Especial – Ténéré Spirit Experience – um rally para mais tarde recordar

6 meses atrás 64

Fomos até à Grécia para participar num evento da Yamaha, o Ténéré Spirit Experience, que consistiu em fazer um dos maiores e mais espetaculares rallys da europa, o Hellas Rally Raid, mas de um modo muito particular e privilegiado.

A Yamaha criou um evento dentro de um dos principais rallys do mundo e tornou a experiência o mais marcante e prazerosa possível. A marca deu a oportunidade a clientes de sentirem exatamente aquilo que um piloto profissional sente. E garanto-vos que é uma prova inesquecível! Eu fui convidado pela Yamaha e tive exatamente a mesma experiência que um cliente teria. O objetivo com este artigo é relatar exatamente o que se passou (assim como o que senti), e como funciona toda esta experiência para quem queira no futuro fazer parte dela.

ESPÍRITO TÉNÉRÉ

Fonte:Yamaha

Fonte:Yamaha

Nesta edição de 2023 estavam presentes três categorias. Na categoria rainha, a Rally 1, estiveram presentes 251 motos onde se encontravam tanto os pilotos experientes/profissionais, como a maior parte dos amadores. A categoria Rally 2 contou com 34 inscritos e distinguiu-se apenas por ter menos quilómetros que a categoria principal. A categoria Raid foi onde o evento da Yamaha se inseriu com 9 motos Ténéré World Raid. Esta categoria tem a particularidade de ter navegação por GPS e o traçado é ligeiramente mais curto que na categoria Rally 2, não sendo cronometrada.

O Rally decorreu entre os dias 20 e 28 de maio e foram 7 as etapas, sendo uma delas o prólogo. Fizemos entre 100 a 200 km por dia, sendo que 90% do percurso foi todo-o-terreno. As etapas começaram e terminaram sempre no mesmo local, mais precisamente em Karpenisi, facilitando assim a tanto a logística como o alojamento.

Para começar, é um Rally Raid, portanto quem se dispõe a fazê-lo não vai dar um simples passeio na floresta. Foram dias de 6/7/8 horas a navegar… Mas o desafio está precisamente aí. A própria Yamaha não tinha noção da possível exigência do traçado, especialmente porque as Ténéré são bastante mais altas e pesadas que as 450 cc que foi a cilindrada rainha.

A EXPERIÊNCIA

Fonte:Yamaha

As sensações começam logo à chegada ao Bivuac. Ver toda a estrutura de apoio a um rally destas dimensões é só por si emocionante. Muitas marcas estão presentes com os seus camiões e tendas de apoio, e o ambiente de corrida faz-se sentir em todos os lugares! Acima de tudo todos respiram a mesma paixão e isso é espetacular para quem gosta de motos e de eventos de todo-o-terreno.

A Yamaha teve uma das maiores estruturas presentes, com vários camiões e carrinhas de apoio, assim como várias tendas, tudo muito profissional e organizado tal e qual como no Dakar por exemplo. Aliás, o responsável pelo evento, Marc Bourgeois, foi precisamente o diretor de equipa da última edição do Dakar e foi também o nosso diretor de equipa. Deu uma grande paz de espírito saber que tínhamos uma carrinha de apoio com todas as peças suplentes e mecânicos prontos para nos ir ajudar em qualquer lugar a qualquer altura da prova.

Mas continuando com a descrição da estrutura: Imaginem uma tenda ao comprido com 4 metros de largura e 30 de comprimento e vários compartimentos. É isso! Logo no início está o espaço destinado às motos dos pilotos oficiais, depois outro espaço com capacidade até 12 motos para os clientes e convidados, e nas laterais duas divisões para reuniões e outra para catering e vestuário. Todos os detalhes contam. Por exemplo, à chegada, foi normal um certo nervosismo que levou a uma rápida desarrumação desta área porque todos tínhamos muito material (roupa, proteções, etc…) Logo no primeiro dia a assistente principal da equipa Chloe Minaux tratou de etiquetar todo o nosso material com o nome próprio de cada um, de modo a que não houvessem dúvidas em caso de misturar o material. Neste caso houve um pequeno diluvio e a equipa teve de organizar a roupa de todos e este foi um detalhe (entre muitos outros) que ditou logo a experiência e profissionalismo desta equipa, visto que quando chegámos tínhamos toda a roupa e equipamento suplente devidamente arrumado e organizado.

Fonte:Yamaha

Em algumas ocasiões chegámos a parar para fazer fotos únicas. Afinal de contas a nossa “prova” não era ao cronómetro.

Depois, alocaram um mecânico para cada dois pilotos. Mas não eram mecânicos normais. Todos com muitos anos de experiência em provas e vários Dakar! Não só reinava a boa disposição, como entre eles tinham pequenas competições de brio e eficiência a fazer qualquer tipo de serviço (incluindo desmontar motores totalmente). Pessoalmente apenas pedi no primeiro dia para retirarem os poisa pés do pendura, e subir o seletor de mudanças e o travão de trás, porque como pilotei com botas de motocross, na posição que vêm de fábrica estavam muito para baixo.

O RALLY

O nível de exigência era uma incógnita até ao primeiro dia. O prólogo foi de apenas 30 quilómetros, mas a mãe natureza presenteou-nos com muita chuva, o que fez com que as zonas assinaladas e previstas com muito pó se tornassem em zonas de muita lama e regos bastante longos. Portanto, o primeiro dia foi uma boa introdução ao desafio que tínhamos pela frente e serviu também para ter o primeiro contacto com estas motos num ambiente novo.

Fonte:Yamaha

Grandes escarpas mas acima de tudo percursos muito variados e sinuosos em todo o percurso.

A zona de Karpenisi é repleta de trilhos e rios, o que facilitou a navegação comparando com a navegação no deserto. Por outro lado, o desafio era perceber se a curva fechava no final ou não e se não havia perigos como troncos caídos ou inesperadas tartarugas… Sim, leram bem, esta zona da Grécia está repleta de tartarugas terrestres, algumas com um tamanho considerável. E esta foi uma das várias surpresas que tivemos. Outra característica que me marcou foi a variedade de terrenos em que navegámos ao longo de todos os dias, desde floresta densa até trilhos amplos no topo das montanhas. Raramente tivemos sítios onde rolámos rápido em 5ª velocidade, o mais comum foi rolar em 2ª e 3ª, o que dá para perceber a quantidade de curvas que fizemos. Portanto as médias de 150 km que fizemos por dia foram feitas em 6/7 horas de curvas deliciosas.

Fonte:Yamaha

O ambiente foi sempre impecável e de entreajuda entre todos.

Esta é uma experiência para quem quer, por exemplo, ter um primeiro contacto com um rally sem a pressão da classificação. Claro que quem se propõe a um desafio destes tem de ter algum espírito de sacrifício e chegamos ao final de cada dia bastante cansados, mas com um grande sorriso na cara. A questão é que quem gosta de corridas e de rally’s gosta de acelerar. Mas apesar de este, em particular, ter sido um evento para um nível intermédio, uma das maiores preocupações da Yamaha é que, no futuro, seja um evento destinado a todos os níveis.

Outro dos pontos altos foi partilhar toda a experiência com o Pol Tarrés, pois passámos uma semana juntos, rimos juntos, também sofremos um bocado juntos, mas acima de tudo rolámos durante bastantes quilómetros e horas e partilhámos experiências de condução e do rally.

Fonte:Yamaha

Todos os participantes foram tratados como verdadeiros pilotos, e bastava pedir algo que era imediatamente realizado na Ténéré.

Resumindo, esta é uma oportunidade para aqueles que gostam de andar de moto e querem um desafio, mas sem a pressão do cronómetro, mas o mais prazeroso é o facto de termos todas as regalias que um piloto profissional tem. O mais interessante desta aventura é sentir exatamente o que um piloto sente e ter uma experiência completa do que é um rally desta dimensão e com esta estrutura. Pensei que, pelo facto da Ténéré World Raid ser uma moto maior e mais pesada que uma 450 cc, iria chegar mais cansado ao final, mas isso não aconteceu. Depois de tantas horas em cima da moto aprendi que quando as coisas correm bem é tudo maravilhoso (e arrisco até dizer que dá mais prazer do que uma 450), mas quando é preciso corrigir, aí sim gastava mais energia. E termino com estas palavas: Este foi um evento do qual não me vou esquecer.