Em Moreira de Cónegos mora um dos melhores médios da I Liga. Gonçalo Franco, 23 anos, jogador-revelação do campeonato. Os números não enganam: no Prémio Regularidade do zerozero, o único centrocampista português com números superiores foi João Neves: Por falar no médio do Benfica, Franco considera, nesta entrevista exclusiva ao nosso portal, ser «parecido» com o algarvio. Pretendido pelos maiores emblemas nacionais e emblemas grandes de outras ligas, Gonçalo Franco analisa a época de excelência dos minhotos e dá algumas pistas sobre o futuro. Uma certeza já tem: este é o momento certo para mudar de ares para um palco superior. O contrato com o Moreirense expira em junho de 2025 e os cónegos terão sempre uma palavra a dizer. Vale a pena lembrar que o zerozero escreveu em janeiro que o Benfica era uma das equipas mais entusiasmadas com o filho do histórico Pedro Franco, central de créditos firmados nos anos 90.
[A PARTE II será publicada durante a tarde desta segunda-feira. Nela, Gonçalo fala sobre a família, a passagem pelo FC Porto e a história desconhecida entre o pai e... Cristiano Ronaldo] zerozero – Uma provocação para início de conversa. Os golos do Gonçalo ficaram guardados para os dois últimos jogos. Mera coincidência ou há uma explicação? Gonçalo Franco – Guardei o melhor para o fim (risos). Todos os jogadores querem fazer golos, eu não fujo à regra, e por acaso foram dois bons golos. Toda a gente brinca comigo, mas acima de tudo estou muito feliz pela boa época. Podia ter feito muitos mais golos, sim, mas estou orgulhoso. zz – Houve alguma alteração posicional nos últimos jogos? GF – Não, joguei desde o início do ano da mesma maneira, à procura de golos, de assistências, de dar o meu melhor em campo. Fiz um golo ao Casa Pia no penúltimo jogo e foi determinante para chegar aos 52 pontos e igualar a melhor marca do Moreirense. No último jogo tive um momento de inspiração e fiz um golaço de fora da área. zz - Foi o jogador do Moreirense com mais minutos, mais vezes titular e melhor média pontual. É a melhor época da carreira, em que atinge a maturidade ideal? qGosto de pesquisar tudo, de perceber o projeto. Vou dar um novo passo agora e não quero ficar por aí. Quero perceber quais os passos a dar, até ser capaz de chegar aos melhores clubes do mundo Gonçalo Franco zz - O Rui Borges era um treinador desconhecido para muita gente. Para vocês também foi uma surpresa o trabalho dele? GF - Sim, foi uma surpresa agradável para toda a gente. Eu não o conhecia. Tinha jogado contra ele na II Liga, mas logo na pré-época percebemos que a temporada ia ser positiva. E fizemos uma época muito boa. zz - O que mais vos surpreendeu no Rui Borges? GF - A forma como ele gere o grupo. Isso é fundamental. Já tive treinadores que não o faziam da melhor maneira, do meu ponto de vista. O mister mostrou como o ia gerir e deu-o a conhecer a todos os jogadores. Isso tocou-me, admirei muito a forma como foi capaz de fazê-lo. zz - O que pedia o Rui Borges em campo a um médio como o Gonçalo? GF - O mister pedia a toda a gente que jogasse naquela posição para fazer sempre a mesma coisa. E depois as características do jogador faziam a diferença. A mim pedia para equilibrar a equipa e aparecer em zonas de finalização. Esse era o pedido genérico. O resto eram momentos de inspiração, sempre com o objetivo de ajudar a equipa. zz - A cumplicidade com o Ofori e o Alanzinho era evidente, mesmo depois com a entrada do Castro em janeiro. Esse bom funcionamento da «casa das máquinas» foi fundamental. GF - Joguei com o Ofori e o Alanzinho na II Liga, as coisas correram muito bem, já nos conhecíamos dentro do campo. A chegada do Castro foi boa, adaptou-se perfeitamente, tem qualidade e experiência. O mister explicou-lhe rapidamente o que era preciso. zz - O Moreirense teve um bom balneário este ano? GF - Tínhamos um grupo fantástico. No passado já tive colegas que não jogavam e a forma de se relacionarem com os titulares mudava. Aconteceu comigo também. Neste ano a chave foi essa: os não convocados ficavam de fora e no primeiro treino da semana estavam connosco, a treinar como se tivessem jogado. É um detalhe que faz a diferença e uma chave para o sucesso. O Rui [Borges] sabia motivar quem não jogava. GF - Preparávamos muito bem os jogos. A equipa técnica fazia um trabalho ótimo com os vídeos dos adversários, por exemplo. Sabíamos sempre onde podíamos ferir o adversário. Um dos treinos da semana era mais a falar e a explicar tudo direitinho. Era um treino mais parado, onde o mister nos dizia onde e como podíamos ferir a equipa do outro lado. Mais um motivo para elogiar o mister. zz - O João Neves foi o único médio português a ter uma média superior à do Gonçalo na I Liga, aqui no zerozero. Ficou surpreendido com o dado? GF - Por acaso fiquei (risos). É o reflexo do meu trabalho diário. A carreira é muito curta, não há tempo a perder e sou muito focado nisto. Fiquei muito feliz ao ter conhecimento disso. zz - Há mesmo quem o compare ao João Neves. Há semelhanças entre os dois ou discorda? GF - Somos dois jogadores parecidos. Ambos baixinhos (risos). Gostamos de ter bola e, sim, posso considerar-me parecido com ele. Só muda o clube (risos), que não é o mesmo. zz - Perante todos estes dados, o momento é o certo para dar um novo passo na carreira este verão? GF - Sim, sem dúvida. Todos sonhamos, todos queremos chegar ao mais alto nível. É o momento de dar um novo passo, aproveitar o momento. Com calma, as coisas vão acontecer. @Kapta+ zz - Tem vários convites. É bom saber que não está limitado só a um caminho? GF - Tenho vários opções e vou pensar no que é melhor para mim. A minha família sempre me acompanhou e aconselhou, os meus empresários, o Pedro Cordeiro e o Moreira de Sá, também estiveram sempre comigo. Aconselharam-me calma, disseram-me que tudo aconteceria no momento certo e a verdade é que tenho várias opções e vou a escolher a melhor para mim. zz - No futebol moderno passa tudo a correr, não se saboreia a carreira da mesma forma. Já vimos o nome do Gonçalo associado ao Benfica, FC Porto, SC Braga, vários clubes. Como é que o Gonçalo tem feito a gestão emocional sobre isto? GF - Não mudo a minha forma de ser. Gostamos de receber boas notícias, tenho orgulho ao ver o meu nome associado a todos esses clubes, é muito bom. Fico muito feliz, mas procuro ser a mesma pessoa, dou-me bem com toda a gente. Não tenho muitos inimigos (risos). Vou ter calma e tomar a decisão certa no momento certo. qNeste ciclo da Seleção Nacional para o Euro24, ainda era demasiado cedo para mim Gonçalo Franco GF - Gosto de pesquisar tudo, de perceber o projeto. Vou dar um novo passo agora e não quero ficar por aí. Quero perceber quais os passos a dar, até ser capaz de chegar aos melhores clubes do mundo. Vejo tudo sobre esse clube. zz - Imagina-se a fazer parte já do próximo ciclo da Seleção? O Roberto Martínez costuma falar de um grupo de 50/60 jogadores. GF - Sim, sim. O meu trabalho tem crescido, sou mais conhecido e tenho esse objetivo. Se continuar a fazer bem as coisas, as coisas podem acontecer. Tenho o objetivo de chegar à seleção. zz - No zerozero temos dois jogos do Gonçalo pela Seleção Nacional de sub20. Confirma este dado? GF - Exato, fui chamado ainda no Leixões. Não estava à espera. Espero lá voltar. No momento queria dizer muita coisa e nada saía. Fiquei muito nervoso, posso confessar (risos). Estar entre os melhor do meu país é o máximo. Ainda me custa encontrar as palavras certas, foi uma honra. zz - Neste ciclo, que encerra agora com o Euro24, ainda era cedo para si? GF - Julgo que sim. Há jogadores que ainda estão melhores do que eu. Mas sei que o meu trabalho diário me vai levar à Seleção A.«Vou ter calma e tomar a decisão certa»