Hospital Santa Marta realiza procedimento inédito no país em jovem com doença cardíaca grave

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29 jun, 2024 - 08:35 • Lusa

A cardiologista pediátrica e diretora clínica adjunta do Hospital de Santa Marta, Fátima Pinto, explicou à agência Lusa que "o coração precisa de contrair e relaxar, como uma bomba", uma função que a cardiomiopatia restritiva, uma doença das células do músculo cardíaco, impede que seja feita corretamente.

Uma adolescente com uma doença cardíaca muito grave foi sujeita no Hospital Santa Marta a um procedimento inédito em Portugal, que melhorou a sua condição física e permite que possa aguardar por transplante cardíaco, segundo especialistas.

A jovem de 13 anos vive no arquipélago da Madeira, onde lhe foi diagnosticada uma cardiomiopatia restritiva com hipertensão arterial pulmonar grave e insuficiência cardíaca, tendo sido reencaminhada para o Hospital Santa Marta, o Centro de Referência de Cardiopatias Congénitas da Unidade Local de Saúde (ULS) São José.

A cardiologista pediátrica e diretora clínica adjunta do Hospital de Santa Marta, Fátima Pinto, explicou à agência Lusa que "o coração precisa de contrair e relaxar, como uma bomba", uma função que a cardiomiopatia restritiva, uma doença das células do músculo cardíaco, impede que seja feita corretamente.

"É como se o músculo [cardíaco] estivesse sempre em tensão e isso vai causando ao longo do tempo insuficiência cardíaca e tem repercussões a nível do pulmão", causando hipertensão pulmonar, "uma doença muito grave que, associada à insuficiência cardíaca", pode ter vários sintomas, desde desmaios a morte.

No caso da jovem, a doença estava "num estado já bastante avançado", impedindo-a de fazer a sua vida normal, sem capacidade de realizar "qualquer tipo de esforço" devido ao cansaço, contou Fátima Pinto.

O cirurgião pediátrico José Diogo Martins, que liderou a equipa multidisciplinar que acompanhou a menina, disse à Lusa que só foi possível fazer este procedimento inovador, porque a União Europeia aprovou um novo dispositivo médico que se coloca por via percutânea, através das veias, sem implicar uma cirurgia.

"Este dispositivo tem a função de criar e manter aberta uma comunicação entre as duas aurículas de modo a que se faça a descompressão da aurícula esquerda que estava na base da hipertensão arterial desta menina", explicou.

O cirurgião observou que este procedimento "não é curativo, mas sim paliativo" e visa garantir uma estabilidade clínica que permita avançar para outro tipo de tratamentos, sendo neste caso o transplante cardíaco.

Disse, contudo, que o procedimento tem "um risco que não é negligenciável" e, por isso, a situação foi discutida com os pais e a própria menina, tendo-se concluído que havia "uma situação de risco-benefício favorável para avançar com o procedimento", que foi realizado em maio e durou cerca de quatro horas.

A intervenção foi realizada com sucesso, tendo havido uma redução significativa da pressão da aurícula esquerda e redução da hipertensão arterial pulmonar, com recuperação rápida que permitiu a alta da jovem para o domicílio.

Apesar de este procedimento não curar, vai melhorar a qualidade de vida da menina e dar-lhe uma estabilidade que permita dar os próximos passos necessários, que envolvem um conjunto de técnicas muito diferenciadas que vão desde os cuidados intensivos cardíacos até a cirurgia cardíaca.

"E abriu-se a porta para se poder fazer o transplante que vai ser necessário para podermos continuar a cuidar desta menina", realçou.

Citando o distribuidor do dispositivo, José Diogo Martins disse que foi a primeira vez que esta intervenção foi realizada em Portugal e uma das primeiras vezes na Europa.

"Mesmo nos Estados Unidos os casos contam-se como algumas dezenas, porque são casos muito, muito raros", comentou.

Questionado sobre se há doentes em lista de espera para fazer este procedimento, disse que não, mas avançou que têm a aprovação do conselho de administração do hospital para fazer se aparecerem outras crianças com este problema.

"Estamos neste momento, uma vez que há esta técnica nova, a rever o nosso conjunto de doentes com hipertensão pulmonar para perceber em quais deles poderá ser benéfico a realização deste procedimento", avançou o cirurgião pediátrico.

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