Gaza. Otimismo cauteloso marca negociações no Cairo

5 meses atrás 130

Os diretores dos serviços de informação do Egito e dos EUA reuniram-se com o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, a 7 de abril no Cairo, no âmbito das negociações de paz em Gaza AFP e Presidência Egípcia

Há sinais de que a intransigência de Israel e do Hamas, quanto à entrega dos reféns e à retirada israelita de Gaza, está a ser ultrapassada na nova ronda de negociações que decorre no Cairo, sob mediação do Catar e do Egito.

A Casa Branca revelou que o Hamas está a estudar uma proposta sobre a libertação dos israelitas sequestrados em Gaza desde há seis meses e cujo destino é incerto.

"Foi submetida uma proposta ao Hamas no fim do fim-de-semana", anunciou o conselheiro para a Segurança, John Kirby, de acordo com agências noticiosas. "Cabe agora ao Hamas fazer o que deve", acrescentou.

A proposta inclui a possibilidade de um cessar fogo de seis semanas,
longe das tréguas permanentes exigidas pelo grupo islamtia palestiniano.

Kirby sublinhou que William Burns, o diretor da Agência Central de informação, a CIA, está no Cairo a auxiliar as negociações e que não há sinais de que Israel esteja a preparar uma grande operação militar contra Rafah.
Várias alternativas
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar, Majed Mohammed al-Ansari, considerou à BBC que a nova proposta pode revelar-se uma ponte que permita atravessar o abismo que separa as duas partes do conflito.

O Catar está otimista, acrescentou. "Se me perguntar se estou mais otimista hoje do que há uns dias, teria de dizer que sim".

Tanto Israel como o Hamas estão a estudar com atenção uma série de alternativas atualmente sobre a mesa, incluindo uma norte-americana, referiu, sublinhando que a pressão de Washington será sempre crucial para qualquer entendimento.

Sem dar detalhes, o conselheiro catari disse esperar para breve um acordo quanto à primeira de três fases de um plano de cessar-fogo, focada sobretudo em questões humanitárias.

"As negociações estão longe de estar terminadas", referiu Al-Ansari cautelosamente na sua entrevista à BBC, confirmando que a entrada de auxílio em Gaza nas últimas horas está muito longe de responder às necessidades.
Ponto crítico
Israel sente-se igualmente confiante de que a libertação de todos os reféns, um dos seus objetivos principais, estará para breve.

O jornal Haaretz diz que o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, afirmou que as negociações estão num "ponto crítico", admitindo um otimismo crescente de que será possível uma solução.

Num discurso a recrutas esta segunda-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant,  defendeu que este é "um momento apropriado" para garantir a libertação dos sequestrados.

"A pressão incessante sobre o Hamas e a posição de força a partir da qual partimos para esta campanha, permitem-nos flexibilidade e liberdade de ação", defendeu Gallant. "Vai haver decisões difíceis e estaremos prontos a pagar o preço que permita resgatar os reféns".

"Depois, voltar ao combate", acrescentou
o responsável da pasta da Defesa, de acordo com a Agência France Press.

Este é o espinho nas negociações.

O Hamas quer garantias de que Israel irá retirar da Faixa de Gaza e a população autorizada a regressar. O seu maior trunfo é a libertação dos reféns.

Já Israel quer evitar que o grupo islamita se reagrupe e recupere capacidade ofensiva. 

Entre a espada e a parede
Nos últimos dias e apesar do discurso de Gallant sobre o regresso aos combates, o executivo israelita deu sinais de alguma cedência, perante a pressão internacional para permitir a distribuição de auxílio humanitário aos civis de Gaza.

Também a oposição israelita se tem feito ouvir com mais intensidade nas ruas e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estará cada vez mais entre a espada e a parede.


Correm rumores de divisões na coligação que sustenta o governo israelita, com os aliados mais extremistas de Netanyahu a ameaçarem desfazer o executivo em caso de abrandamento das hostilidades.

A estratégia israelita passa por uma ofensiva militar contra Rafah, para destruir as quatro unidades do Hamas que os israelitas afirmam existir na cidade. Consideram a operação essencial para garantir o fim operacional do grupo.

Rafah tornou-se contudo o último refúgio dos palestinianos do enclave e acolhe cerca de milhão de civis que fugiu dos combates e que sobrevive em condições precárias.


Os Estados Unidos, têm pressionado Israel para o estabelecimento de tréguas e são firmes na sua oposição a uma ofensiva contra Rafah, devido sobretudo à inexistência de garantias formais de proteção dos civis.
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