Debate entre Montenegro e Ventura espelha diferenças e demonstra dificuldade de entendimento

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Luís Montenegro insiste, novamente, que não é possível um entendimento político com o Chega e critica as contas do programa do partido de André Ventura. O líder do Chega considera que Montenegro e Pedro Nuno Santos são o “rosto de um sistema que temos de combater”.

O debate desta segunda-feira entre Luís Montenegro, o líder da Aliança Democrática (AD), e André Ventura, o líder do Chega, exibiu o quanto ambos divergem em vários pontos.

Num debate tenso, marcado pelas sucessivas ocasiões em que os dois protagonistas se atropelaram para falarem e contestarem o que o outro dizia, Luís Montenegro deixou claro o que já tinha dito anteriormente: que não é possível um entendimento político com o Chega. “Não farei nenhum entendimento com o Chega”, afirmou logo na abertura do debate, argumentando que o PSD e o Chega são “instituições partidárias diferentes, com princípios diferentes”. “O PSD nunca alinhará num entendimento político com alguém que tem opiniões muitas vezes racistas, xenófobas”, disse Montenegro, acrescentando que “o Chega usa uma linguagem que não se compadece com a minha”, lembrando que chamou de prostituta política ao PSD.

Outro aspeto que separa os dois partidos prende-se com o que chamou de “irresponsabilidade” no que diz respeito ao programa eleitoral do Chega. “Um programa eleitoral sem contas, mas no PSD fizemos as contas e são 25,5 mil milhões de euros”.

Ao contrário de Montenegro, André Ventura manteve a porta aberta ao diálogo com o PSD no pós-eleições. “O Chega está disponível para conversar”, sublinhou. No entanto, acusou o líder social-democrata de não se decidir – “o país ficou a saber uma coisa, Montenegro é incapaz de se decidir” – e de, juntamente com Pedro Nuno Santos, serem o “o rosto do sistema que temos de combater”. Criticou ainda Luís Montenegro por dizer que não se junta a fundamentalistas, extremistas, mas ter saído da Madeira a dizer que fazia um acordo com o PAN, “só para segurar o poder, os lugares, os tachos”.

Ao não aceitar um entendimento com o Chega, Ventura defende que Montenegro está “a prejudicar os portugueses”. “Está a ser o idiota útil da esquerda, porque essa é a direita que a esquerda gosta. Porque nunca se coliga com ninguém, não terá uma maioria, e o dr. Montenegro sabe que não terá maioria nenhuma, porque as sondagens não mentem. A esquerda terá sempre a via aberta para o poder”, lamentou o presidente do Chega.

Tal como Luís Montenegro, também André Ventura apontou o PS como o seu principal adversário, mas foi mais longe. “O adversário do sistema são os dois partidos, que há 50 anos representam o mesmo sistema que nos tem inundado de corrupção, de tachos, de bandidos à solta, de descida de pensões e salários”.

“Instrumentalização” das forças de segurança e a corrupção

Um dos temas quentes do debate girou em torno das forças de segurança, com Luís Montenegro a acusar André Ventura de instrumentalizar as forças de segurança. “É indiscutível que há uma instrumentalização das forças de segurança no discurso do Chega e do deputado André Ventura”.

O líder do PSD criticou duas medidas propostas no programa do Chega. “No caso das forças de segurança, o Chega defende no seu programa a possibilidade de as forças de segurança terem filiação partidária e poderem ter acesso ao direito à greve. Duas coisas erradas”.

Na resposta, o responsável do Chega lembrou que os magistrados podem ter filiação política e que há países onde as forças de segurança têm direito à greve, e referiu que Montenegro “compromete-se com muita coisa menos com as nossas forças de segurança”.

O tema da corrupção levou André Ventura a dizer que a AD copiou as propostas do Chega. “O PSD diz que vai fazer agora o que não fez no parlamento. O Chega apresentou propostas e o PSD votou contra”. Sobre os 20 mil milhões da corrupção que o Chega diz querer aplicar parte em medidas, Ventura vincou que isso pode ser conseguido “acelerando os mecanismos de apreensão e confisco de bens”.

Já Montenegro assinalou que quer reduzir a burocracia e regulamentar o lobby para combate a corrupção, e considerou ser importante ter um “diálogo direto” com o Ministério Público, a Polícia Judiciária e a Procuradoria-Geral da República.

Falta de “realismo” nas pensões e a preocupação de Ventura

Um dos temas que ilustrou as diferenças entre os dois partidos foi o das pensões. Montenegro declarou que as propostas são “distintas no realismo”. O PSD quer fazer equivaler o Complemento Solidário para Idosos (CSI) a 820 euros, enquanto a proposta do Chega custa 9 mil milhões de euros. “O que o André Ventura defende é que o pensionista tenha um acréscimo. Pode ser alguém que tenha rendimentos de dois mil euros e ele aumenta a pensão de 300 para 800 euros na mesma”, explicou.

André Ventura, por sua vez, recordou que “desde o primeiro dia no parlamento apresentámos propostas para subir as pensões” e mostrou-se preocupado com a situações em que muitos pensionistas vivem em Portugal. “Não vivo bem num país onde há idosos com 200 ou 300 euros” de pensões, frisou.

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