Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Ucrânia, a diretora de Financiamento e Parcerias do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Lisa Doughten, indicou que "hostilidades implacáveis" intensificaram-se nas últimas semanas, causando a morte e ferimentos a um grande número de civis, incluindo crianças.
"Estes ataques provocaram ainda mais deslocações de comunidades fronteiriças e da linha da frente. Até hoje, mais de 7.000 civis foram retirados das zonas fronteiriças de Kharkiv. Tiveram ainda consequências devastadoras para os civis que permanecem nessas áreas, privando-os do acesso a alimentos, cuidados médicos, eletricidade e gás", explicou.
No total, o Alto Comissariado para os Direitos Humanos (OHCHR) registou mais de 700 vítimas civis em toda a Ucrânia em abril, sendo que 129 foram mortos e 574 ficaram feridos, "um aumento significativo no número de civis feridos pelo segundo mês consecutivo", reforçou a diretora, frisando que 90% das vítimas civis foram registadas em território controlado pela Ucrânia.
Além do impacto na população ucraniana, Lisa Doughten alertou também para a "destruição maciça" de infraestruturas civis causadas pelos ataques russos.
Desde 22 de março passado, a ONU e organizações parceiras testemunharam cinco vagas de ataques dirigidos contra a infraestrutura energética da Ucrânia. O OHCHR registou 50 incidentes deste tipo só em abril, indicou a diretora.
As regiões de Kharkiv e Dnipro foram particularmente afetadas, com o Ministério da Energia da Ucrânia a reportar até 250.000 residentes afetados por cortes de energia desde março.
"O impacto destes cortes de energia nos mais vulneráveis é gritante. Deixaram temporariamente milhões de famílias sem energia, sem água e sem gás necessário para cozinhar, aquecer, higiene e outros serviços vitais", denunciou a representante do OCHA.
"Estamos extremamente preocupados com o que parece ser um novo padrão de ataques às infraestruturas ferroviárias no leste e no sul da Ucrânia", acrescentou, sublinhando que foram registados dez ataques desse tipo só em abril, matando 16 civis e ferindo mais 59.
As Nações Unidas consideram também "preocupantes" os ataques a fábricas e unidades de produção, que limitam a disponibilidade de bens humanitários adquiridos localmente.
"Além disso, os ataques contínuos às infraestruturas portuárias da Ucrânia ameaçam a sua capacidade de exportar cereais e outros produtos agrícolas, numa altura em que o número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda em todo o mundo continua a aumentar ano após ano", disse.
Já Caitlin Howarth, representante do Laboratório de Investigação Humanitária da Universidade de Yale, apelou aos Estados-membros que não subestimem a escala da ameaça representada pelos ataques a infraestruturas energéticas ucranianas, advogando que têm como alvo "o coração da população civil", de forma a fazer desaparecer a esperança do povo ucraniano.
Na reunião de hoje, convocado pelo Equador e pela França, os Estados Unidos indicaram que os recorrentes ataques russos à Ucrânia continuam a justificar o forte apoio norte-americano a Kiev, que se tem materializado no envio de armamento e de ajuda humanitária.
"Vale a pena repetir que a Rússia continua a adquirir mísseis balísticos e outras munições à Coreia do Norte, em violação das resoluções do Conselho de Segurança (...) e a adquirir drones iranianos, que estão a ser usados incessantemente contra as cidades e infraestruturas civis da Ucrânia", acusou o diplomata norte-americano Robert Wood.
"O custo da agressão da Rússia contra a Ucrânia está bem documentado e investigado. Nenhuma quantidade de mentiras e distrações pode encobrir o grande conjunto de evidências. Haverá responsabilização", acrescentou, apelando à Rússia que cesse a sua agressão e que se retire imediata e totalmente da Ucrânia.