Energia nuclear responde por 10% da eletricidade mundial mas pode triplicar até 2050

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A Bain & Company antecipa três prioridades para permitir a rápida expansão do nuclear. A primeira passa por elaborar modelos de negócio e regulamentos com uma visão de futuro. Depois desenvolver cadeias de abastecimento e uma força laboral mais robustas e por fim adotar abordagens de curto e longo prazo para escalar as tecnologias.

O interesse pela energia nuclear está a aumentar a nível mundial. Quem o diz é a Bain & Company.

“A prova mais evidente desse interesse é o compromisso com a triplicação da capacidade mundial de produção de energia nuclear até 2050, assumido por 22 países na COP28”, refere a consultora.

Os defensores da energia nuclear veem-na como essencial à resolução da crise energética global e ao alcance das zero emissões líquidas, e à substituição de frotas de transporte antiquadas e de fontes de energia com despacho, como o carvão, o gás e tecnologia obsoleta.

Mas, conforme questiona a Bain & Company na análise ‘What Will It Take to Triple Nuclear Energy by 2050?’, o que é necessário para cumprir um objetivo tão ambicioso?

Além do apoio público e da segurança, triplicar a capacidade nuclear global vai exigir biliões de dólares em investimento e uma maior competitividade ao nível dos custos energéticos, avança a análise.

Para atingir esse objetivo, vai ter de acelerar o desenvolvimento da força laboral, que poderá resultar em mais de cinco milhões de novos empregos, refere a Bain & Company.

A análise dá conta que a escala, a complexidade e as normas e os regulamentos envolvidos na construção de centrais nucleares não têm paralelo entre os investimentos em infraestruturas, “exigindo milhares de milhões de dólares ao longo de décadas e mais de um milhão de horas de engenharia, a criação e a implementação destes projetos assemelha-se à que encontramos em mega-empreendimentos de infraestruturas públicas”.

Os investimentos em fornecedores e nas suas competências vão ser essenciais e poderão exigir iniciativas proativas de financiamento público-privado, ainda segundo o mesmo estudo.

O estudo refere ainda que “o financiamento do nuclear não é o único obstáculo e as empresas líderes em energia estão a repensar os seus modelos de negócio, cadeias de abastecimento e a forma como podem amplificar as tecnologias”.

“Desde logo, um investimento sem precedentes. Seriam necessários biliões de dólares em financiamento para atingir cerca de 1.200 gigawatts de capacidade nuclear global. Isso triplicaria praticamente a atual capacidade instalada das mais de 400 centrais nucleares em todo o mundo e implicaria a substituição e a desativação dos reatores existentes. Além do investimento massivo, este é um desafio ousado com alguns pré-requisitos: a competitividade dos custos da energia nuclear, o apoio público e, claro, a garantia e a perceção de segurança”, adianta Eduardo Ferreira de Lemos, responsável pela prática de energia na Bain & Company.

“As centrais nucleares geram cerca de 10% da electricidade e um quarto da electricidade de baixo carbono a nível mundial”, refere o estudo. “Contudo, muitas dessas centrais estão envelhecidas, especialmente nas economias mais avançadas – tendo, em média, cerca de 39 anos”, acrescenta.

“O problema é que a indústria tem um historial limitado no que respeita à entrega de novos projetos capitais dentro do prazo e do orçamento, em especial nas economias mais avançadas”, constata.

Nesse sentido, a Bain & Company antecipa três prioridades para permitir a rápida expansão do nuclear. A primeira passa por elaborar modelos de negócio e regulamentos com uma visão de futuro. Depois desenvolver cadeias de abastecimento e uma força laboral mais robustas e por fim adotar abordagens de curto e longo prazo para escalar as tecnologias.

O estudo destaca que a curto prazo, os impulsionadores da energia nuclear deverão concentrar-se na estabilização de tecnologias maduras “o mais rapidamente possível”, para que possam “aplicar as lições aprendidas e colher os benefícios operacionais de forma sistemática”.

Os principais impulsionadores estão a considerar novas abordagens, como a padronização de componentes e de processos para reduzir os custos. Isto é vital para os pequenos reactores modulares (SMR), que dependem das “economias de volume” em vez das “economias de escala”.

“A longo prazo, o mundo não vai conseguir triplicar a capacidade nuclear sem ampliar as tecnologias inovadoras dos reatores, que podem melhorar o uso do combustível e desbloquear novas oportunidades de mercado, como a geração de calor ou hidrogénio, a dessalinização e o combustível marítimo”, conclui o estudo.

A fusão também parece no caminho certo para assumir um papel, à medida que os esforços para introduzi-la no mercado ganham impulso, refere a Bain & Company.

Segundo a Agência Internacional de Energia Atómica, estão em desenvolvimento mais de 80 novos projetos em grandes reatores, pequenos reatores modulares, reatores modulares avançados, como os microrreatores, e fusão.

“Parece-nos que os pioneiros vão conseguir uma vantagem considerável, enquanto os campeões nacionais poderão surgir em países onde os governos optem por apoiar os seus ecossistemas nacionais”, defende a consultora.

“Em última análise, triplicar a capacidade nuclear até 2050 pode ser um objectivo ambicioso. Mas, se não for por mais nada, pode galvanizar os stakeholders públicos e privados, acelerando significativamente o crescimento desta indústria. Para os executivos das empresas e os governos, o momento de agir é agora”, conclui a Bain & Company.

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