Guterres defende UNRWA como "espinha dorsal" da resposta humanitária a Gaza

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou hoje a Agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA) a "espinha dorsal" de toda a resposta humanitária em Gaza, apelando aos Estados-membros para que continuem a apoiar a organização.

"Ontem [terça-feira], reuni-me com os doadores para ouvir as suas preocupações e delinear as medidas que estamos a tomar para as resolver. Sublinhei a importância de manter o trabalho vital da UNRWA para satisfazer as necessidades urgentes dos civis em Gaza e para garantir a continuidade dos seus serviços aos refugiados palestinianos na Cisjordânia ocupada, na Jordânia, no Líbano e na Síria", afirmou.

"A UNRWA é a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza", sublinhou ainda Guterres na primeira sessão do ano do Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano.

A mensagem de Guterres surge na sequência de um encontro que manteve na terça-feira com importantes doadores da agência - incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão -, que anunciaram a suspensão da sua ajuda à UNRWA após Israel ter acusado 12 dos seus funcionários de envolvimento no ataque de 07 de outubro efetuado pela ala militar do movimento islamita palestiniano Hamas.

Num comunicado divulgado no domingo, o gabinete de Guterres especificava que, das 12 pessoas implicadas nas acusações, nove foram imediatamente identificadas e demitidas pelo comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini; uma foi confirmada como morta e a identidade das outras duas estava em processo de esclarecimento.

Contudo, documentos israelitas compartilhados com autoridades dos Estados Unidos e obtidos pela agência Associated Press (AP) indicavam que dois desses 12 funcionários estavam mortos.

Uma investigação do Gabinete de Serviços de Supervisão Interna da ONU foi imediatamente ativada.

A embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que Washington não descarta retomar o financiamento, mas que são necessárias "mudanças fundamentais" no funcionamento da agência.

Na sessão de hoje, Guterres admitiu ter ficado "horrorizado" com o caso, mas sublinhou que as Nações Unidas agiram imediatamente na sequência das "acusações muito graves" contra funcionários da UNRWA.

"Apelo a todos os Estados-membros para que garantam a continuidade do trabalho da UNRWA para salvar vidas", exortou.

Reiterando que o sistema humanitário em Gaza está em colapso, o secretário-geral da ONU assumiu estar "extremamente preocupado com as condições desumanas" enfrentadas pelos 2,2 milhões de habitantes de Gaza, enquanto lutam para sobreviver sem acesso a bens básicos.

"Todos em Gaza passam fome, enquanto meio milhão enfrenta níveis catastróficos de insegurança alimentar. Apelo a um acesso humanitário rápido, seguro, sem entraves, alargado e sustentado em toda Gaza", reforçou.

O ex-primeiro-ministro português frisou ainda que um acesso humanitário desimpedido é particularmente crucial no norte do enclave, onde a maioria das missões da ONU foi barrada por Israel, no meio de insegurança e combates contínuos.

A guerra entre Israel e o Hamas eclodiu em 07 de outubro, na sequência de um ataque do grupo islamita que matou 1.200 pessoas em território israelita e fez pelo menos 240 reféns.

Desde então, mais de 26.750 palestinianos foram mortos só em Gaza -- mais de dois terços deles mulheres e crianças.

De acordo com os números divulgados hoje por Guterres, mais de 70% das infraestruturas civis -- incluindo casas, hospitais, escolas, instalações de água e saneamento em Gaza -- foram destruídas ou gravemente danificadas.

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