Floene já tem 200 pedidos de injeção de hidrogénio e biometano na rede de gás natural

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Depois de anos a receber pedidos para injeção de biometano ou hidrogénio verde na rede de distribuição de gás natural (em julho eram já 170), a Floene (antiga Galp Gás Natural Distribuição) anunciou que chegou agora à marca dos 200 pedidos: 125 de hidrogénio verde e 75 de biomentano. O número foi avançado por Miguel Faria, administrador da Floene,na conferência  à margem da conferência "Fiscalização e Prevenção no Setor Energético", da Entidade Nacional para o Setor Energético.

"Em 2030 vamos deixar de ter uma rede de gás centralizada, que só recebe gás em Sines e Campo Maior, e que vai passar a contar com a injeção de meia centena de unidades descentralizadas de produção de gases renováveis", anunciou.

"Estamos totalmente alinhados com o Plano de Ação para o Biometano e acreditamos que vão ser precisas 50 unidades de produção de biometano - 26 com base em aterros municipais e o resto na agricultura - para conseguirmos chegar a 9% de descarbonização da rede de gás em 2030 e atingir os 2,7 TWh", disse o responsável do operador de redes de distribuição de gás, sublinhando que esta é uma "evolução que garante independência energética, tecnológica e um menor custo para os consumidores".

Perante uma plateia com os maiores "players" do setor energético em Portugal, o "Chief Operating Officer" (COO) da Floene garantiu ainda que "de Leiria à Póvoa do Varzim temos importantes empresas nacionais para produzir gases renováveis, através de vários tipos de tecnologias para fazer esta descarbonização". 

"Estanos a trabalhar com o cluster metalomecânico e temos uma série de projetos piloto em curso no hidrogénio verde e nos gases sintéticos, com captura de CO2 e hidrogénio verde para produzir combustíveis avançados para a aviação e transporte marítimo. Tudo com a prata da casa", garantiu. 

Ao dia de hoje, Portugal está muito longe de ser um "bom aluno" a nível europeu na produção de gases renováveis, como o hidrogénio verde e o biometano. No caso do primeiro, o volume atual reduz-se praticamente a projetos-piloto (como o da Floene, no Seixal, que já está a injetar 20% de hidrogénio numa rede fechada), enquanto no biometano Portugal conta com apenas três centrais.

Um número que está a anos-luz das 675 unidades já a operar em França, 254 na Alemanha, 133 em Itália, 119 no Reino Unido, 79 nos Países Baixos, 74 na Suécia, 58 na Dinamarca, 42 na Suíça, entre outros países.  

E se na última década a produção de biometano (que tem uma composição química muito idêntica à do gás natural) na Europa aumentou seis vezes (de 7 para 43 TWh), a previsão para os próximos 10 anos é que volte a disparar ainda mais: cerca de nove vezes (de 43 para 370 TWh). As estimativas mostram que em 2050 o biogás e o biometano podem substituir dois terços do consumo de gás na UE

Reconhecendo que há países europeus mais avançados no biometano, Miguel faria defende que "sermos dos últimos a descarbonizar o setor do gás não é mau, porque estamos a trazer as melhores práticas de França, no setor agrícola, de Itália, com os resíduos sólidos urbanos e da Dinamarca, que já tem metas para 100% de descarbonização no gás".

Por cá, o Plano de Ação para o Biometano, apresentado em março, traçou como meta substiuir 9% do gás natural por este gás renovável até 2030. Na opinião de Gabriel Sousa, CEO da Floene, a meta é "fortemente ambiciosa". "Mas não é impossível de lá chegar. Quando olhamos para o resto da Europa, vemos que está na hora de agir. Basta ver o exemplo de França, onde a cada semana são ligadas à rede nacional de gás duas a três centrais de biometano", defendeu.

Um estudo apresentado recentemente pela Floene prova que o país tem potencial no biometano e que é possível aumentar 178% a produção deste gás renovável – de 0,9 para 2,5 TWh - entre 2025 e 2030. Até 2050, este número poderá chegar quase a 14 TWh (+1.430%), produzido a partir de matérias-primas orgânicas como a biomassa, metano sintético (com captura de CO2), agropecuárua (estrumes), aterros (lixo), estações de tratamento de águas residuais (lamas) e agroindústria (caroços de azeitona, entre outros resíduos agrícolas).

Na linha da frente para se tornarem futuros produtores de biometano (projetos "quick win" ou "sprinters") estão cerca de 70 unidades - entre aterros e estações de tratamento de águas residuais - que neste momento se dedicam ao biogás em Portugal, sendo este queimado para produzir eletricidade que é depois injetada na rede, com tarifas fortemente subsidiadas (120 a 130 euros por MWh).

Olhando para o mapa de Portugal, e tendo em conta a atual oferta de gás natural, a localização potencial das matérias primas e o número de projetos de biometano e hidrogénio verde com operação prevista até 2030, o estudo da Roland Berger estima que a curto prazo (em 2030) é possível ter cerca de 16% de gases renováveis na rede: 1,5 TWh de injeção descentralizada, 66 produtores e 150 ligações de biometano; 1,1 TWh, 37 produtores e 166 ligações de hidrogénio verde.

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