Geral do Consumidor, um guia de boas práticas para os influenciadores e para as agências de comunicação”

Os autores deste estudo propõem, por outro lado, o alargamento das restrições à publicidade na televisão aos horários mais vistos pelas crianças, ou seja, “entre as 6 da manhã e as 9 da noite”.

Ler artigo completo