"Fricções" de Harris e "imprevisibilidade" de Trump face a China - Crisis Group

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A política da próxima administração norte-americana para a superpotência rival China, muito debatida na campanha eleitoral, é incerta para ambos os candidatos, com potenciais "fricções" com uma Presidente Kamala Harris e "imprevisibilidade" de Donald Trump, antecipa o Crisis Group.

O ex-Presidente Donald Trump e a atual vice-Presidente Kamala Harris revelam diferentes inclinações políticas que serão de "grande importância para os aliados dos EUA, os seus parceiros e a sua concorrência, como Pequim", afirma o centro de análise de conflitos Crisis Group no novo relatório "A Próxima Administração Americana e a Política Chinesa".

Ao mesmo tempo que a desconfiança entre Washington e Pequim continua a ser forte, crescente e multifacetada, dado que a China tem vindo a fazer esforços para superar os EUA como principal potência mundial, o Presidente chinês, Xi Jinping, acusa o rival de restringir o desenvolvimento do seu país.

O relatório divulgado na quinta-feira, a menos de três semanas das eleições de 05 de novembro, expôe as abordagens de ambos os candidatos, com Trump a preferir uma relação comercial com Pequim, mas com empenho em acelerar a dissociação económica com o rival.

Ainda assim, o republicano é caracterizado como um decisor "imprevisível", não só pelas posições e comentários contraditórios que tem feito sobre a China ao longo dos anos, mas também porque a sua própria equipa apresenta opiniões divergentes sobre que estratégia adotar.

Quanto à abordagem provável de Harris - filha de defensores dos direitos civis e com histórico no mundo da advocacia - será de maior interesse por questões dos direitos humanos e do direito internacional, um amplo terreno para as fricções bilaterais, embora a democrata também possua uma "veia pragmática".

O Crisis Group prevê ainda que Harris, que ajudou a impulsionar o esforço da administração Biden para reequilibrar a política externa dos EUA, apesar da instabilidade na Europa e no Médio Oriente, procurará construir sobre esse legado, incluindo uma abordagem tripla à China: investir na capacidade dos EUA a nível interno, alinhar-se com aliados e parceiros e competir com Pequim quando justificado.

Ainda assim, uma administração Harris contemplaria algumas "mudanças de rumo" na política que herdaria, como no controlo das exportações, com a formação de parcerias com grupos multilaterais de países com os mesmos interesses, recalibrar a abordagem dos EUA aos países do chamado Sul Global e aumentar os esforços no desenvolvimento de relações que girem menos em torno da competição entre grandes potências.

Face a este ambiente de tensão, o relatório aponta que, independentemente do candidato que ganhe em novembro, "devem ser tomadas medidas para manter um nível de competição moderada, de modo a evitar um conflito existencial" e ao mesmo tempo espaço para a cooperação bilateral.

Os dois países competem também de muitas outras formas: na inovação tecnológica de ponta, na influência económica e diplomática no mundo em desenvolvimento e mesmo na definição da ordem internacional.

As tensões entre as duas potências podem ainda ser amenizadas com a inclusão de estratégias como a manutenção da "dupla dissuasão" em relação à China e a Taiwan, a utilização e o alargamento dos canais militares e políticos com Pequim e o cuidado de mostrar que Washington não pretende o colapso do gigante asiático, adianta o relatório.

O centro de análise de conflitos relembra ainda que a questão de Taiwan continua a ser a mais controversa: "a China está a tornar-se mais assertiva na sua reivindicação da ilha, pondo à prova a política americana de décadas de `dupla dissuasão`, que procura dissuadir a China de atacar e Taiwan de avançar para a independência formal".

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