Islamofobia. Muçulmanos na Europa debatem-se com "aumento preocupante" do racismo

2 horas atrás 19

NurPhoto via AFP

Os muçulmanos em toda a Europa estão a enfrentar um "aumento preocupante" do racismo, que está a ser alimentado, em parte, por uma "retórica desumanizante contra os muçulmanos", adverte a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Um inquérito revela que quase metade dos inquiridos muçulmanos afirmam ter sido recentemente vítimas de discriminação.

Publicado esta quinta-feira pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), o inquérito a 9.600 muçulmanos de 13 Estados-membros concluiu que o racismo e a discriminação estão presentes na maioria dos aspetos das suas vidas.

Os inquiridos referem que as crianças são vítimas de bullying na escola, que há desigualdades no acesso às oportunidades de emprego e que existe preconceito quando se trata de arrendar ou comprar casa.

Apesar de o inquérito ter sido realizado antes dos ataques do Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023, que levaram a represálias ferozes em Gaza, a agência sediada em Viena afirmou que as informações das organizações da sociedade civil e das autoridades nacionais sugeriam que o número de incidentes antimuçulmanos tinha continuado a aumentar desde o início do conflito.
“Estamos a assistir a um aumento preocupante do racismo e da discriminação contra os muçulmanos na Europa”, afirmou a diretora da agência, Sirpa Rautio, ao jornal britânico Guardian. “Isto é alimentado pelos conflitos no Médio Oriente e agravado pela retórica desumanizante antimuçulmana que vemos em todo o continente.”

Após os atentados de 7 de outubro, as autoridades esforçaram-se por conter o aumento dos crimes de ódio contra as comunidades muçulmanas e judaicas, desde uma tentativa de fogo posto numa sinagoga em Berlim a dezenas de cartas com ameaças e insultos enviadas a conselhos muçulmanos e mesquitas em França.

A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que falou com muçulmanos na Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Suécia, constatou que 47 por cento dos inquiridos afirmaram ter sido vítimas de racismo nos cinco anos anteriores a 2022, contra 39 por cento em 2016.

“O que vemos é que a situação dos muçulmanos está a piorar”, frisou Vida Beresnevičiūtė, coautora do inquérito. “Está a tornar-se mais complicado viver como muçulmano na União Europeia”.

As taxas de discriminação relatadas parecem estar intimamente ligadas à ascensão da extrema-direita. Na Áustria, onde o Partido da Liberdade (FPÖ), de inspiração nazi e anti-imigração, se tornou recentemente o partido mais votado, 71 por cento dos muçulmanos relataram experiências recentes de racismo. Na vizinha Alemanha, onde o partido anti-imigração Alternative für Deutschland tem vindo a ganhar terreno, 68 por cento dos muçulmanos referiram ter sido vítimas de discriminação. Em todos os 13 Estados-Membros inquiridos, 39 por cento dos muçulmanos relataram discriminação no mercado de trabalho, com 41 por cento a trabalhar em empregos para os quais estavam sobre qualificados.

Um terço dos inquiridos (35 por cento) afirmou ter sido impedido de comprar ou arrendar uma casa devido a discriminação, em comparação com 22 por cento em 2016. “Os fenómenos são generalizados e persistentes”, afirmou Beresnevičiūtė. “O alcance é avassalador.”


As consequências deste racismo foram de grande alcance e duradouras. Os muçulmanos têm mais probabilidades de viver na pobreza, de ser amontoados em habitações sobrelotadas e 2,5 vezes mais probabilidades de ter contratos temporários. Os inquiridos muçulmanos têm três vezes mais probabilidades de abandonar a escola mais cedo do que a população em geral na União Europeia.

As experiências dos jovens muçulmanos são particularmente preocupantes, afirmou Beresnevičiūtė. Mais de metade dos muçulmanos nascidos na Europa (55 por cento) afirmaram ter-se sentido discriminados racialmente quando procuraram emprego nos últimos cinco anos, o que sugere que não estavam a ser tratados de forma igual, apesar de terem as mesmas capacidades linguísticas e qualificações.

É terrível”, frisou Beresnevičiūtė, que observou que muitos muçulmanos relataram discriminação sobreposta, uma vez que se sentiram visados pela sua religião, bem como pela sua cor de pele e origem étnica ou imigrante.

As mulheres que usam vestuário religioso, como o lenço na cabeça, também registaram taxas de discriminação mais elevadas no mercado de trabalho. No caso das mulheres com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos que usam vestuário religioso, a taxa de discriminação registada subiu para 58 por cento.O inquérito divulgado esta quinta-feira segue-se a um relatório do ano passado que revelou que quase metade das pessoas negras inquiridas em toda a União Europeia relataram ter sido vítimas de discriminação e a um inquérito de julho em que quase todos os judeus inquiridos relataram experiências recentes de antissemitismo.

Poucas foram as que sentiram que era benéfico comunicar as suas experiências, com apenas seis por cento a dizer que tinham apresentado uma queixa ou um relatório sobre um incidente recente.


A FRA apelou aos Estados-Membros para que apliquem sanções mais duras para a discriminação e os crimes de ódio, bem como para que recolham dados sobre a igualdade, incluindo sobre a origem étnica ou racial, a fim de permitir aos decisores políticos definir melhores objetivos e acompanhar os progressos. Ao contrário do Reino Unido, a maioria dos países da União Europeia não recolhe dados de recenseamento sobre a diversidade racial ou étnica.
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