Hotelaria e restauração: 40 mil trabalhadores em falta e situação vai "adensar-se"

3 meses atrás 98

Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Ana Jacinto, a Secretária-Geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) adiantou que a falta de 40 mil funcionários não foi ainda resolvida e o problema adensou-se. O setor já emprega 120 mil imigrantes e tem capacidade para receber mais, mas a burocracia na atribuição de vistos tem sido um impedimento.

Ana Jacinto lembra que o problema para os imigrantes muitas vezes não é apenas a falta de habitação, é também não terem dinheiro para os contratos de arrendamento, e, por isso, propõe que as Câmaras Municipais, à semelhança do que fizeram no COVID com o apoio ao arrendamento das famílias mais necessitadas, apoiassem os imigrantes, suportando os primeiros três ou quatro meses de renda até o imigrante estabilizar a sua vida e conseguir trabalho para pagar a sua casa. Uma proposta de criação de um programa de apoio à inclusão dos imigrantes que já apresentaram ao Governo.

Revela que o setor, devido à falta de mão de obra, tem vindo a elevar os salários para conseguir contratar, mas também adianta que os empresários com menor dimensão não terão capacidade para pagar os salários mínimos propostos pelos sindicatos para 2025.

Ana Jacinto deixa um aviso: o setor não consegue continuar a acompanhar o aumento dos salários se continuar a estar "estrangulado" com os custos de contexto e sem que haja uma avaliação da produtividade e uma contrapartida do Estado com a redução dos impostos.

Com um protesto marcado para a porta da AHRESP na próxima semana com os trabalhadores das cantinas, refeitórios, alojamento e restauração afeto à CGTP, Ana Jacinto lembra que já chegaram a acordo com um dos sindicatos da UGT para este ano e que os aumentos serão de cerca de 8%, extensivos a todos os trabalhadores, independentemente do sindicato a que estão afetos, sendo que dois dos três contratos coletivos que a AHRESP tem não começam no salário mínimo. 

Para pagar mais, Ana Jacinto pede um alívio da carga fiscal no IVA, na TSU, no IRS e no IRC, lembrando que a restauração precisa de criar tesouraria, porque as empresas estão "sufocadas" pelos custos operacionais e de contexto e ainda não conseguiram voltar aos resultados que tinham antes do COVID. Refere que os números do turismo são muito bons, mas nem todos beneficiam por igual.

Ana Jacinto lembra que ainda há muitos empresários que não conseguiram pagar as linhas de crédito do COVID e acusa o Banco de Fomento de criar linhas de apoio que não servem para a restauração. Ana Jacinto diz que não é honesto dizer-se que há apoios para o setor quando na prática não existem, porque as empresas não se podem socorrer deles, "não cabem lá".

Acresce à questão fiscal e do financiamento, a necessidade de alterar as normas da legislação do trabalho que, em sede de contratação coletiva, impedem muitas vezes a flexibilização dos horários num setor com muitas particularidades e onde os jovens querem cada vez mais ter tempo para conciliar o trabalho com a vida pessoal.

Sobre a existência de excesso de turismo, Ana Jacinto é perentória: "não sei o que são turistas a mais"! Considera que o que é necessário é melhorar a gestão dos fluxos e dar mais território.

Adianta que a AHRESP tem uma proposta para melhorar essa gestão a custo zero, evitando que os turistas se acumulem em determinados locais e se dispersem pelo território, mas acusa o setor de não trabalhar em rede porque "cada um gosta de gerir as suas quintas" em vez de trabalhar em rede. Refere mesmo que a AHRESP não vai descansar enquanto não resolver este problema.

Uma entrevista ao programa Conversa Capital que pode acompanhar em podcast aqui.

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