Empresas podem poupar mais de mil milhões por ano tornando-se locais de trabalho saudáveis

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A promoção de práticas que visem que as empresas se tornem locais de trabalho saudáveis pode trazer enormes benefícios às organizações. Em entrevista ao JE, Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, quantifica essas vantagens.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) tem vindo a promover, junto das empresas, o desenvolvimento de locais de trabalho saudáveis que contribuam para a segurança, o bem-estar e a saúde física e psicológica dos seus funcionários.

Além disso, esta entidade distingue as empresas e organizações que contribuem de forma mais positiva em dois aspetos: a prevenção dos riscos psicossociais e a promoção de locais de trabalho saudáveis e de saúde ocupacional.

Em entrevista ao JE, Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da OPP, explicou o impacto na economia das empresas que as organizações podem sentir com a adoção destas medidas, mas também quais as alterações ao nível dos quadros salariais e até mesmo no valor da empresa.

Como é que se pode definir um local de trabalho saudável?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde um Local de Trabalho Saudável é aquele em que todos os membros da organização (empregadores, gestores e trabalhadores) cooperam com vista à melhoria contínua dos processos de proteção e promoção da saúde, da segurança e do bem-estar. O Prémio e selos distintivos atribuídos pela Ordem dos Psicólogos Portugueses é o reconhecimento do esforço feito pelas organizações neste sentido. Não é um atestado que está tudo bem. Nunca está tudo bem. Mas essa procura pela melhoria e certos padrões organizacionais deve ser reconhecida e estimulada, bem como servir de exemplo para todos.

Que principais preocupações devem ter as empresas para serem locais de trabalho saudáveis?

As organizações devem ter a preocupação de conhecer a situação em que se encontra a saúde dos seus locais de trabalho, criando para isso processos sistemáticos e regulares de avaliação dos riscos psicossociais, bem como desenvolverem nessa sequência, planos de prevenção de acordo com a sua realidade. Esta intervenção preventiva pode ser ao nível: do trabalho e das suas tarefas, como é tentar assegurar a adequação da carga de trabalho às competências das pessoas; ou ao nível da organização e seus processos, como por exemplo ter uma politica de tolerância zero face a comportamentos discriminatórios; ou ainda, ao nível das relações interpessoais, em que os gestores recebem formação para lidarem com os problemas pessoais que podem afetar o desempenho profissional dos trabalhadores; para além das questões de desenvolvimento profissional e de carreira, para reconhecimento ou conciliação da vida pessoal com o trabalho. Estes são apenas alguns exemplos.

Que impacto podem ter estas medidas na economia das empresas?

Face apenas aos custos diretos, quase sempre não calculados, em que as empresas incorrem, afetando a sua produtividade e sustentabilidade, estas medidas podem poupar, segundo estimativas conservadoras, mais de mil milhões de euros por ano às empresas privadas portuguesas, sem contar com o sector financeiro.

A retenção de talento exige que as empresas tomem medidas no sentido de manter os melhores nos seus quadros?

Está cada vez mais a ser um fator mais do que diferenciador: uma condição mínima para muitos talentos, nomeadamente da geração z, mas não só, aceitarem a proposta de uma organização ou manterem-se nela. “Que programas de promoção da saúde mental é que têm?” é cada vez mais uma pergunta definidora.

Que riscos correm as empresas que não promovem ambientes de trabalho saudáveis?

Para além de perderem a corrida da atracção e vinculação de talentos e das suas lideranças estarem a incorrer em falhas, no mínimo éticas, pelo impacto causado na saúde das pessoas que nelas trabalham (pela forma como estão a gerir o seu trabalho), está a perda de produtividade e a menor sustentabilidade a prazo da organização. De acordo com a OCDE, em 2021, o stresse custou às economias europeias 4% do PIB e 600 mil milhões de euros. Em Portugal, em 2022, O stresse e outros problemas de saúde psicológica custaram às empresas privadas do sector não financeiros, só em custos diretos, 5,3 mil milhões de euros, conforme estimativa feita pela OPP e publicada no Relatório de Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações.

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