Guerra na Ucrânia em "fase crítica". Zelensky acredita que com apoio Kiev "alcança vitória"

9 meses atrás 117

Sergey Dolzhenko - EPA

Menos de 24 horas depois de a União Europeia ter aprovado um novo pacote de sanções à Rússia, o presidente ucraniano discursou na conferência de balanço do ano, agradecendo o apoio aos aliados e países parceiros. Embora tenha admitido que a guerra na Ucrânia esteja "numa fase crítica", e que a população ucraniana está a enfrentar muitas dificuldades, Volodymyr Zelensky rejeitou a ideia de que Kiev está "gradualmente" a perder e assegurou que a Rússia "não conseguiu alcançar os seus objetivos".

No balanço de final de ano, em Kiev, Volodymyr Zelensky começou por agradecer à União Europeia a aprovação de um novo pacote de sanções à Rússia, o décimo segundo, que abrange os diamantes russos, não deixando de lembrar que espera que, “dentro de pouco tempo”, o país possa pertencer ao bloco europeu.


A nossa bandeira azul e amarela é a nossa maior vitória. Acredito que vamos conseguir preservar não só a nossa bandeira, mas o nosso país todo. Essa será a nossa vitória, depois de tudo o que o nosso país está a enfrentar, todo o sofrimento que o nosso povo está a passar”, declarou o presidente ucraniano no discurso inicial.

“Estamos a lutar pela nossa independência e pelo nosso futuro – futuro que nós escolhemos e pelo qual nós vamos continuar a lutar”, acrescentou.

Num tom de reflexão, Zelensky recordou que “toda a história da Ucrânia tem sido de luta”, mas que esta é, “possivelmente, a batalha mais importante” do país.

“Quero agradecer aos nossos parceiros pelo pacote muito significativo. Este ano muito difícil está a terminar”, repetiu, frisando que a nível económico o país enfrenta uma fase crítica e “as populações estão a sentir esta época difícil”

“Apesar disto tudo, conseguimos aumentar a economia da Ucrânia este ano em cinco por cento, e isso é uma vitória para nós”.

“Enorme vitória”
Avaliando a situação de conflito que o país vive, o chefe de Estado da Ucrânia não esconde que a guerra com a Rússia está “numa fase crítica”. Contudo, Zelensky acredita que a “vitória está próxima” e quis agradecer às Forças Armadas.

“A nossa vitória no Mar Negro está próxima”, disse acrescentando que esta “enorme vitória” do exército ucraniano sobre a Rússia permitiu estabelecer, desde agosto, um “corredor marítimo” para exportação de mercadorias.

“Isso está integrado na nossa operação no sul”, prosseguiu o líder ucraniano, lembrando ainda as ameaças russas de bombardeamentos e a suposta superioridade marítima da frota russa.

"Nem sempre são notados os esforços do povo ucraniano para se defender das forças russas. Estamos a tentar defender o nosso mar, o Mar Negro, estamos a tentar defender o povo ucraniano, e a desbloquear a economia da Ucrânia, para conseguirmos evitar a destruição do nosso país”.

“Fazemos tudo o que é possível”, saudou, admitindo que a grande "meta" é libertar o Mar Negro das forças russas.

Zelensky aproveitou ainda para anunciar que a Ucrânia vai receber “diversos” novos sistemas antiaéreos Patriot.

Questionado sobre notícias que davam conta de avanços russos nas últimas semanas, o presidente ucraniano assegurou que “este ano, a Rússia não conseguiu atingir os seus objetivos". Sobre o eventual fim do conflito, Zelensky assumiu não ter qualquer perspetiva.

"Penso que ninguém sabe a resposta. Mesmo as pessoas respeitadas, os comandantes, os nossos ou os do Ocidente. Quando dizem que a guerra vai durar muitos anos, não sabem. Isso são opiniões. As opiniões diferem muitas vezes da realidade", considerou, dizendo também que a Rússia não registou quaisquer ganhos em 2023. "Não chegaram ao Donbass e a outros territórios e, por isso, não se pode falar de qualquer vitória"

Exército propôs mobilização de até 500 mil pessoas

Questionado por jornalistas presentes na conferência, Zelensky confirmou que o exército apresentou uma proposta para a mobilização de população civil para as forças de defesa. Segundo o presidente ucraniano, o plano visa o recrutamento entre 450 a 500 mil pessoas para continuar a defender o país da invasão russa.

Contudo, o presidente admite que ainda não tomou uma decisão sobre esta proposta e que precisa de mais “argumentos para ter apoio nesta decisão”, uma vez que esta é uma questão de segurança da população e que envolve gastos financeiros.

“Com este aumento [de soldados] a Defesa da Ucrânia vai ficar muito mais forte, mas eu também me preocupo com o que acontece a estes rapazes que vão para a linha da frente", argumentou. "Precisamos ainda de elaborar um complexo plano que inclua todos estes aspetos. Temos de dar uma resposta justa à população”.

O exército e o grupo de trabalho noemado pelo Governo ucraniano, adiantou, "já começou a trabalhar neste plano".

"Para mim este é o assunto mais importante de todos, é a questão número um. E o mais importante é que o plano está a ser elaborado para equilibrar as forças que estão na linha da frente”, explicou, justificando que o objetivo é que os militares que têm estado a combater, nos últimos meses, possam ser temporariamente substituídos para descansar.

“Queremos manter a moral na linha da frente”.

Além das questões sociais que envolver o recrutamento de civis, Zelensky admitiu que é necessário também "apoio financeiro para implementar este plano". A mobilização, referiu o presidente, poderá custar cerca de 12,5 mil milhões de euros.

Novo acordo com os EUA "muito em breve"

A guerra na Ucrânia não está ganha e a população, como admitiu Zelensky, enfrenta vários problemas, incluindo uma crise económica. Mas o líder ucraniano acredita que estará "para breve" um novo acordo com os Estados Unidos e que Washington dará o apoio necessário à Ucrânia, mostrando à UE que os aliados não estão a vacilar.

Na segunda-feira, aliás, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, anunciou que a Casa Branca ia fornecer mais uma pacote de ajuda à Ucrânia ainda este mês e apelou a que o Congresso norte-americano aprovasse mais financiamento a Kiev.

E, confrontado com a possibilidade de Donald Trump voltar à Presidência dos EUA, Zelensky não negou que "terá uma política diferente" do atual Governo de Joe Biden no que toca às relações com Kiev e à ajuda no combate à invasão russa.

“Se as políticas do próximo presidente forem diferentes, seja ele quem for, forem mais frias ou mais frugais, acho que esses sinais terão um impacto muito grande no curso da guerra na Ucrânia", observou. "É assim que o mundo funciona: se uma parte forte cair, o mecanismo começa a desmoronar”.

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