Eleições Europeias. O que dizem as ruas de Paris?

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Eleições Europeias

05 jun, 2024 - 15:28 • Pedro Mesquita , enviado da Renascença em França

As sondagens apontam para a vitória da extrema-direita, em França, a grande distancia tanto do partido de Macron, como do socialista Raphaël Glucksmann. Mas nem todos os franceses valorizam as sondagens, e por vezes há surpresas. A Renascença foi ouvir o que dizem as ruas de Paris.

QUA PEDRO MESQUITA D5 - REPORTAGEM
Carlos chegou a França ainda em criança, já passaram 60 anos. É um mecânico experiente e, a avaliar pelas suas palavras, se este país fosse um motor ia ter muito trabalho Foto: Renascença

Arnauld tem 44 anos, é francês, e não acredita em sondagens. Enquanto lava o chão da peixaria, onde trabalha, Arnauld declara-se apoiante do atual Presidente: “Vai correr tudo bem, como habitualmente. Macron fez bem o seu trabalho. Não acontecerá aquilo que dizem as sondagens…Macron é que vai ganhar. Macron enfrentou o Coronavírus, a guerra na Ucrânia, e fez muito pela França.”

Entramos agora numa lavandaria. Enquanto põe a roupa na máquina, Augusto – filho de imigrantes portugueses - conta que já nasceu em França e que já não vota há mais de 10 anos. Foi à tropa, sempre trabalhou e paga impostos, mas disseram-lhe um dia que não é prioritário: “Desde que o meu filho nasceu, em 2003, que não voto. Eu trabalho desde os 18 anos, fiz o serviço militar e tudo. Quando o meu filho nasceu, pedi uma creche gratuita para ele, mas disseram-me que não sou prioritário. Perguntei-lhes quem era prioritário. Eram os estrangeiros, as pessoas que vêm de África. Já as pessoas que nasceram em França, têm trabalho e pagam impostos não são prioritárias.”

Prioridade é uma palavra repetida vezes sem conta por Augusto…e é por causa dessa prioridade que, desta vez, até admite votar: “Se votar, será na Frente Nacional de Marine Le Pen. Eles tem uma prioridade, primeiro os franceses. E não é que eu seja racista. Marine Le Pen está sempre a dizer que a prioridade são os franceses, as pessoas que trabalham”.

Se votar, será na Frente Nacional de Marine Le Pen. Eles tem uma prioridade, primeiro os franceses. E não é que eu seja racista. Marine Le Pen está sempre a dizer que a prioridade são os franceses, as pessoas que trabalham”, diz o filho de portugueses

Regressamos à rua. Fucks Audine, francesa na casa dos 50 anos, espera pelo autocarro. Diz que o mais importante, nestas europeias, é que a União se torne mais forte: “Que a Europa seja mais forte em relação à China e à Rússia”.

Mas Audine ainda não decidiu o sentido de voto: “Sim, não sei ainda em quem vou votar porque há muitos, muitos, candidatos. À esquerda não sei quantos são... E à direita também não. Na verdade, eu situo-me mais à direita, mas não sou pela extrema-direita”.

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A conversa acabou porque, entretanto, chegou o autocarro. Entramos agora numa oficina de automóveis, onde está mais um português. Carlos chegou a França ainda em criança, já passaram 60 anos. É um mecânico experiente e, a avaliar pelas suas palavras, se este país fosse um motor ia ter muito trabalho: “Aqui em França está tudo mal. São as migrações, é a segurança das pessoas, a justiça…Enfim”.

Bem sabemos que o voto é secreto, mas arrisca-se a pergunta: "Em quem vai votar, nas europeias?"

“Le Pen. Voilá. É contra a minha convicção porque eu sou emigrante, mas já estou farto de pagar para pessoas que não fazem nada. Eu sou filho de emigrantes e claro que não voto em Marine Le Pen por convicção, mas atualmente temos que sentir alguma revolta contra os outros partidos que nunca fizeram nada”.

Carlos aposta em Marine Le Pen, mas é uma outra Marine que conheço na rua: Marine Laurene. Ainda não decidiu em quem irá votar: “Ainda não sei, para dizer a verdade, mas posso votar em todos menos na extrema-direita…isso garanto”.

“Eu sou filho de emigrantes e claro que não voto em Marine Le Pen por convicção, mas atualmente temos que sentir alguma revolta contra os outros partidos que nunca fizeram nada”.

Já Marine considera essencial respeitar os direitos dos cidadãos, a 100%, incluindo os imigrantes: “Eu também sou uma estrangeira, de origem. Eu sou francesa, mas nasci na Costa do Marfim. Os direitos dos imigrantes, com a extrema-direita seriam um pouco abafados…e isso seria complicado.”

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