CRÓNICA | Espírito de Eriksson durou uma hora

6 meses atrás 107

Numa grande noite europeia na Luz, o melhor momento deu-se ao intervalo. De Paneira a Sheu, passando por Álvaro ou Carlos Manuel, muitas glórias de outros tempos formaram um corredor para homenagear o mítico treinador sueco, a contas com uma doença que lhe permitirá apenas mais uns meses de vida. Sentiu-se emoção, viram-se muitas lágrimas e cantou-se, a plenos pulmões, como se na antiga Luz estivessem os milhares que não arredaram pé. Aí, igualaram-se noites como a que levou os encarnados a uma final europeia, frente ao Marseille. Durante o jogo, o ambiente até pode não ter sido tão infernal, mas esteve a uma boa temperatura. E, em campo, a equipa distanciou-se do adversário.

A vantagem que as águias levam para o Vélodrome até podia ter sido mais dilatada. Seria, por alguns períodos do jogo, justo que isso acontecesse, só que as águias, contra um adversário a viver momento conturbado (foi a quinta derrota seguida), vacilou quando já não se contava.

Adeptos desaparecem, equipa aparece

O mais estranho do começo do jogo foi a debandada que se verificou nas bancadas, nas zonas onde estão os grupos organizados de adeptos do Benfica. Um protesto por questões policiais que tiraram dos setores das claques praticamente toda a gente e desviaram a atenção de muitos. Nem tanto das equipas.

Nunca se viu Aursnes de olhos para a bancada, mas as zonas ocupadas no campo fizeram com que o Marseille canalizasse para aquele lado alguns dos ataques iniciais. Depois, também pelo corredor central teve algum espaço para situações promissoras. Mas foi só Florentino e João Neves, dupla que se cimenta nesta fase final de época, acertarem o bloqueio para que o Benfica passasse a dominar por completo.

Sem surpresa, o golo de Rafa chegou, acompanhado de um bom envolvimento de Tengstedt, o avançado que só da baliza se desvia. Voluntarioso, trabalhador e muito dado ao jogo, teve mérito na assistência para o 27, tal como outras ações relevantes que teve - só mesmo frente à baliza não apresentou o mesmo nível.

No regresso dos balneários, já depois da tal homenagem que deixou em lágrimas grande parte do estádio, deu-se ainda mais Benfica. Embalados pelo espírito de Eriksson, que tanto futebol, vanguardismo e nível deu aos encarnados, os atuais quiseram descobrir desde já um pedacinho de pano com vista às meias-finais. Algo para que o golo de Di María serviria na perfeição, após combinação com Neres. Ou seja, o quarteto ofensivo de Schmidt funcionava em pleno nos golos.

Só que...

Se o mérito ofensivo esteve visível, mesmo que com a equipa a poder marcar mais, o defensivo voltou a ser menor. Depois de um longo período sem que os franceses conseguissem ir à baliza de Trubin com perigo (para além de muito diminuídos em termos anímicos), eis que surge o relançamento da eliminatória, num golo de Aubameyang em que António Silva ficou bastante mal na fotografia.

Regressou alguma intranquilidade, fruto de um período que é negativo, sobretudo pelos resultados, e que deixa a nu algumas debilidades. Renascido, o Marseille voltou a discutir o jogo e o Benfica, até aí bastante capaz coletivamente, regressou ao comum desta época: constantes bolas depositadas em Di María e Rafa Silva, ambos muito desgastados e sem o auxílio que se esperava de João Mário e Marcos Leonardo, entretanto lançados para jogo.

Vitória e... críticas

A reta final foi típica de um clube a viver uma turbulência, como se escreveu na antevisão. Mais assobios do que aplausos aquando do apito final, por se pretender que a equipa arriscasse mais do que arriscou. O alvo era bem claro: Roger Schmidt, que não demorou muito a sair e que o percebeu ao entrar no túnel, altura em que os assobios se voltaram a ouvir com insistência.

Uma vez mais, o Benfica ganha vantagem curta em casa. Uma vez mais, vai a França defendê-la.

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