Divisões entre Hamas e Fatah? Falhanço "em negociações" com Israel

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"Os partidos seculares tentaram o processo de paz. Garantimos o acordo de Oslo (1993) nas negociações com os israelitas. Mas os israelitas mataram (o então primeiro-ministro Yitzhak] Rabin [em 1995], que tinha liderado os próprios israelitas ao processo de paz", começou Nabil Abuznaid a explicar o porquê do afastamento do Hamas da Fatah, associada à Organização de Libertação da Palestina (OLP), de Yasser Arafat.

"O Hamas diz agora: 'Tentaram o processo de paz, tentaram negociações, mas perderam a maior parte da terra ou a maior parte da terra foi confiscada depois de Oslo. A maior parte da opressão aconteceu depois de Oslo. Isso significa que falharam nas negociações pacíficas. A história diz que as pessoas devem lutar pela sua própria liberdade', continuou.

Nesse sentido, prosseguiu, o Hamas questionou a Fatah pelas razões que a então ANP "acreditou" em Israel e que, desde então, levou a que se perdessem 600% das terras da Cisjordânia, confiscadas por Telavive ano pós-Oslo. "Porque é que havemos de seguir o mesmo caminho?".

"O Hamas diz hoje que, se Israel reconhecer os palestinianos e reconhecer e aceitar um Estado palestiniano, desistiremos da luta armada. Mas isso é, paralelamente, injusto. É injusto que as pessoas ponham as armas de lado enquanto ainda estão sob opressão, o que significa que devemos resistir até conseguirmos os nossos direitos ou até que o nosso inimigo aceite dar-nos os nossos direitos. 

"É esta a diferença. Se os israelitas declararem hoje que aceitamos um Estado palestiniano, o Hamas disse-o, renunciaremos a toda a resistência militar, porque não há necessidade disso", referiu, sublinhando serem essas as atuais divergências e recorrendo ao caso português para explicar as divisões.

"Agora estamos divididos nesta questão. É por isso que somos partidos diferentes. Isto é normal em qualquer país. Diferentes pontos de vista. Até vocês (Portugal) têm um partido como o Chega, de que muita gente não gosta. Mas eles têm 50 membros [no Parlamento] e fazem parte do país", explicou. 

Daí a razão, segundo Abuznaid, da dificuldade em criar a unidade no país, pois não se pode realizar uma reconciliação sem haver democracia e liberdade. 

"A liberdade é algo essencial para qualquer eleição justa. Se não formos livres, como é que podemos ser democráticos?", questionou.

"Enquanto não formos livres, é muito difícil, mesmo que choremos, queremos democracia, queremos eleições. Mas como é que isso pode acontecer? Por exemplo, Israel diz que os habitantes de Jerusalém, os palestinianos, não podem participar em eleições. Aceitaria qualquer meio de eleição neste país se algumas condições dissessem que os habitantes de Lisboa não poderiam votar?", perguntou.

Questionado pela Lusa sobre se uma possível vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas de novembro poderá complicar ainda mais o cenário palestiniano, Abuznaid salientou que, para a Palestina, trata-se de "escolher entre o mau e o pior".

"Do ponto de vista palestiniano, um é mau, outro é pior. [...] O que devemos fazer? Se não votarmos em [Joe] Biden, isso significa que Trump virá e o Trump pode ser pior. Podemos apoiar Biden contra Trump? A maioria diz que não apoiaremos nenhum dos dois", sustentou.

"Devemos enviar uma mensagem clara a ambos. Se não são bons candidatos, não os vamos apoiar. Assim, a maioria dos árabes palestinianos, muçulmanos, jovens americanos, latinos, afro-americanos, a geração jovem não votará maioritariamente. O que dá mais hipóteses a Trump de derrotar Biden", argumentou.

Para Abuznaid, historicamente, a questão da Palestina, "desde 1944 ou 1945", a questão do sionismo e de Israel, mais tarde, depois de 1948, tornou-se uma questão eleitoral. 

"Cada presidente, em primeiro lugar, avalia a sua posição em relação a Israel. Trata-se de uma questão interna nos Estados Unidos e não externa, como outras. Portanto, a questão de Israel é interna para os eleitores norte-americanos, porque é o lóbi judeu que tem o dinheiro e saem donativos para ambos os lados, Democratas e Republicanos. Mais de metade do dinheiro dado é judeu. Esta é a influência dos movimentos sionistas", acrescentou.

"Imaginem alguém como Bibi Netanyahu, agora no seu próprio país, acusado de corrupção e de crimes, acusado pelo tribunal internacional, por toda a gente, por qualquer ser humano, estão a tentar convidá-lo para falar no Congresso, no Senado e na Câmara. E eles [EUA), dizem que não trazem ditadores, não trazem corruptos, não trazem pessoas eleitas gratuitamente para falar no Congresso", sustentou Abuznaid.

Para o diplomata palestiniano, nos Estados Unidos, "dinheiro judaico é influência judaica"", concluiu.

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