Fim da "bandidagem", mas sem falar em Odair. Chega junta 400 pessoas em Lisboa "por defesa da polícia"

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Violência na Grande Lisboa

26 out, 2024 - 22:15 • Alexandre Abrantes Neves

No desfile entre a Praça do Município e o Parlamento, o nome de Odair Moniz não foi ouvido nos megafones uma única vez. O protesto pareceu não incomodar as ruas lisboetas, mas Ventura e os apoiantes do Chega deixaram bem claro que "Portugal é nosso" e que as forças de segurança precisam de ser "mais musculadas".

Manifestação Chega Apoio Polícias - Alexandre Abrantes Neves
Ouça aqui a reportagem da Renascença. Foto: Flávio Alberto/Lusa

O cenário no ponto de partida revela que as previsões eram muito piores do que o que acabou por se confirma.

Às 15h00, o Largo do Município era o reflexo do reforço policial dos últimos dias: várias carrinhas da Unidade Especial da PSP ladeavam a praça, dezenas de agentes da Equipa de Intervenção Rápida mostravam-se prontos a agir e o edifício da Câmara Municipal estava rodeado de grades.

O líder chegou atrasado, a marcha também derrapou nas horas, mas a chuva não atrasou o percurso. O passo era apressado e foram precisos apenas 45 minutos para os 400 manifestantes chegarem até às escadarias do Parlamento – números muito abaixo da adesão da manifestação do mês passado do Chega, “contra a imigração excessiva”, mas que, para André Ventura, se explicam “por termos tido apenas 48 horas para nos organizarmos”.

Nas ruas, quase tudo parecia imune à manifestação, cujo lastro desaparecia fugazmente – os turistas tiravam fotografias ao desfile, os comerciantes olhavam por alguns instantes, mas a normalidade era retomada rapidamente.

Entre os gritos por André Ventura e os que diziam “Portugal é nosso”, não se falou nem uma vez no nome de Odair Moniz, morto por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) na madrugada de domingo para segunda-feira, mas houve várias referências aos “bandidos que provocaram tumultos dos últimos dias”.

Em todo o protesto, houve apenas três momentos em que a marcha falou para fora de si mesma – na resposta a um casal que gritava “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”, no êxtase de ver uma idosa da janela a aplaudir o protesto e ainda na passagem por um quartel de bombeiros.

“Bombeiros sim, bandidos não” – ouvia-se, Avenida D. Carlos I acima, com o hino nacional em pano de fundo. E ainda conseguimos ver o quartel ao fundo, quando o jardim de São Bento começa a espreitar entre os cartazes onde se lê “respeitem as nossas polícias”. Chegámos ao ponto final, mas ainda falta o discurso do líder. Os militantes estão à espera.

Voto por consenso dos militantes: "atuação policial musculada"

Em frente às escadarias da Assembleia da República, está montado um pequeno palco, decorado com bandeiras nacionais e ao redor do qual os principais rostos do partido voltam a cantar o hino nacional.

Logo atrás, está cerca de uma dezena de agentes da PSP, perfeitamente perfilados nos degraus do parlamento, prontos a agir em caso de necessidade. À frente, dezenas de manifestantes, elogiosos do trabalho "proporcional da polícia nos últimos dias", mas também com apelos para uma intervenção mais forte.

O primeiro vem de uma personalidade bem conhecida e próxima do partido – a atriz Maria Vieira. Em declarações à Renascença, a artista justifica a participação na marcha por querer “estar ao lado dos homens e mulheres que não se importam de dar a vida para nos defender”, mas defende um “reforço de meios” nas polícias para responderem aos distúrbios dos últimos dias.

A mancha gráfica no final do protesto não é estranha em manifestações do Chega — há muitas bandeiras do partido e de Portugal. Miguel Cardoso, militante do partido, segura uma delas. Gostava de ver uma presença “mais musculada” das forças de segurança, para conseguirem “defender as pessoas de bem, que de manhã saem para o trabalho com os carros vandalizados".

Já a maioria dos militantes desmobilizou, quando Sara Santos braceja e fala com convicção sobre os tumultos dos últimos dias. Teme que “haja um futuro cada vez mais negro, se não fizermos anda agora” e diz-se “estupefacta” com o que tem visto nos últimos dias.

“Não percebo como é que as pessoas apoiam criminosos. Não concordo com abusos de poder que possa haver, tudo na vida trata-se de equilíbrio. Mas vimos que a criminalidade está a aumentar e precisamos de uma polícia mais musculada”, defende.

A “primavera de Portugal” e sem “medo de ir para prisão”

Foram quase vinte minutos de discurso, todos eles praticamente inflamados. Ventura girou à volta dos mesmos temas de que já tinha falado nas primeiras declarações aos jornalistas – e aproveitou os tumultos dos últimos dias para referir que “nunca vai deixar de ser diferente e de defender os polícias”.

“É deixar que ardam os nossos bairros, é deixar que ardam as nossas estradas, os autocarros é deixar fazer tudo e nós ficaríamos em silêncio a ver o que eles andam a fazer. Nós somos a primavera deste país – a primavera da lei, da ordem”.

Ministério Público investiga André Ventura e Pedro Pinto por incitamento ao ódio

Já quanto à investigação do Ministério Público – por suspeitas de incitamento ao ódio por parte de Ventura e do líder parlamentar, Pedro Pinto –, o líder do Chega diz que não se intimida com a possibilidade de ser condenado. Ventura afirmou até que “não há prisão” que trave “o movimento que já não é de mim, mas que é do povo português, a verdadeira revolução que queremos fazer”.

Perante uma plateia mais reduzida, André Ventura desviou-se do foco do protesto e foi para lá da defesa das forças de segurança. Trouxe temas antigos do partido, que fizeram os militantes irromper num coro de vozes em êxtase – nomeadamente, uma enumeração do que “nunca” vão permitir fazer.

“O que nos distingue dos outros é nunca termos vacilado. Quando dizem que temos de pedir desculpa a esta classe política – dizemos nunca. Quando nos dizem que temos de deixar de atacar os corruptos porque têm presunção de inocência – nós dizemos nunca. Quando nos dizem que temos de acreditar na subsidiodependência dessa malta que vive nesses bairros – nós dizemos nunca”, vaticinou.

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