Dos reféns à dinamite. Os contornos do ataque armado a TV equatoriana

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Na terça-feira, um grupo de homens armados interrompeu, em direto, um programa de televisão no Equador, acrescentando mais um capítulo a uma já longa onda de violência que assola o país.

"Assinei o decreto executivo que declara o Conflito Armado Interno", reagiu o presidente equatoriano Daniel Noboa, numa publicação divulgada na rede social X, antigo Twitter, garantindo que foram mobilizadas as forças armadas do país para levar a cabo "operações militares para neutralizar" o "crime organizado transnacional, organizações terroristas e atores beligerantes não estatais". Na mesma nota, declarou como 'organizações terroristas' 22 gangues do país.

Os homens armados tomaram como reféns os participantes do programa do canal público TC, transmitido desde Guayaquil, e exibiram, em direto, o arsenal que traziam consigo: várias armas, granadas e até um pau de dinamite. O apresentador do programa chegou, aliás, a ter uma arma apontada à sua cabeça, enquanto outra pessoa gritava: "Não disparem, não disparem". Depois, a emissão acabou por ser interrompida.

He firmado el decreto ejecutivo declarando Conflicto Armado Interno e identifiqué a los siguientes grupos del crimen organizado transnacional como organizaciones terroristas y actores no estatales beligerantes: Águilas, ÁguilasKiller, Ak47, Caballeros Oscuros, ChoneKiller,… pic.twitter.com/rVfSTFmHlG

— Daniel Noboa Azin (@DanielNoboaOk) January 9, 2024

"Por favor, vieram para nos matar. Deus, não deixes que isto aconteça. Os criminosos estão no ar", lia-se numa mensagem de WhatsApp escrita por um empregado do canal televisivo, citada pela agência AFP.

"Através dos nossos auriculares, os produtores disseram: 'Cuidado, estão a tentar entrar, estão a roubar, estão a assaltar-nos'", disse o vice-diretor de notícias do canal, Jorge Rendón, à agência de notícias Reuters. "As portas do estúdio são muito grossas, quase à prova de bala, e eles estavam a tentar entrar porque queriam ter acesso ao estúdio para que disséssemos o que eles quisessem", continuou.

No fim, a polícia libertou os reféns e fez 13 detenções, revelando a estação televisiva que dois trabalhadores ficaram feridos. Um operador de câmara foi alvejado na perna e outro partiu o braço.

— Policía Ecuador (@PoliciaEcuador) January 9, 2024

A presidência equatoriana partilhou, nas redes sociais, imagens da operação militar que permitiu as detenções.

Valiente y decidido accionar de las unidades especializadas de la @PoliciaEcuador para retomar el control en @tctelevision. pic.twitter.com/fWRQYnbQsw

— Presidencia Ecuador 🇪🇨 (@Presidencia_Ec) January 10, 2024

EUA, Argentina e Colômbia prontos para enviar ajuda

Além da reação oficial do presidente equatoriano, também os Estados Unidos, citados pela BBC, condenaram os "ataques descarados" no país, assegurando que estão a "coordenar-se em proximidade" com o presidente Daniel Noboa, prontos para "providenciar ajuda".

Já a Argentina expressou "firme apoio" às autoridades e ao povo equatorianos e ofereceu o envio das "forças de segurança, se necessário, para ajudar" o país numa "questão continental", ao passo que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse, na rede social X, que o país está atento "a todo o apoio que o governo do Equador solicite".

Estamos atentos a todo el apoyo que el gobierno del Ecuador nos solicite.

— Gustavo Petro (@petrogustavo) January 10, 2024

Também na terça-feira, o governo do Peru anunciou a imposição do estado de emergência em toda a fronteira de 1.500 quilómetros com o Equador e o envio das forças armadas para vigiar a área em conjunto com a polícia.

Equador em estado de exceção

Em resposta à fuga da prisão do maior líder de tráfico de droga do país, José Adolfo Macías Salazar, mais conhecido como 'Fito', e de um crescimento no número de casos de violência, foi decretado no Equador o estado de exceção, na segunda-feira. Desde então, segundo a BBC, pelo menos 10 pessoas já foram mortas - das quais oito em ataques violentos em Guayaquil e duas, agentes da polícia, em Nobol, por "criminosos armados".

Cerca de 3.000 agentes de segurança estão nas ruas, numa busca urgente pelo "prisioneiro mais procurado" do Equador, que será, alegadamente, o líder do gangue Los Choneros, um dos maiores do país.

Depois da fuga, o país tem registado vários episódios de violência, que incluem o rapto de pelo menos sete agentes da polícia, uma explosão perto da casa do presidente do Tribunal Nacional de Justiça do Equador e incêndios em vários automóveis. As autoridades não revelaram, contudo, quem está na origem dos ataques e se os mesmos fazem ou não parte de uma ação orquestrada.

A BBC revela, no entanto, que ainda é incerto se a fuga da prisão de 'Fito' está, ou não, relacionada com o ataque à televisão equatoriana em Guayaquil. Não é clara ainda, aliás, a afiliação dos autores deste ato de violência.

Leia Também: Vaga de violência deixa pelo menos oito mortos e três feridos no Equador

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