E se Southgate for um excelente selecionador?

2 meses atrás 54

«Palavras à Sorte» é a rubrica diária dos jornalistas do zerozero durante o Euro 2024. Todos os dias, na Alemanha ou na redação, escrevemos um apontamento pessoal sobre a competição e todas as sensações que ela nos suscita.

Ser selecionador nacional parece uma vida de sonho. Um salário simpático, três quartos do ano em folgas e ainda a porta aberta para a assistir a qualquer jogo sem responsabilidades sobre o desfecho do mesmo. Maravilha! É, pelo menos na teoria, uma experiência bem mais agradável do que treinar um clube, onde a pressão e o volume de trabalho simplesmente não abranda, dia após dia após dia...

Claro que também há um ou dois tópicos no lado dos contras. Implementar uma filosofia e estilo de jogo mais complexo numa seleção, onde os treinos são uma raridade e o plantel muda a cada convocatória, é o pesadelo de qualquer treinador que não tenha queda para o pragmatismo. Para piorar, mesmo que esse pragmatismo de facto exista, será quase garantidamente rejeitado pelos adeptos (que, no caso de uma seleção, são a população inteira.)

«Temos jogadores tão bons e não jogamos nada!» Dirão, insatisfeitos com a componente estética do jogo da sua seleção, mesmo que esta tenha voltado a vencer.

E não me entendam mal, o lado dos adeptos é totalmente compreensível. Ninguém quer ver a sua equipa fazer um jogo medíocre e vencer à rasca contra adversários quase sempre mais fracos. Queremos ganhar, pois claro, mas não somos selvagens... Deem-nos um bom espetáculo, caramba!

Não consigo, ainda assim, desligar a empatia que sinto por Gareth Southgate

Inglaterra joga futebol atrativo? Nem por sombras. Tem qualidade individual suficiente para jogar muito melhor? Óbvio. Mas a verdade é que vai disputar apenas a segunda final de um Euro em toda a sua história e a primeira, há três anos, também foi sob o leme deste selecionador! Há algum mérito nisso, certamente.

Quando Southgate, então selecionador sub-21, foi promovido à equipa principal, depois de um escândalo em torno de Sam Allardyce, a imprensa inglesa noticiou que este precisou de ser convencido. Acreditava que não estava pronto. E provavelmente estava certo na sua crença, mas, contrariado, assumiu um posto que outros considerariam de sonho e a partir do estatuto de interino construiu uma carreira que já vai em quase oito anos.

Durante este tempo, nunca foi consensual. Parece ser a face de um selecionador incompetente, ou o elo mais fraco de uma seleção que tem Kane, Bellingham e Foden, mas o eco das redes sociais nem sempre corresponde à verdade. Afinal, certamente ainda há quem se lembre que a Inglaterra de Rooney, Lampard e Gerrard (Ferdinand, Terry, Beckham...) falhou a qualificação para o Euro 2008

Tudo começou com um 2-2 frente à Espanha, em 2016, e o fim pode ser frente ao mesmo adversário. Vencendo ou não o Euro 2024, perante uma roja que De La Fuente fez bem mais apreciável que o adversário deste domingo, acredito que justiça será feita: Southgate será lembrado como o melhor selecionador inglês do século XXI e um dos melhores de sempre. 

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