CRÓNICA | Barcelona, lembras-te de mim?

5 meses atrás 58

O doce sabor da vingança. Sete anos depois da épica reviravolta de Camp Nou, o Paris SG vingou-se. Esta terça-feira, os parisienses deram a provar do mesmo veneno ao FC Barcelona. No regresso à Catalunha, agora no Olímpic Lluís Companys, os franceses venceram por 1-4 e recuperaram a desvantagem da primeira mão.

Sete anos volvidos, um nome em comum: Luis Enrique. Obreiro da grande remontada de 2016/17 ao leme dos espanhóis, o técnico conseguiu agora novo feito do género na Cidade Condal, mas... com a camisola do rival. Um dia herói, o treinador foi esta noite vilão para a nação blaugrana, mas não foi o único: Ousmane Dembélé, antigo jogador dos catalães, regressou a Barcelona debaixo de um forte coro de assobios a cada toque na bola, aos quais respondeu com magia pura no relvado.

A mão marota de Ronald

Os gauleses apresentaram-se na Catalunha sabendo que a vantagem estava do lado contrário e, por isso, tinham de correr atrás do prejuízo. Fiéis a essa ideia, os homens vestidos de branco cedo imprimiram um ritmo elevado na partida e fizeram o adversário recuar no terreno. Os primeiros dez minutos foram jogados praticamente em meio-campo, com o Paris SG a controlar a partida.

Perante o que se viu nos minutos iniciais, não era de esperar que a primeira equipa a abrir o marcador fosse a da casa. Porém, quem tem um talento como Lamine Yamal sujeita-se a que tal aconteça. O jovem extremo recebeu um passe longo de Ronald Araújo no flanco direito, desmontou por completo Nuno Mendes com a mudança de velocidade e assistiu Raphinha para o 1-0.

Coeso defensivamente e eficaz na primeira ocasião, o FC Barcelona cavou um fosso de dois golos no agregado e tudo parecia correr de feição ao conjunto comandado por Xavi Hernández. Em cima da meia hora, tudo desmoronou com a mão marota de Araújo. Perante um velocíssimo Bradley Barcola, que seguia em velocidade rumo à baliza, o defesa central uruguaio não resistiu, colocou a mão no ombro do adversário e derrubou-o. Cartão vermelho direto, catalães em inferioridade numérica e o domínio parisiense a acentuar-se.

A partir daí, só deu Paris SG até ao intervalo. A esforço, os homens da casa sobreviveram aos primeiros assaltos, mas a resistência foi quebrada ao minuto 40: Barcola, sempre irrequieto pelo flanco esquerdo, cruzou na direção do segundo poste e Dembélé encheu o pé para empatar e dar mais força aos apupos vindos da bancada.

Carimbo galáctico

Já sem Yamal, o guerreiro sacrificado para recompor a defesa após a expulsão de Araújo, Xavi Hernández confiou a Raphinha toda a criatividade do trio da frente e a Robert Lewandowski a frieza de finalizar as ocasiões que eventualmente aparecessem. Mas antes que isso acontecesse, Vitinha tratou de empatar a eliminatória com um grande pontapé de meia distância.

A resposta até podia ter sido a melhor possível para os anfitriões, mas Ilkay Gundogan não teve pontaria. Seguiram-se momentos de maior emoção e menor discernimento: Xavi Hernández não se conteve nos protestos, recebeu ordem de expulsão e foi a cara de um FC Barcelona emocionalmente perdido por momentos. Logo a seguir, João Cancelo derrubou o endiabrado Dembélé dentro da área e apareceu Kylian Mbappé para desferir o primeiro golpe e consumar a reviravolta na eliminatória.

Com muito coração, os catalães tentaram ir em busca do golo que empatasse novamente as contas. Lewandowski não o fez porque Donnarumma foi intransponível e Raphinha porque não teve pontaria para a baliza. Sempre atento à transição, o Paris SG teve a oportunidade que tanto esperava em cima do minuto 90 e, embora Marc-André ter Stegen ainda tenha defendido os dois primeiros remates, nada pôde fazer para travar o terceiro. Mbappé, que há muito é apontado como o próximo galáctico e que se pode vir a tornar rival catalão a todo um outro nível, assinou o segundo da conta pessoal e fechou o marcador.

Sete anos depois, o fantasma de Barcelona está no passado, morto pelo mesmo homem que o criou, Luis Enrique. O projeto megalómano com dedo qatari, que sempre teve o título europeu como grande objetivo, está mais perto de o conseguir. Só o Borussia Dortmund, que tombou o Atlético Madrid, separa o Paris SG do regresso à final da Liga dos Campeões, depois do vice de 2019/20.

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