Cuidados paliativos. "Temos aí um tsunami, o país está numa negação desta realidade"

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12 out, 2024 - 08:00 • Marisa Gonçalves , André Rodrigues

Presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos alerta que a falta de acesso é o resultado do que diz ser uma "normalização do sofrimento". Que começa nos serviços de saúde.

Temos aí um tsunami” nos cuidados paliativos, alerta na Renascença a presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP).

“Parece que o país está numa negação desta realidade. Nós somos um país bastante envelhecido, o que condiciona necessidades em saúde muito específicas e para as quais não nos temos preparado e temos aí um tsunami. Estamos a vê-lo e pensamos: será que vai mesmo acontecer? Sim, vai”, diz Catarina Pazes que pede uma mudança urgente no paradigma dos cuidados de saúde.

“Não sei se vamos a tempo, mas sei que, se não olharmos para as estruturas residenciais para pessoas idosas como estruturas onde se prestam cuidados de saúde, não vamos conseguir ter um Serviço Nacional de Saúde no futuro”.

Atualmente, mais de 70% da população residente em Portugal com necessidades paliativas está sem acesso a esses cuidados.

Catarina Pazes diz que é a consequência de uma “normalização do sofrimento no dia a dia dos cuidados de saúde”.

“Isso é um problema, porque as pessoas que neste momento precisam de cuidados paliativos e não os têm estão a recorrer aos serviços de saúde que estão disponíveis, mas não têm acesso aos cuidados de que precisam”, assinala a presidente da APCP.

A consequência? “Mais custos e mais ineficiência para um sistema e para um SNS que queremos todos salvar".

"Nós damos muitas altas". Cuidados paliativos não se limitam a preparar a morte

E uma contradição: as camas de cuidados paliativos continuam vazias.

Os dados da Entidade Reguladora da Saúde relativos a 2023 indicam que metade dos doentes referenciados para unidades de cuidados paliativos contratualizadas com o setor privado ou social morreram antes de terem acesso a uma vaga.

“Isto revela falhas ao nível do planeamento e de articulação” dos serviços.

“Estamos a falar de doentes que vinham de hospitais de agudos e que são referenciados em situação de crise, de agravamento, em que o tempo que têm de vida é muito curto para o internamento acontecer”.

Catarina Pazes defende, por isso, alterações que tornem as equipas de cuidados paliativos “mais facilmente acessíveis” para doentes que estão em casa, em lares ou nas unidades de cuidados continuados: “temos regiões do país que ainda não têm equipas destas".

Um dos passos para resolver esse problema poderá ser a criação da especialidade de Medicina Paliativa, que depende da Ordem dos Médicos, mas que a presidente da APCP diz que é “um meio para esta área se assumir e nomeadamente para os médicos que a exercem poderem ter uma escolha segura do ponto de vista da carreira, mas também uma escolha segura para os doentes e para as famílias”.

Este sábado é o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e termina em Aveiro o Congresso Nacional que reúne cerca de 450 profissionais de várias valências da saúde para debater e partilhar experiências com especialistas nacionais e internacionais.

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