Falta de iniciativa, financiamento e infraestruturas impedem transição para as renováveis

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Relatório

04 abr, 2024 - 06:30 • Sandra Afonso

Conclusão do Relatório Global da REN21, a única rede internacional que junta empresas renováveis, governos, academia, cientistas e ONG. Estes entraves aumentam a emissão de gases com efeito de estufa.

A produção de energia renovável continua a aumentar, mas ainda não é suficiente para dar resposta às necessidades energéticas. A transição energética do fóssil para as renováveis está a ser atrasada, alerta o maior relatório internacional do setor.

Segundo este trabalho, o “Renewables 2024 Global Status Report”, a conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas realizada no ano passado (COP28), deu um contributo histórico para as renováveis, ao decidir triplicar a capacidade do setor até 2030.

Há ambição e interesse pelas renováveis nos países em desenvolvimento, mas falha a execução. Como exemplo, são apontados os elevados custos das infraestruturas e os obstáculos nas aprovações e ligações à rede.

É necessário políticas, licenciamento e financiamento para “alcançar uma transição energética equitativa e justa”, refere o documento.

"O panorama financeiro global continua a colocar os países de baixo rendimento em significativa desvantagem, o financiamento dos projetos de energia renovável chega a custar 10%, enquanto nos países desenvolvidos é cobrado menos de 4%."

Atraso na transição energética agrava emissões

Este relatório calcula ainda que as emissões de dióxido de carbono tenham aumentado 1,1% em 2023, devido ao atraso na transição energética.

No último ano, a capacidade da energia renovável atingiu um novo recorde, com um aumento de mais 473 gigawatt. No entanto, é menos de metade dos “1.000 GW necessários anualmente para cumprir os compromissos climáticos globais e de desenvolvimento sustentável”.

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Segundo a diretora executiva da REN21, Rana Adib, “o mundo está a queimar mais combustíveis fósseis do que nunca, as emissões globais relacionadas com a energia estão a aumentar e a procura cada vez maior de energia não está a ser totalmente satisfeita pelas energias renováveis. Isto está a agravar a crise climática e a inviabilizar a transição energética. Estamos a perder a oportunidade de construir sociedades resilientes e inclusivas, aproveitando plenamente as oportunidades económicas que as energias renováveis proporcionam”.

Entre 2012 e 2022, a utilização de energias renováveis aumentou 58%, mas a procura global de energia também aumentou 16%. “O carvão, o petróleo e o gás fóssil responderam à maior parte do aumento da procura, representando cerca de 65% do crescimento do consumo de energia”.

Há mais dinheiro a ser investido no setor, a nível global registou-se um aumento de 8,1% em 2023, no financiamento de energias renováveis, para cerca de 580 mil milhões de euros. No entanto, para cumprir as metas da COP 28 e do Acordo de Paris de 2015, é necessário um investimento anual de 1.200 - 1.250 mil milhões de euros.

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Este documento conclui ainda que “as respostas políticas para reduzir a insegurança energética e a inflação revelaram-se eficazes na remodelação do panorama das energias renováveis e no impulso aos investimentos e projetos”.

Iniciativas como a Lei de Redução da Inflação dos EUA ou o plano RePowerEU “diversificaram as cadeias de abastecimento, dando os primeiros passos na redução da dependência de alguns países industriais e para uma maior independência energética”.

Contudo, nada disto é suficiente para garantir o objetivo da transição energética. “Em todo o mundo, cerca de 3.000 GW de projetos de energias renováveis permaneceram subdesenvolvidos em 2023 devido a infraestruturas de rede inadequadas, financiamento insuficiente e atrasos na autorização”, refere o relatório. “Estes são grandes estrangulamentos que correm o risco de inviabilizar a transição energética”, acrescenta.

“A energia renovável é a nossa melhor aposta para a geração rápida de energia que proporciona benefícios sociais e económicos concretos e aumenta o apoio a esta tecnologia. Devemos ser mais ambiciosos, construir políticas mais fortes e garantir uma distribuição equitativa de investimentos financeiros, tecnologia e partilha de competências para garantir uma rápida transição energética global que coloque as pessoas em primeiro lugar”, diz Adib.

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