Do antigo grupo dos PIGS, Itália continua a ser o caso mais preocupante

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Os países que faziam parte do muito pouco simpático acrónimo são agora um exemplo de boas contas – com Portugal à frente em termos da qualidade da dívida. Itália é o único país que regressou ao centro das preocupações dos analistas.

Portugal, Itália, Grécia e Espanha (os tristemente chamados PIGS) sofreram uma crise das dívidas soberanas entre 2007 e 2013 – acompanhadas por picos das dívidas privadas – que levaram em alguns casos à intervenção do FMI e a uma geral reserva dos países ‘frugais’ face aos devaneios do sul.

Mas, nos últimos anos a dívida pública tem sido combatida, e os PIGS passaram para o outro lado: de alunos descuidados e calaceiros – que gastavam tudo em lugares comuns mas pouco recomendáveis, como acusavam os ‘frugais’ – são agora apontados como casos de sucesso. Enquanto Espanha e Itália parecem um pouco presas quando se trata de reduzir o seu endividamento, Portugal e Grécia, que já foram a “cauda” dos PIGS, conseguiram equilibrar as contas e provar que é possível trazer a dívida de volta ao mercado.

Uma análise do jornal espanhol “El Economista”, afirma que, se Portugal conseguiu reduzir a dívida pública abaixo da de Espanha (apesar do bom momento económico que a economia espanhola atravessa) há alguns trimestres, agora é a Grécia que vai fazer o mesmo, algo que há apenas quatro anos parecia totalmente implausível. A Itália parece estar também no bom caminho. Há quatro anos, a Grécia tinha 63 pontos percentuais a mais de dívida (sobre o PIB) que a Itália. Agora, o FMI e especialistas da Scope Rartings preveem que a dívida pública da Grécia ficará abaixo da italiana algures nos próximos três anos.

Nessa altura, a Itália terá a maior dívida da Europa, dizem analistas do Scope, exigindo que o país apresente um plano para colocar as suas finanças públicas em ordem. De acordo com um relatório recentemente publicado, o endividamento do país face ao PIB excederá o da Grécia de forma mais rápida que o previsto pelo FMI (que indicava 2028). Essa perspetiva aumenta a pressão sobre a coligação da primeira-ministra Giorgia Meloni. O rácio da dívida caiu mais que o esperado no ano passado, para 137,3% do PIB, mas essa bonança está agora a ser invertida, uma trajetória reconhecida nas previsões oficiais.

“O governo italiano precisa de desenhar e implementar um plano de consolidação fiscal de médio prazo para estabilizar a dívida pública, dados os desafios colocados pelos altos custos de juros, incentivos fiscais excessivos no passado e atrasos nos gastos com o plano de recuperação para impulsionar o crescimento”, escreve Eiko Sievert, analista da Scope.

A alusão aos incentivos fiscais excessivos refere-se ao ‘Superbónus’, a medida de desagravamento fiscal em vigor desde julho de 2020 que pretendeu alavancar a eficiência energética. Uma quebra de receita de cerca de 110 mil milhões no orçamento levou o governo de Meloni a cortar a medida aos poucos. A prova da magnitude desse buraco é que dados oficiais mostraram que o défice orçamental em 2023 foi de 7,2% do PIB, bem acima dos 5,3% previstos pelo governo e mais do dobro da média da Zona Euro, um valor preocupante para um país com este nível de dívida e que paga mais de 80 mil milhões de euros por ano em juros.

A Scope calcula que o país precisa de uma poupança acumulada de 135 mil milhões de euros nos próximos cinco anos ao nível do saldo primário, a medida que compara a receita com a despesa, antes dos custos com juros. Esse cálculo pressupõe um crescimento médio anual de 1% e uma inflação de 2%. “Aumentar a eficiência e a qualidade dos gastos públicos, fortalecer a sustentabilidade do sistema de sugurança social e melhorar o cumprimento das obrigações fiscais será essencial”, conclui Sievert.

Os investidores deram a Meloni o benefício da dúvida: o spread dos títulos italianos contra os alemães – um indicador-chave de risco na região – caiu no início de 2024 para seu nível mais baixo em dois anos. Mas isso não basta e vários analistas afirmam que em pouco tempo os juros da dívida italiana vão disparar.

Com o esforço devido, dizem as mesmas fontes, talvez Itália se aproxime de Portugal, o grande exemplo dos PIGS: a dívida pública já está abaixo dos 100% do PIB (a de Espanha ainda se encontra nos 109%), tem um excedente público (mesmo que não haja entendimento sobre a sua dimensão) e todas as agências de notação lhe atribuem um grau de investimento ‘A’ .

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