Still Butchering the Planet é o título do relatório que afirma que a produção mundial de carne aumentou nove por cento entre 2015 e 2021, ao passo que a produção de laticínios cresceu 13 por cento em igual período.
A organização Feedback, com sede no Reino Unido e nos Países Baixos, dedica-se a uma campanha ambiental que visa apontar alimentos que “sejam bons para o planeta e para a população”.O mais recente relatório identifica o papel dos bancos e alerta para o financiamento de milhões de dólares nos setores de carne bovina, laticínios, suínos, aves e ração animal.
Analisadas as 55 maiores empresas pecuárias industriais do mundo e os fluxos financeiros globais, o relatório de 2024 atualiza os dados: estas empresas representam cerca de quinto dos abates globais de gado que são alguns dos alimentos que mais impacto têm nas mudanças climáticas do sistema.
Desde o desmatamento, violações de Direitos Humanos e do trabalho, riscos de pandemia e abusos do bem-estar animal, o relatório alega que as descobertas “são alarmantes”.
Entre 2015 a 2022, os financiadores injetaram nas 55 empresas um crédito anual no valor médio de 70,6 mil milhões de euros.
O crédito, afirma o relatório, “foi concebido para ajudar as empresas a expandirem-se e ajudou a impulsionar um aumento enorme e insustentável na produção global de carne e lacticínios”.
“Estamos a apelar às instituições financeiras para que retirem o financiamento das empresas pecuárias industriais o mais rapidamente possível”, declarou Martin Bowman, gestor de políticas e campanhas da Feedback.
Estes ciclo de maior investimento acaba por resultar em mais poluição, abuso de animais ou mesmo perda de biodiversidade.
Por dia, as maiores empresas do setor têm a capacidade de abate de 44 milhões de galinhas, 199 mil bovinos e 639 mil porcos.
Os financiadores
Os bancos que mais dinheiro injetaram nas maiores empresas pecuárias industriais do mundo foram o Bank of America, com quase 26,5 mil milhões de euros, o Barclays com pouco mais de 24,7 mil milhões e o JPMorgan Chase, também com perto de 24,7, de acordo com o relatório.
Para este aumento de produção, a política de anti-desflorestação está ser colocada em causa. O documento argumenta que, as empresas brasileiras de carne, como a Minerva Foods, Marfrig e JBS, estão associadas ao desmatamento, alegadamente porque o financiamento reflete-se em alargamento de novas áreas de produção.
O Bank of America e Rabobank negam qualquer apoio à desflorestação, mas concederam créditos à JBS e à Minerva entre 2015 e 2022.
Já o Barclays reagiu assegurando que as políticas financeiras “foram atualizadas em abril de 2023 para incluir restrições à produção de carne bovina e ao processamento primário em países com alto risco de desmatamento na América do Sul [e exigir que as empresas] respeitem os direitos humanos em todas as suas operações e cadeia de fornecimento”.
A Marfrig desmarca-se de qualquer ligação com o desmatamento, defendendo que “toda a produção passa por auditorias independentes de reconhecimento internacional” com nenhuma inconformidades encontradas nos últimos 11 anos.
Acrescenta que, caso haja corte de financiamento, o desenvolvimento de sistemas alimentares sustentáveis que dependem de novos investimentos “em tecnologia, inovação, assistência técnica e formação, sairão prejudicados”.
O Secretariado Internacional da Carne acredita que as empresas pecuárias “estão muito conscientes da necessidade de se desenvolver e crescer de forma responsável para fornecer a proteína essencial necessária para uma população crescente”.
Defende ainda que o sector da pecuária comercial “procura crescer para apoiar a procura crescente” e está vinculado a “controlos crescentes, regulamentação” e requisitos de responsabilidade social corporativa.
Recomendação: interromper os créditos
O relatório deixa recomendações ao setor bancário e insiste na urgência de medidas para que sejam cumpridas as metas ambientais específicas do setor agrícola.
Entre os planos de acção para alinhar o financiamento com o Acordo de Paris e a Biodiversidade Global, o documento defende "a necessidade de uma transição justa para reduzir produção pecuária e dietas saudáveis sustentáveis com consumo significativamente menor de carne e laticínios".
Acredita a inclusão de políticas robustas para deter o desmatamento e a perda de biodiversidade e reduzir poluição do ar e da água.
Os financiadores devem "interromper todos os novos créditos para empresas pecuárias industriais – começando com as 55 empresas citadas neste relatório, com prioridade para as empresas com maiores emissões, como JBS, Cargill,
Tyson, Marfrig e Minerva".
A Feedback afirma que não devem ser aceites novos empréstimos corporativos ou facilidades em créditos rotativos ou ainda renovação desses tipos de financiamento.