Todo o meu primeiro horizonte é preenchido por um enorme cartaz, feito à medida para te obrigar a ler a mensagem, em mandarim ou em inglês:
"WELCOME TO CHINA". Assinatura: Coca-Cola.
"Ah!", exclama agora o meu cérebro. O comunismo, o anticapitalismo, a América inimiga, a independência do Ocidente... numa primeira imagem, a China ligou o autocilismo e lá se me foi pelo cano tanta ideia que tinha por garantida e nem sabia.
Desde aí, gato escaldado, tento lavar melhor a alma à chegada aos Jogos. Londres, Rio, desta Paris.
Agora, a saída da manga é menos gloriosa. É só um postigo por lavar. Depois escada acima, em frente, escada abaixo. Não havendo mensagem liminar ou subliminar, o olhar cai sobre o vizinho da frente. O da foto.
Descomprime os ombros, é uma pose que dá "boneco". Rodo o pescoço. São uma dezena de angolanos e o meu Rodrigo Lobo os vizinhos de escada rolante. "ANG". Curiosa cacofonia, numa sinapse. "Hang" em inglês é pendurar. Aguardar antes de usar é exatamente o espírito certo. Antes de julgar, de preconceber. (H)Ang.
Lembrei-me como eu e o Gonçalo Ventura, na Cerimónia de Abertura do Rio, fomos trucidados por uma dezena de indefectíveis angolanos porque a emissão da RTP estava em intervalo quando Angola desfilou para a glória.
Desta vez, ironia, são os meus "compagnons de route". Claro que meti conversa:
- Quantos são vocês na comitiva?
- 60 e tal - diz-me um elemento sem traje desportivo.
- Quem transmite os Jogos para Angola? A SuperSport? - Estou genuinamente curioso.
Ele diz-me que sim, mas um atleta de pagaia em punho acrescenta:
- A Zimbo. A Zimbo dá.
- Boa notícia! Desejo-vos sorte e saúde!
Respondeu-me com um sorriso rasgado.
Angola não é nossa mas é "dos nossos".
Bom augúrio. Alllez!! Allez vite!