Governabilidade de Milei depende de conseguir domar inflação galopante 

8 meses atrás 93

"O nível de conflito social pode ser tão ou mais preocupante do que o institucional. Ainda não vimos todos os efeitos dos ajustes económicos que basicamente consistem em diluir os salários. A classe média vai sentir. A classe baixa ainda mais. Não sei qual será o nível de paciência da população para suportar essas medidas, mas imagino que não muito", afirma à Lusa o analista argentino, Federico Merke, professor de Ciências Políticas e de Relações Internacionais da Universidade argentina de San Andrés.

"Qual é o prazo limite para a paciência dos argentinos? A resposta a essa pergunta terá impacto na governabilidade de Milei", adianta Merque.

O êxito do novo Governo será medido ela redução de uma inflação galopante. Na quinta-feira, será divulgado o índice de inflação de dezembro e de 2023. Dezembro deve ficar entre 25% e 30%, totalizando cerca de 200% em todo o ano passado.

Os próximos meses serão de inflação em torno de 30% mensais. Entre dezembro e março, a inflação acumulada pode rondar os 100%. O próprio Javier Milei, no seu discurso de posse, antecipou que até março a inflação na Argentina deve variar entre 20% e 40%.

A consultora Trespuntozero, uma das poucas que acertou o resultado eleitoral, observa que a base popular que elegeu Milei (55,7%) mantém o seu apoio. Uma maioria de 53,1% vê as primeiras semanas como positivas, mas, apesar do apoio, 42,7% acredita que os resultados devem aparecer nos próximos seis meses, enquanto 40,6% estão dispostos a esperar de seis meses a dois anos.

"A popularidade de Javier Milei ainda é sólida, mas é de esperar-se que esse apoio se dilua à medida que as medidas tenham impacto no dia-a-dia. Dezembro, janeiro e fevereiro tendem a ser meses benevolentes com os governos, mas março é quando o impacto acumulado será sentido", aponta a analista política Shila Vilker, diretora da consultora Trespuntozero.

Março é o mês em que as famílias voltam de férias, em que os filhos voltam às aulas e no qual os argentinos trocam o vestuário de verão pelo de inverno. É, portanto, o mês de pagar contas e de novos gastos familiares.

Até agora, nenhuma medida trouxe alívio ao bolso e não aparece no horizonte deste trimestre nenhuma luz de esperança.

Nos últimos 30 dias, os combustíveis aumentaram 90% e um novo aumento está previsto para as próximas semanas. Vários produtos básicos tiveram um reajuste acima de 100%. Seguros de saúde tiveram um reajuste de 40% e terão outro de 30% em fevereiro, em sintonia mensal com a taxa de inflação. Também em fevereiro começarão os aumentos de gás e energia elétrica, previstos em 300% para o gás e 200% para a eletricidade.

Em consequência, o consumo em mercados caiu 50%, em combustíveis 20%, outros 20% em materiais da construção. O país entrou velozmente na letal combinação de recessão com alta inflação.

O ajuste da economia tem vindo pelo lado da desvalorização da moeda e do salário que se diluem.

"As pessoas não vão pedir resultados em apenas três meses, mas vão pedir argumentos que validem a ideia de que se está no rumo correto e que cada dia será menos mau do que o anterior. Se Milei não der isso, será muito difícil que beneficie de paciência", indica à Lusa o cientista político Lucas Romero, diretor da Synopsis Consultores.

Para o especialista, se até abril a inflação não der sinais de queda, a par de correção dos desequilíbrios macroeconómicos, o processo pode sair do rumo.

"Se, em três ou quatro meses, o governo precisar de desvalorizar a moeda para tentar estabilizar a economia, mas gerando, consequentemente, uma nova alta inflacionista, atrevo-me a dizer que entraremos num terreno de muita instabilidade política", adverte Lucas Romero.

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