De Biggin Hill para o mundo. Fórmula 1 e Lenovo dão as mãos para mais inovação tecnológica

7 meses atrás 101

O que é que a F1 e a Lenovo têm em comum? As duas empresas complementam-se pela necessidade e procura por inovação. O Jornal Económico foi conhecer o Centro de Media e Tecnologia da modalidade rainha do automobilismo, que tem o apoio digital da tecnológica japonesa.

Luzes, câmaras…  Pneus podem começar a rolar. A pré-temporada da Fórmula 1 (F1) está prestes a arrancar no Bahrein e as equipas do centro tecnológico começaram os testes na semana passada. “De Biggin Hill para o mundo”, como os gestores do centro gostam de dizer. O Jornal Económico (JE) foi conhecer os bastidores daquela que é uma das provas de fogo em tempo real.

O centro de media e tecnologia da F1 em Biggin Hill concentra várias equipas e gere toda a transmissão dos 24 circuitos em tempo real, independentemente da diferença horária. “O nosso principal foco e missão é o broadcast. Quando estão a ver F1 nos vossos países, somos nós que produzidos um feed global. A nossa equipa de engenheiros e tecnologia é responsável por toda a emissão”, começou por dizer Pete Samara, diretor de inovação e tecnologia digital da F1, em introdução ao espaço.

“Temos inúmeros fãs para manter satisfeitos. A qualidade do produto que os espectadores veem em casa é produzido aqui. Por isso somos consistentes no que fazemos: onde está a melhor ação, vídeos e áudios. Estamos sempre a ver o melhor conteúdo para os espectadores globais”, apontou Pete Samara.

Totalmente equipados com tecnologia da Lenovo, o diretor de inovação destaca a evolução do produto entregue aos ávidos consumidores de F1 nos últimos cinco anos.

A primeira sala – e talvez uma que possa gerar mais curiosidade para os fãs da modalidade – é a que tem comunicação direta com as equipas. “É aqui que lançam o aviso do Smooth Operator?”, pergunta uma jornalista, gerando risadas nos presentes. A verdade é que sim: uma equipa de oito pessoas gere a comunicação das dez equipas automobilísticas para o público. Mais uma curiosidade: um desses membros é responsável por ouvir os 20 pilotos em simultâneo e chamar a atenção dos restantes colegas para ‘puxar’ por determinada visão nas câmaras.

“A nossa equipa é fantástica. Consegue filtrar muita coisa ao mesmo tempo, e aqui há uma grande enchente de comunicação, porque ouvem os pilotos e também as equipas”, lembra Pete Samara. A parceria com Lenovo serve esta equipa e também o grande público, dado que a tecnologia fornecida pela empresa ajuda a que exista uma transcrição do que foi dito.

A Lenovo faz a gestão de vários gráficos em simultâneo. “Temos os gráficos com as equipas e pilotos, temos ainda apenas texto e áudio. Isto ajuda em termos de velocidade e precisão”, aponta um dos membros mais jovens da equipa.

“Mesmo com a ajuda da tecnologia, a equipa treina para estar ‘afinada’, de forma a ouvir o que é e não é importante. Isto permite um melhor resultado no fim”, destaca o responsável pela inovação e tecnologia digital. E como é o treino? “O treino consiste em entrar e começar”, esclarece.

“O ano passado começámos a cobrir cinco canais diferentes: F1, F2, F3, F1 Academy e Porsche. Começamos a habituar-nos a ouvir e filtrar o que é mais importante. Também vamos reconhecendo as vozes e a distingui-las”.

“Uma das partes mais interessantes, em termos tecnológicos, é que é feito tudo aqui no nosso centro. Temos uma pequena equipa nos locais, mas é tudo transmitido e feito aqui em Biggin Hill”, lembra Pete Samara.

“Em essência, por ser tudo feito aqui, transformou o nosso negócio. Se o problema é na pista, temos de levar lá alguém, em termos de sustentabilidade não é a melhor solução… Existem vários problemas. Há três anos tomámos a decisão de concentrar aqui toda a atividade e não na pista. Ao termos a operação concentrada num só local [em Biggin Hill] conseguimos também fazer crescer a equipa”.

A pandemia foi também um ponto de viragem para a adoção tecnológica na F1. Com o fecho das fronteiras, a equipa viu-se forçada a adotar o plano estratégico ‘mais localizado’ e para isso criou um centro de emissão televisiva. “Temos um estúdio virtual, um estúdio para comentários e outro de apresentação”, conta Wendy, responsável pela criação do espaço televisivo, admitindo o uso de realidade aumentada para esta temporada.

“Como decidimos tornar-nos remotos, este foi um grande passo para nós. Não somos apenas um canal internacional, somos responsáveis por entregar conteúdo pré e pós-temporadas de corridas, conteúdo das equipas de F1. Este foi um passo muito importante e uma grande mudança para nós”, adianta Pete Samara.

“Temos três estúdios numa pequena área. É um estúdio com múltiplos propósitos” destaca.

Noutra parte do áudio, e naquela que muitos consideram ser a mais importante, está Joel James. É este profissional britânico que dá vida ao sons dos carros e permite uma transmissão perfeita para os espectadores.

Com vários microfones espalhados pelo circuito, de forma a garantir o máximo de autenticidade para quem não conseguiu bilhete, além de no helicóptero que capta o espaço em 360º, Joel James acrescenta magia ao que passa na televisão. Mas não é só o som dos carros, é também de conferências de imprensa e tudo o que comporta o evento. “Não é só apertar um botão”, sustenta o profissional com vários anos de experiência.

Qual a principal importância deste centro para a modalidade rainha do automobilismo? “Alimentamos a alma de 1,5 mil milhões de pessoas ao longo de uma temporada. Nada pode correr mal e temos de ter tudo alinhado”, diz o diretor.

Os circuitos contam com 58 quilómetros de fibra ótica, o que ajuda na transmissão em tempo real para o Reino Unido, existindo uma precisão de 1/10000 de segundos. No fundo, as imagens são transmitidas em tempo real em dois pipelines de dez Gb, prontas a serem editadas antes de chegarem às televisões.

O mesmo se passa com as dezenas de câmaras presas nos carros, que permitem outra visão ao espectador. De facto, são tantas que o próprio diretor de inovação já lhes perdeu a conta, mas sustenta a importância de cada uma delas: dar a sensação de presença no local a quem não pode estar presente.

Como surgiu a parceria com a Lenovo?

Fórmula 1 é adrenalina, desporto e alta velocidade. Como é que um desporto automobilístico de risco faz uma parceria (de milhões) com a Lenovo? O início remonta a 2022, um ano em que a F1 fez ou renovou acordos estratégicos com várias tecnológicas, entre as quais a Salesforce e a Amazon Web Services.

“A F1 é sobre desporto, mas é o desporto mais avançado tecnologicamente”, destaca Lara Rodini, diretora de parcerias e ativação de produto, ao Jornal Económico. “As duas empresas partilham três principais valores: ambas querem ser inovadoras, comprometem-se com os resultados e estão focadas nos seus clientes”, acrescenta.

“Temos muita tecnologia aqui em Biggin Hill. A F1 está a usar o nosso portefólio completo, sejam tablets, computadores e servidores. É uma parceria muito completa e estamos bastante satisfeitos por conseguir ajudar a Fórmula 1 a ser melhor”, aponta Lara Rodini. “Para o futuro temos outros projetos a desenvolver juntos, mas que ainda não podemos revelar”, sinaliza, rindo-se.

“Temos um tipo específico de otimização para os computadores e servidores. Ao fornecer esta otimização apoiamos o desenvolvimento da F1. Todos os monitores, computadores e notebooks espalhados no centro representam necessidades específicas a serem correspondidas. Queremos que esta equipa tenha a última tecnologia possível”, adianta.

Conta Pete Samara que a Lenovo chegou para ajudar a F1 a ganhar. É que a equipa possuía três servidores com demasiada informação agregada, e a tecnológica “conseguiu reduzir estes três servidores a apenas um e ainda ficámos com espaço para ocupar”. Para o diretor de inovação, esta é uma das vantagens da parceria entre as duas empresas, até por questões práticas de viagens.

*A jornalista viajou ao Reino Unido a convite da Lenovo

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