Governar é gastar?

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Conhece Eduardo Rego? Pense bem, a resposta talvez seja sim e não. Conhece de o ouvir, não de o ver. O Eduardo Rego é a voz dos programas da SIC — na verdade, da BBC —, sobre o mundo selvagem. É o locutor. De certa forma, ele é o nosso David Attenborough, embora não saia do interior do estúdio de televisão, ao contrário do magnífico David, que andava realmente metido no meio da selva.

Ora bem, então imagine que é sábado de manhã, está deitado no sofá, talvez com uma arreliante dor de cabeça, e surge na TV o rodapé há muito antecipado: “Governo de Luís Montenegro apresenta a demissão.”

Minutos depois, novo rodapé: “Luís Montenegro rompe o silêncio: ‘Fizemos tudo o que pudemos. Só novas eleições legislativas podem ajudar o país a avançar’.” E é aqui que entra em cena a voz de Eduardo Rego, a descrever o mundo selvagem.

Desde que este Governo foi eleito de forma periclitante que não deixo de pensar nos efemerópteros. Os efemerópteros, também conhecidos como efeméridas, são os insetos mais comuns na Antártida. Estamos a falar de uma das criaturas com menor tempo de vida do planeta.

O mais interessante neste insecto é que, enquanto permanece jovem e no casulo, pode viver até um ano, mas quando atinge a fase adulta morre em menos de 24 horas. É uma vida curta, no fio da navalha, uma vida ao momento e sempre ao minuto, é preciso aproveitar. Soa familiar?

O frenesim governativo a que assistimos não tem precedentes. Talvez só no PREC. Pacote habitação, novo aeroporto aprovado, nova ponte sobre o Tejo, TGV, negociações com polícias, guardas prisionais e GNR bem encaminhadas, redução generalizada do IRS em discussão, pacote sobre corrupção na agenda e ainda… medicamentos gratuitos para 140 mil idosos, uma oferta que vai integrar o pacote de emergência para a saúde, que será apresentado nos próximos 15 dias.

É tudo coisa boa e coisa fina. É muito dossiê, como se costuma dizer, muita medida em tão pouco tempo. E, no entanto, é tudo encarado como se isto fosse quase normal, como se um dilúvio deste calibre fosse prata da casa, como se não levantasse elogios e algumas inquietações conservadoras.

Por que razão os outros governos não fizeram o mesmo? Por que razão pareceram sempre lentos ou até parados? Há mesmo dinheiro? E, por último, governar é fazer despesa pública? Estamos a viver uma experiência governativa singular — a selva política tal e qual.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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