"É a justiça que temos". Arguidos da investigação na Madeira continuam à espera de serem ouvidos

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Na passada quarta-feira a PJ realizou cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias na Madeira, Açores e continente. Miguel A. Lopes - Lusa

Detidos há uma semana, os três arguidos da investigação na Madeira deverão começar a ser interrogados esta quarta-feira, após sucessivos adiamentos. Os advogados de Pedro Calado, Custódio Correia e Avelino Farinha falaram esta manhã aos jornalistas no Campus de Justiça.

“Nós fazemos prova assente em factos. Esses factos têm de estar claramente demonstrados”, começou por dizer a defesa de Pedro Calado.

Sobre as declarações do diretor nacional da Polícia Judiciária, que rejeitou alegadas fugas de informação, o advogado Paulo de Sá e Cunha disse acreditar na palavra de Luís Neves, mas verificar que de facto existem fugas.

“Acredito sempre no que diz o senhor diretor da PJ, mas quando olho para o lado também vejo muitas fugas de informação. Não sei de onde é que elas saem, mas que saem saem. Mas isso é um hábito”, afirmou.


Já Raul de Veiga, advogado de Avelino Farinha, desvalorizou as escutas que envolvem o seu constituinte e Pedro Calado, que tratou o primeiro por “chefe”.

“Ele de facto é chefe dele. Ficou com muita admiração pelo senhor Avelino Farinha e, por simpatia e por delicadeza e uma certa graça, dizia ‘chefe, chefe’, e o senhor Avelino Farinha retribuía com toda a consideração, dizendo ‘presidente, presidente’”, explicou aos jornalistas.

“Não tem nada a ver com um pacto corruptivo, antes pelo contrário. As pessoas têm que perceber que, além de pactos corruptivos, há relações de amizade normal, há relações de admiração normal”, acrescentou.


André Navarro de Noronha, advogado de Custódio Correia, foi questionado sobre a demora em ouvir os arguidos, detidos desde quarta-feira passada.

É a justiça que temos, é assim que funciona, é o sistema que temos. Gostava que não fosse, acho que tem de mudar radicalmente”, declarou.


Na passada quarta-feira, na sequência de cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias efetuadas pela Polícia Judiciária na Madeira, nos Açores e em várias zonas do continente, foram detidos o então presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, o líder do grupo de construção AFA, Avelino Farinha, e o principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, Custódio Correia.

Dois dias depois, o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, anunciou que iria renunciar ao cargo.

Na segunda-feira, o representante da República aceitou esse pedido de demissão, mas esclareceu que ainda não decidiu em que data produz efeitos, admitindo que isso pudesse acontecer só depois da discussão e aprovação do Orçamento Regional para este ano.

Em causa no processo estão suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência, segundo a PJ.

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