Em caso de guerra. Força militar de elite japonesa conta com fuzileiras

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Hikari Maruyama tem 38 anos, Sawaka Nakano 42 e Runa Kurosawa ainda não completou 21. Em comum, têm uma carreira na Brigada Anfíbia de Desdobramento Rápido (ARDB) do Japão, destinada operar em cenários de guerra no mar. Vivem a bordo do JS Osumi, um navio de desembarque de tanques da Força de Autodefesa Marítima Japonesa destacado para exercícios no Mar da China Oriental.

São treinadas para serem as melhores, mas pela frente têm vários papéis para desempenhar.

“O ARDB tem a reputação de ser exigente física, mental e tecnicamente, e acho que muitas mulheres preocupam-se como facto de como conseguiriam lidar com isso”, observa a sargento Maruyama, que é médica e mãe de duas meninas.

Com o marido também alistado na Força de Autodefesa Terrestre Japonesa, a fuzileira reconhece que mais ajuda para cuidar dos filhos seria importante.

“A realidade é que se espera que as mulheres estejam mais envolvidas no crescimento dos seus filhos”, mas em simultâneo, têm que garantir uma boa prestação na carreira militar, sublinha.

O número de elementos femininos duplicou nos último anos, embora continuem a representar apenas 8,7 por cento dos 230 mil nas Forças de Autodefesa.

“As mulheres são cruciais na estabilidade do grupo de recrutas”, realça Shingo Nashinoki, então comandante da força ARDB.


Maruyama e o cabo Kurosawa, 20 anos, fazem alongamentos na pequena academia do navio enquanto | Issei Kato - Reuters
Rapazes não entram
A bordo do Osumi, as mulheres não são comuns e a organização dos grupos masculino e feminino obedece a regras diferentes. As mulheres ficam todas juntas, independentemente da patente.

“Não há muitas mulheres nas Forças Armadas e é importante encontrar alguém com quem conversar”, observa Kurosawa, que é mecânica e faz a manutenção dos camiões.


Hikari Maruyama e Runa Kurosawa a bordo do JS Osumi | Issei Kato - Reuters

Por sua vez, os fuzileiros a bordo são avisados para ficarem longe da área de acomodação das militares. Desde que os casos de assédio sexual que vieram a lume nos últimos meses as Forças japonesas tecem esforços para garantirem maior segurança às militares.

Em outubro, o ministro da Defesa, Minoru Kihara, teve que fazer um pedido de desculpas formal, depois de uma marinheira japonesa ter sido forçada a encontrar-se com um superior acusado de assediá-la sexualmente. Em dezembro, um tribunal japonês considerou outros três soldados do sexo masculino culpados por agredirem sexualmente uma camarada.

“Isso deixa-me um pouco sem palavras. É importante deixar claro para todos, o que é assédio e continuar a educar as pessoas”, disse a capitão Nakano, a bordo de um navio com 20 anos, agora adaptado a uma tripulação mista. A fuzileira aspira ainda a poder ver “mais funções atribuídas às mulheres”, acrescentou.

Quase três mil em 1950
A Reserva Feminina do Corpo de Fuzileiros Navais foi criada em fevereiro de 1943.

Antes do fim da II Guerra Mundial, havia um total de 23.145 oficiais e mulheres reservistas alistadas a servirem o Corpo. Os registos reportam ainda que as mulheres fuzileiras navais realizaram mais de 200 missões militares.

Além do trabalho administrativo, as mulheres montavam os paraquedas, eram mecânicas, operadoras de rádio, cartógrafas, soldadoras e garantiam o transporte motorizado.

Em junho de 1944, as mulheres reservistas representavam 85 por cento do pessoal alistado em serviço no quartel-general, no Corpo de Fuzileiros Navais.

Após a rendição do Japão, a desmobilização da Reserva das Mulheres foi rápida. Porém, em agosto de 1950, pela primeira vez na história, as Reservas Femininas foram mobilizadas para a Guerra da Coreia, onde o número de fuzileiras navais no ativo atingiu um pico de 2.787.
Contexto geopolítico incerto: EUA, China, Rússia, Coreia do Norte

O consenso geral é que o globo está a atravessar a maior incerteza desde a II Guerra Mundial. Neste contexto, o Japão precisa de pensar estrategicamente sobre o tipo de soluções que pode oferecer em 2024.


Soldados da Brigada Anfíbia da Força de Autodefesa Terrestre Japonesa participam num exercício militar na ilha de Tokunoshima, Japão | Issei Kato - Reuters

Os Principais Riscos de 2024 para o Japão, de acordo com o relatório do Eurasia Group, estão diretamente relacionados com os grandes intervenientes globais, com a eleição presidencial nos EUA no topo da lista, e depois a China e a Rússia.

O nome do próximo presidente norte-americano está a criar muitas dúvidas no Governo de Fumio Kishida, embora Washington e Pequim sejam os grandes parceiros económicos de Tóquio. Por outro lado, a segurança japonesa está ameaçada por outra parceria emergente - Rússia e Coreia do Norte.

Para além dos ensaios de mísseis da vizinha Coreia do Norte em 2023, a Rússia, também vizinha, tornou-se uma ameaça ainda maior para o Japão, após o apoio de Tóquio ao Ocidente na aplicação das sanções económicas contra Moscovo. Em resposta, a Rússia intensificou os exercícios militares em torno do Japão.


Entretanto, os treinos militares no Japão tornam-se mais visíveis numa altura em que o Governo prevê aumentar os gastos com defesa para dois por cento do PIB até 2027.

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