Ensaio – Usada do mês – Honda VFR800 VTEC – sete mil – o número mágico

9 meses atrás 91

O que não falta à Honda são modelos icónicos e símbolos de gerações. Em 1986 nasceu mais um, a Honda VFR750F, a primeira VFR de sempre. Desde então estas siglas seguem o legado da Honda para todo o lado. Testámos a primeira VFR800 VTEC (e provavelmente das primeiras no nosso país) e fomos fazer uns quilómetros para vos contar tudo.

Já passaram mais de 35 anos desde o lançamento do modelo VFR original e a sua popularidade parece estar a atingir novos máximos. A VFR750 F de 86’ era uma moto com muita qualidade e com um preço acessível para aquilo que oferecia. São muitos os que afirmam que isso se deveu à tentativa da marca nipónica em se distanciar e redimir do lançamento da Honda VF, originalmente colocada no mercado em 1983.

Não querendo cometer os mesmos erros do passado, a Honda tentou imediatamente cimentar a VFR no mercado e à data da renovação da moto original, em 1990, surge a segunda geração e a marca da asa dourada já tinha uma base sólida onde trabalhar. Em 1998 surge uma nova renovação quase total da moto, com o aumento da cilindrada do V4, passando de 748 cc para 781 cc, bem como a potência do mesmo que chegou aos 110 cv. O quadro e o braço oscilante também foram alvo de modificações profundas de forma a reduzir o peso da VFR e a introdução da travagem combinada com ABS foi igualmente importante, mas não agradou a todos.

Em 2002 a VFR divide ainda mais opiniões, com uma nova geração em que a Honda introduz o sistema V-Tec, testado inicialmente na CB400SF VTEC, lançada apenas para o mercado japonês em 1999. Criado para proporcionar uma boa resposta em baixos e médios regimes, este sistema – de forma simplificada – desativava duas das válvulas em cada cilindro oferecendo melhor combustão e resposta até às 7.000 rpm, altura em que as 4 válvulas por cilindro eram ativadas e o potencial do motor libertado na sua totalidade! Na teoria, o V-Tec é um sistema perfeito no que diz respeito ao que pode oferecer, mas a verdade é que as críticas foram mistas, com muitos utilizadores a ficarem agradados e outros tantos a afirmarem que as desvantagens eram maiores do que os ganhos.

EXPERIENCIAR O V-TEC

Fonte:Motociclismo

É verdade, o foco desta versão é sem dúvida o motor V4 com o sistema V-Tec e é por aí que devemos começar a contar a nossa experiência com esta moto. A unidade ensaiada contava com pouco mais de 27.000 km e está num estado de conservação irrepreensível, desde a estética ao motor. E sim, atualmente existem sistemas de válvulas variáveis em diversos modelos e marcas diferentes, mas talvez este seja o mais famoso do mundo e conseguimos perceber o porquê. A VFR800 V-Tec tem uma sonoridade inacreditável em toda a faixa de rotação – especialmente esta unidade com os escapes da Delkevic – e é difícil ignorar o enorme folgo que a moto ganha a partir das 7.000 rpm. É também complicado de ignorar que a entrada em ação do V-Tec é bem notória e está algo ultrapassada em termos de suavidade, quando comparada com os padrões atuais de outros sistemas semelhantes. Aqui sente-se como se fosse um pequeno turbo.

Mas é incontrolável ou perigoso? Não. Nem perto disso. Bem pelo contrário. Coloca um sorriso enorme na cara e cria uma vontade ainda maior de andar sempre acima da 7.000 rpm e ouvir o V4 a rugir em todo o seu esplendor. A verdade é que esta moto conta com um motor muito “simpático” e amigável em rotações mais modestas e quando decidimos abrir a “jaula” ao V4 em alta rotação, ele é o rei da selva. Ou da estrada neste caso.

O CONJUNTO

Fonte:Motociclismo

Esta moto tem um coração tão único que quase nos faz esquecer do restante conjunto, que também é bastante apelativo. Desde a sua génese que a VFR não tem um propósito meramente desportivo, mas também não é uma moto de turismo. É sim uma sport touring, um termo quase desconhecido hoje em dia na verdade. A moto é cómoda, com um assento largo e espaçoso e uns avanços subidos para maior conforto em deslocações na cidade e fora desta. Simultaneamente a suspensão dianteira de 43 mm oferece um bom comportamento em condução mais aplicada (apesar de só possuir ajuste da pré-carga), assim como o amortecedor com ligação Pro-Link – com ajuste de pré-carga e extensão – conectado a um suporte de alumínio na parte de trás do motor. E pode não ser uma desportiva pura e dura, mas a VFR800 V-Tec oferece sensações muito boas e momentos de diversão quando é solicitado todo o seu potencial.

Contudo, é na parte mais turística e relaxada que esta moto se destaca, com o conforto e facilidade de condução a estarem em destaque para grandes deslocações a ritmos mais rápidos, ou mesmo pequenos trajetos em cidade a baixa velocidade. O acelerador é preciso e a embraiagem e caixa suaves, tendo em conta os mais de 20 anos deste modelo.

Mas há algo a apontar – nada é perfeito. Os travões. Apesar de já contar com um sistema de travagem combinada, tanto a potência como o tato não são os melhores. É necessária muita pressão na manete do lado direito e mesmo após aplicar muita força, a eficácia não se revela a melhor e garantidamente que o sistema está longe do que se espera de uma moto sport touring atualmente, mas também das motos da sua época.

A FAZ TUDO

Fonte:Motociclismo

No fim do dia foi impossível largar esta VFR sem um sorriso na cara, muito por culpa da sonoridade incrível do seu V4. Ainda assim, todo o seu conjunto é prazeroso e oferece boas sensações em qualquer situação de condução. E há sempre algo neste tipo de trabalhos que dá um gozo especial. A ausência de eletrónica e sistemas avançados de segurança faz-nos pilotar a moto de uma forma diferente, e muitas vezes desfrutar mais e aproveitar melhor tudo o que esta tem para dar. As sensações são mais reais e viscerais, e quando essas sensações são boas, há pouco que se possa dizer para contrariar o enorme sorriso que fica no rosto.

A moto não é perfeita e os seus 22 anos dão sinais em alguns departamentos, especialmente na travagem (noutros até nos esquecemos das duas décadas), mas não deixam esta VFR800 V-Tec perder a capacidade de nos proporcionar enorme prazer de condução.

O PROPRIETÁRIO – RUI JORGE

Fonte:Motociclismo

«Lembro-me que em 2001, quando tirei a minha carta de moto, de ter visto nas revistas da especialidade as primeiras imagens da Honda VFR800 VTEC, e fiquei apaixonado.

Era a moto que queria para mim um dia, mas a vida deu umas voltas e acabei por ficar com a GSX-R 1000 durante anos (também uma moto que sempre sonhei ter). Passados 20 anos tive a oportunidade de adquirir esta VFR e fez-se o círculo, além que foi uma maneira de homenagear o meu pai que teve uma VFR de ’94, umas das motos mais marcantes da vida dele.

Embora não tenha uma potência por aí além, mal o sistema VTEC entra em ação pelas 7000 rpm, esta VFR parece ganhar uma nova alma, com um som incrível do V4 a sair pelas ponteiras que instalei. Ainda hoje a estética é supermoderna, tem um conforto incrível seja para condutor ou passageiro e o prazer de condução é soberbo.

Resumindo, sinto-me um felizardo, pois até hoje tive as duas motos de sonho de quando era miúdo, a Suzuki GSX-R 1000 e esta magnifica Honda VFR 800 VTEC.»

HONDA VFR800 VTEC

Fonte:Motociclismo

MOTOR 4 cilindros em V

CILINDRADA 781,7 cc

POTÊNCIA 81 kW (110 cv) @ 10,500 rpm

BINÁRIO 82 Nm @8.500 rpm

CAIXA 6 velocidades

QUADRO dupla trave em alumínio

DEPÓSITO 20,8 litros

SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica de 41 mm , curso de 100 mm

SUSPENSÃO TRASEIRA monoamortecedor pro-link com sistema pro arm, curso de 120 mm

TRAVÃO DIANTEIRO duplo disco de 296 mm, pinças de 3 êmbolos

TRAVÃO TRASEIRO disco de 256 mm, pinça de 3 êmbolos

PNEU DIANTEIRO 120/70 ZR17

PNEU TRASEIRO 180/55 ZR17

DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.440 mm

ALTURA DO ASSENTO 805 mm

PESO 208 kg (a seco)

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