Eleições nos Estados Unidos: balbúrdia no oeste

9 meses atrás 110

As primárias para as presidenciais dos Estados Unidos de novembro de 2024 estão prestes a começar. Depois de um interregno de quatro anos, a balbúrdia que acompanhou a presidência de Donald Trump vai agora regressar em força. 11 meses para esquecer.

Para já, o cenário não deixa dúvidas: o ex-presidente Donald Trump está em primeira instância impedido de concorrer em dois dos 50 Estados norte-americanos – o que, do seu ponto de vista (do de perseguido pela justiça dos EUA) não parece merecer grande preocupação – o ainda presidente Joe Biden tem cada vez mais dificuldade em mover-se nos corredores estreitos da sua minoria na câmara dos Representantes do congresso. E o mundo prepara-se para assistir a 11 meses de batalhas que, a acreditar no exemplo dos anos anteriores – trará para a rua todos os fantasmas que existirem dentro dos armários republicanos e democratas, todas a roupa suja e todas as ameaças. Vão ser 11 meses – as primárias começam já este janeiro (no Iowa) em que a administração Biden terá dificuldade em manter o foco na sua própria agenda (na interna, quanto mais na externa) e os republicanos tratarão de a minar todos os dias.

Há meses que as sondagens indicam que Trmp é a melhor aposta para os republicanos baterem Biden – ao mesmo tempo que indicam que Biden é o único democrata que conseguirá não perder por muitos com o ex-presidente republicano.

Entretanto, para mais tarde ficará a análise sobre o que é que correr mal nestes últimos quatro anos: a ideia inicial era que a vice-presidente, Kamala Harris, tivesse paulatinamente assumido as rédeas do poder na Casa Branca e permitisse a Biden uma retirada preparada e sem sobressaltos até à mais que merecida reforma. Não foi nada disso que aconteceu: Harris não se conseguiu mostrar como alternativa e desapareceu no limbo da política interna de baixo substrato – de que a presença na COP28 é a exceção que confirma a regra. Resultado: quatro anos depois, os democratas não só não têm alternativa a Biden, como aparentemente nem sequer chegaram a fazer um esforço interno nesse sentido. Uma vergonha para um partido com os pergaminhos dos democratas.

Do outro lado, os ‘renovados’ (e cada vez mais radicais) republicanos passaram quatro anos focados nas suas duas prioridades: dar cabo da agenda dos democratas (e os ucranianos bem podem queixar-se do sucesso conseguido nessa área) e manter Trump como o candidato do partido. Foi um sucesso a 100%.

Ninguém parece acreditar que Trump acabe mesmo por ser impedido de concorrer às presidenciais de novembro. E talvez o melhor seja que isso não suceda – até porque, com a extrema-direita cada vez mais bem acolhida por um número crescente de norte-americanos (e de europeus), se Donald Trump fosse impedido de concorrer, talvez o próximo assalto ao Capitólio fosse um bocadinho mais violento.

Entretanto, o ‘velho’ amigo Steve Bannon – um dos mentores do plano de governo do argentino Javier Milei – está mais ou menos desaparecido em combate. Mas, como dizem alguns dos seus críticos, isso é a altura em que ele é mais perigoso.

A ponte atlântica

Um dos pontos mais interessantes do ano – com evidentes repercussões nos dois lados do Atlântico – serão as eleições parlamentares europeias. Qualquer bom resultado dos extremistas de direita na Europa (em junho) será saudado por Trump como uma espécie de abertura do caminho para um ocidente novo, desta vez alinhado entre a Europa e os Estados Unidos.

Nada de mais perigoso para as relações multilaterais – que são a única mais-valia da quase inexistente diplomacia europeia – que os 27 gostam de exibir. Nada de mais perigoso para os ucranianos, para os palestinianos, e muito provavelmente nada de mais perigoso para os kosovares. E para Mark Rutte, se se der o caso de vir a ser o próximo secretário-geral da NATO. Quanto a António Guterres, o melhor é esquecer.

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